A crise econômica ainda não ficou para trás, apesar dos sinais de melhora no mundo todo. A avaliação é do investidor americano James Rogers, ou Jim Rogers como é mais conhecido. "É claro que devemos falar de recuperação global, uns estão indo melhor do que outros e alguns países vão sofrer mais quando outra desaceleração vier", afirmou, em entrevista por telefone, de Cingapura, onde mora atualmente, ao AE Broadcast Ao Vivo. Segundo Rogers, o mundo deve voltar a desacelerar em 2010 ou 2011, dependendo de cada país. O Brasil, segundo ele, deverá sofrer bem menos, mas não deixará de ser afetado.
Rogers foi co-fundador do fundo de investimentos Quantum Fund, nos anos 70, juntamente com George Soros. Em 10 anos, o portfólio do fundo ganhou ao redor de 4.000%, enquanto o S&P 500 valorizou 50% no período. Em 1992, o Quantum Fund se tornou ainda mais conhecido por "quebrar" o Bank of England e forçar a desvalorização da libra, mas nessa época Rogers já não fazia mais parte do fundo.
Para Rogers, o mundo irá desacelerar porque os problemas que levaram à crise não foram resolvidos. "Ainda temos governos imprimindo quantias gigantescas de dinheiro e isso sempre leva a mais problemas. Teremos mais problemas porque dar aspirina para um paciente com câncer não adianta. É preciso tratar a doença, mas o que vemos é que estão tornando os problemas ainda mais graves", criticou.
Para Rogers, assim como não se pode dizer que a crise acabou, não se pode também afirmar com todas as letras que o risco de uma depressão nos EUA não mais existe. "Não chegamos ao fim (da crise). Quando houve a grande depressão, nos anos 30, ela não se tornou uma grande depressão três ou quatro anos depois de a crise começar. Os governo fizeram grandes erros naquela época, estão errando de novo e podemos muito bem esperar que algumas economias fiquem piores nos próximos três ou quatro anos".
Rogers disse que o maior erro dos governos foi tentar evitar a todo custo a falência das instituições financeiras. "Eles deviam ter deixado as falências acontecerem. Normalmente quando há falência, pessoas competentes tomam os ativos falidos, fazem uma reorganização e começam de novo", afirmou. Ele explicou que esse processo é dolorido por dois ou três anos, mas a recuperação tende a ser mais consistente.
O maior erro dos Estados Unidos, segundo ele, foi não ter deixado o mercado se ajustar livremente, preferindo seguir o modelo do Japão, que nos anos 90 se recusou deixar que bancos falissem. "Não funcionou e o Japão até hoje não se recuperou".
A retomada global, segundo ele, deverá levar vários anos. "Talvez a América tenha uma ou duas décadas perdidas. Não haverá uma retomada real tão cedo por lá" avaliou.
Moedas
O dólar está pronto para um rali, avaliou Rogers. Rogers disse que atualmente investe em commodities e em várias moedas, sendo que o dólar não ocupa posição de destaque nesses investimentos. "Porém, tenho hoje mais dólares americanos do que dois ou três meses atrás. Possivelmente haverá um rali do dólar, porque há muitas pessoas pessimistas em relação a ele, eu incluso. Espero ser bastante esperto para vendê-los na hora certa se realmente ele ocorrer", afirmou.
Rogers é um grande entusiasta das perspectivas para a agricultura, que segundo ele, deve ser um dos setores mais estimulantes para investimentos nas próximas duas décadas. Há períodos em que os centros financeiros se dão muito bem. Agora estamos entrando na fase dos bens reais, que será boa para mineiros, fazendeiros e todos aqueles que lidam com esses tipos de bens (naturais)", disse.
Ele destacou os setores de mineração, petróleo e energia. "Tudo será uma questão de apostar no país certo. Se você quiser vender para os Estados Unidos você vai sofrer. Agricultores, por exemplo, serão beneficiados, assim como negócios relacionados à água na China se darão extremamente bem", opinou. O Brasil, disse ele, é um país com boas perspectivas por ter commodities. "O Brasil tem recursos naturais, agrícolas, esses setores com os quais estou mais otimista. Além disso, o Brasil está sendo bem administrado nos últimos anos. O governo fez um bom trabalho."
Rogers disse que não tem investimentos no Brasil, apenas indiretamente, por meio das commodities agrícolas, como açúcar. "Mas não tenho ações ou moedas, porque prefiro esperar mais para ver o que acontecerá no País. Vendi todas ações de países emergentes há alguns anos, com exceção da China, e ainda não voltei a comprar. Devemos ter mais problemas nos próximos dois anos e, se isso se confirmar, aí sim voltarei a comprar de emergentes", afirmou.
Rogers disse que a próxima bolha a estourar será novamente nos EUA e não na Ásia, como preveem alguns. "A próxima bolha será no mercado de bônus dos Estados Unidos. É insano o que está acontecendo lá. Estão imprimindo muito dinheiro e o banco central americano está comprando bônus demais. Isso levará a um desastre. Mas ainda não comecei a vender meus bônus. Continuo observando", afirmou o investidor.
O ex-sócio de George Soros no fundo de investimentos Quantum Fund disse que não segue conselhos de ninguém para fazer seus investimentos. "Não ouço brokers, nem ninguém, senão fico confuso. Sigo a mim mesmo, baseado em minhas leituras e meu pensamento", afirmou.