Em meio ao desafio de diminuir os atritos com o governo brasileiro, o secretário do Tesouro americano, Paul O?Neill, declarou nesta segunda-feira que, com a aprovação do chamado ?fast-track? pelo Congresso de seu país, os Estados Unidos contam agora com o instrumento que precisavam para concluir as negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). O tema consumiu parte da conversa do secretário com o presidente Fernando Henrique Cardoso, que defendeu a negociação de um acordo equilibrado na Alca, capaz de ampliar os mercados para as exportações brasileiras. Ainda nesta segunda-feira, entretanto, o Itamaraty constatou mais um ponto de preocupação no texto do fast-track, que pode aumentar as dificuldades para a conclusão da Alca. Desta vez, trata-se de uma cláusula que prevê o monitoramento das variações cambiais nos países que firmarem o acordo. O fast-track ou Trade Promotion Authority (TPA) foi o mandato concedido pelo Congresso americano para o Executivo concluir acordos comerciais nos próximos cinco anos. Uma vez fechados, o Congresso dos Estados Unidos poderá aprová-los ou rejeitá-los na íntegra ? mas nunca alterar seus termos. ?O presidente (George W.) Bush disse muitas vezes que a prosperidade de todos os povos das Américas está irremediavelmente vinculada?, afirmou O?Neill. ?Com a aprovação do TPA pelo nosso Congresso, o presidente Bush e a administração agora terão o instrumento crucial para concluir a Alca, com aumento do fluxo de bens e de idéias entre nossos cidadãos e com o desenvolvimento das condições econômicas no nosso Hemisfério.? Durante a conversa com FHC, O?Neill mencionou o fato de o Brasil e os Estados Unidos co-presidirem as negociações da etapa final da Alca, a partir de novembro deste ano. Fernando Henrique deixou claro ao secretário americano que a prioridade do Brasil, pelo menos até o final de seu governo, será o fortalecimento do Mercosul. O presidente, entretanto, ressaltou que o País precisa obter a abertura de mercado para seus produtos e que, nesse contexto, a Alca é um objetivo que não será descartado. O desafio, confirme enfatizou, será alcançar um acordo equilibrado, que permita ganhos a todos os envolvidos. Na conversa, FHC e O?Neill não chegaram a discutir os termos do TPA aprovado no último dia 28 pelo Congresso americano. Ontem, entretanto, fontes do Itamaraty confirmaram ao Estado a manutenção de uma cláusula cambial, que havia causado temores na diplomacia brasileira quando foi incluída nas versões anteriores. Além da Alca, o TPA deverá ser a base para o governo americano negociar também a nova rodada da Organização Mundial do Comércio (OMC). Essa cláusula instrui o governo americano a insistir na criação de um ?mecanismo consultivo? entre os países que firmem um acordo comercial com os Estados Unidos. A finalidade desse órgão seria de ?examinar as conseqüências comerciais de movimentos cambiais significativos e imprevistos? e de ?examinar cuidadosamente se algum governo estrangeiro se lançou em uma linha de manipulação cambial a fim de promover vantagens competitivas no comércio internacional?. Ou seja, qualquer variação brusca na taxa de câmbio, como a que vem ocorrendo no Brasil nas últimas semanas, estaria sujeita a uma avaliação minuciosa por esse mecanismo. De acordo com fontes do Itamaraty, a cláusula não é determinativa. Ou seja, o Poder Executivo americano poderá interpretá-la de uma forma mais branda e propor um mecanismo consultivo que seja menos incisivo em relação às políticas cambiais praticadas em cada país da Alca. A preocupação será se o governo americano decidir aplicar literalmente a orientação do Congresso para o tema. O Itamaraty, entretanto, já manifestou sua preocupações com outros dois pontos do TPA, capazes de emperrar as negociações. O primeiro é o que prevê o monitoramento da discussão sobre a abertura comercial de produtos agrícolas sensíveis para os Estados Unidos ? os de maior de interesse do Mercosul ? pelos parlamentares americanos. A outra é a que preserva as leis americanas de defesa comercial.