LONDRES - À medida que a crise do euro se arrasta, crescem as exigências dos mercados financeiros para que as autoridades encarem os problemas de forma mais efetiva. A curtíssima duração do rali provocado pelos informes sobre o resgate aos bancos da Espanha surpreendeu os analistas e mostrou que os investidores querem soluções profundas para os problemas do bloco, como a introdução de uma união bancária.
O ambiente mostra ainda que os mercados estão amarrados às incertezas trazidas pelas eleições da Grécia no domingo, fato que também determina o apetite limitado por ativos emergentes neste momento. "A América Latina está sendo tratada como um derivado da Europa", afirmou Luis Costa, estrategista do Citigroup em Londres.
O compromisso de injetar até € 100 bilhões nos bancos espanhóis foi insuficiente para efetivamente reativar o procura por risco. Depois do impulso inicial, os investidores voltaram a vender títulos da Espanha, provocando nova pressão sobre os yields. A especulação inclusive se arrastou para a Itália, considerado o próximo elo mais fraco do bloco.
Analistas foram surpreendidos porque imaginavam que o entusiasmo poderia durar mais tempo. Além da falta de detalhes sobre o plano espanhol (como montante exato, fonte e condição dos recursos), o movimento indica que os mercados precisarão de medidas mais firmes para se satisfazer.
A união bancária está no topo da lista. A discussão sobre um supervisor e um seguro de depósitos pan-europeus deve permear os próximos encontros do bloco, ao longo deste mês, especialmente a cúpula da União Europeia, em 28 e 29 de junho. Em entrevista ao Financial Times na publicada na edição de hoje, o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, defendeu que o mecanismo entre em operação já no próximo ano.
Na avaliação de Paul Donovan, economista do UBS, o aspecto mais preocupante da reação dos mercados é a falta de entendimento entre os políticos e os investidores. "Os políticos apenas jogam dinheiro nos bancos espanhóis, mas os mercados querem um compromisso de mudanças estruturais."
Flemming Nielsen, analista do Danske Bank, não imaginava que o alívio com o resgate espanhol duraria tão pouco. "Pode-se concluir que os participantes dos mercados, em geral, não estão impressionados com o progresso para a estabilização feito pela zona do euro", escreve em relatório a clientes.
União bancária
As mudanças estruturais na zona do euro não virão na velocidade desejada pelos mercados financeiros. A união bancária demanda todo o longo processo de negociações e tramitação do bloco. "Os investidores terão decepções, porque o passo das autoridades é sempre mais lento do que o desejado e as medidas em discussão são muito radicais", afirmou Luis Costa, estrategista do Citigroup em Londres.
Na prática, a união bancária significaria uma perda relativa de soberania dos membros da zona do euro, daí a dificuldade de colocá-la em prática rapidamente.
Para Jane Foley, estrategista-chefe de câmbio do Rabobank, a questão da governança é a essência dos problemas da zona do euro. "A Europa não é uma federação como os Estados Unidos, e a união bancária implica que cada país terá de abrir mão de um pouco de soberania", afirmou, destacando que se trata de um projeto de longo prazo.