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Modelo atual do ICMS tem disfunções que afetam a eficiência da economia, diz Appy

Segundo especialista, a guerra fiscal gerada pelo imposto resulta em uma perda de arrecadação de quase R$ 50 bilhões para os Estados

Por Álvaro Campos

O diretor de políticas públicas e tributação da LCA Consultores, Bernard Appy, comentou que o modelo atual de incidência do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) tem uma série de disfunções que afeta a eficiência da economia, prejudica as exportações e tem um efeito muito negativo sobre a arrecadação dos Estados.

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A guerra fiscal é um problema de eficiência econômica, sim. O principal problema do ICMS é a cobrança no Estado de origem. Do ponto de vista da relação custo/benefício, é uma forma extremamente ineficiente de fazer política de desenvolvimento regional", comentou durante o seminário "ICMS e o futuro dos Estados", realizado pela Associação dos Agentes Fiscais de Rendas do Estado de São Paulo, pela FGV e pelo Estadão no Guarujá (SP).

Citando estimativas informais, Appy afirmou que a guerra fiscal gerada pelo ICMS resulta em uma perda de arrecadação de quase R$ 50 bilhões para os Estados. Além disso, quase 50% dos benefícios fiscais são consumidos com custos adicionais de logística. "A guerra fiscal não explora as vocações locais, é o oposto. Nós temos uma estrutura industrial mal alocada no País, com um monte de caminhão rodando à toa", comentou.

Appy explicou que o ICMS tem uma profusão de alíquotas em todo o Brasil, enquanto um bom modelo de Imposto sobre Valor Agregado (IVA) tem apenas uma alíquota. O fato de o ICMS tributar a produção, e não o consumo, é um dos grandes problemas desse imposto.

A redução das alíquotas, ao diminuir os benefícios, geraria um ganho mínimo de R$ 20 bilhões em receita para os Estados, comentou o analista da LCA

Soluções. O especialista comentou que não existe solução boa para a guerra fiscal gerada pelo ICMS, mas que a alternativa apresentada em julho pela União parece ser a melhor opção. Appy apresentou quatro soluções. A primeira é uma súmula vinculante do Supremo Tribunal Federal (STF) que torna inconstitucional qualquer benefício, o que seria catastrófico do ponto de vista das empresas, que veriam suas condições de competitividade radicalmente alteradas de uma hora para a outra. 

A segunda alternativa é o convênio nº 70 do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), que anistia os benefícios irregulares e reduz as alíquotas do ICMS para um nível geral de 4% e cria dois fundos, de auxílio financeiro e desenvolvimento regional. Uma terceira solução é o Projeto de Lei do Senado (PLS) 130, que convalida os benefícios e não vincula nenhuma redução das alíquotas. Appy comenta que isso faria explodir a guerra fiscal, desencadeando uma crise enorme de arrecadação para os Estados.

Por fim, em julho o governo editou a Medida Provisória 683. Ela também cria dois fundos, de auxílio financeiro e desenvolvimento regional, mas diz que os recursos para isso viriam das multas aplicadas pelo projeto de repatriação dos recursos no exterior. Apesar das diferenças entre Estados e União sobre os valores de compensação, Appy acredita que existem alguns fatores que podem favorecer a solução do problema.

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O primeiro fator para incentivar essa solução é justamente o medo da súmula do STF. Além disso, há uma percepção por parte do Estados que a guerra fiscal já perdeu sua eficácia. Também é preciso considerar a atual crise fiscal. "A redução das alíquotas, ao diminuir os benefícios, geraria um ganho mínimo de R$ 20 bilhões em receita para os Estados", comentou o analista da LCA.

Ele aponta, no entanto, que a proposta mais recente do governo tem questões não resolvidas, como o aumento no acúmulo de crédito tributário gerado pela redução das alíquotas. Além disso, o critério de distribuição pelo PIB per capita (recebem mais os Estados mais pobres), não leva em consideração o tamanho da população. Ou seja, dois Estados com PIB per capita parecido, mas com populações de tamanhos extremamente diferentes, receberiam a mesma coisa. 

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