Daniel Vargas, Professor da FGV EESP e da FGV Direito Rio
O Acordo é bom para o Brasil. Abre portas comerciais relevantes. Ganhos potenciais de US$ 11 bilhões ao ano, mais exportações e mais PIB (0,34%, segundo IPEA).
Para a Europa, por sua vez, o Acordo talvez seja fundamental (e não apenas pelos US$ 15 bilhões ao ano). A Europa parou economicamente, envelheceu, ficou ranzinza e chata, e agora ameaça quebrar.
O bloco econômico europeu foi criado há uns 70 anos com 2,5 pilares fundamentais: a Alemanha, a França e o "meio" é o titubeante Reino Unido. Veja agora a situação dos amigos.
A Alemanha está estagnada, a indústria com queda de 12% no PIB em 6 anos, contas públicas no vermelho e na justiça, coalizão verde de Olaf Scholz já pediu para sair e a nova eleição será em fevereiro, com uma direita anti-Europa batendo à porta.
A França está com dívida pública em 6% do PIB (quando UE fixa teto de 3%), governo bloqueado à direita, com Le Pen, e à esquerda--que ganhou eleições parlamentares mas não levou. Juntos, destituíram o primeiro-ministro de Macron, que nem novas eleições agora pode convocar.
E o "meio" que falta? Reino Unido já pulou fora do barco.
Agregue ao cenário 3 novos elementos.
1. A tensão crescente entre EUA e China, que encurrala a indústria europeia com montanha de recursos contra os quais dificilmente conseguirá competir.
2. A chegada de Trump, que promete taxar produtos de fora em 10% ou mais, com impacto previsto de 1,5% no PIB europeu (ABN Amro).
3. A guerra na Ucrânia, que agora entrou em nova fase de mísseis intercontinentais, com alerta de Trump de que Europa precisará aprender a se proteger sozinha...
E mais um inverno chegando: o que vai aumentar consumo de energia e rebater sobre inflação de uma economia já fragilizada e uma população já impaciente.
O que tudo isso significa? Apuros dos bravos... Neste contexto, abrir mercados para o Mercosul pode ser uma "bóia" de respiro para a economia europeia.
O agro de lá (1% do PIB) perderá pouco: há cotas estreitas de exportação. A indústria, por sua vez, poderá aproveitar o mercado de consumo gigantesco e desindustrializado do Cone Sul.
O Mercosul pode salvar a Europa de si mesma?