Ontem foi um dia tumultuado para os mercados brasileiros. O dólar fechou no pico de R$ 1,9910 e a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) caiu 3,59%. Para os analistas ouvidos pela Agência Estado, o movimento foi em grande parte especulativo, motivado pelas notícias do fracasso do leilão de licitação da banda C de telefonia celular, do fraco desempenho da balança comercial e da disputa na própria base aliada no Congresso, motivando realização de lucros. A expectativa é que a situação se estabilize nos próximos dias. No câmbio, o déficit da balança comercial de janeiro, de US$ 544 milhões, decepcionou os investidores. Além disso, ontem apenas uma concorrente cadastrou-se para competir no leilão de licitação da banda C do Sistema Móvel Pessoal (SMP). Assim, mesmo que o leilão não seja cancelado, não haverá ágio, frustrando as previsões de entrada de dólares. A Bolsa acumula dois meses de boa rentabilidade. O acumulado de dezembro e janeiro chega a 33%. Muitos investidores usaram as tensões de ontem para embolsar os ganhos obtidos. Segundo analistas, o discurso do candidato à Presidência da Câmara, prometendo uma CPI para investigar as privatizações foi o pretexto para vender. Os temores de recessão nos Estados Unidos também ajudaram, com a divulgação de novos dados indicando desaceleração da economia um dia após a redução dos juros de 6% para 5,5% ao ano. Mas também vale considerar que os mercados norte-americanos operaram com tranqüilidade. Mais até, tanto a Nasdaq - bolsa que negocia ações de empresas de alta tecnologia e informática em Nova York - quanto o Dow Jones - Índice que mede as ações mais negociadas na Bolsa de Nova York - fecharam em alta. A expectativa do mercado é que as cotações voltem a mostrar o otimismo dos investidores nos próximos dias, com alta na Bolsa e queda no dólar, mesmo que hoje ainda seja um dia mais instável. A base dessa argumentação é que a crise política não é séria e a possibilidade de recessão nos Estados Unidos ainda é menor que de uma recuperação do crescimento. E, de qualquer forma, a economia brasileira está crescendo sem inflação, com as contas do governo equilibradas.
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