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Não é hora de baixar os juros, diz Werlang

Por Agencia Estado
Atualização:

O economista Sérgio Werlang, ex-diretor de Política Econômica do Banco Central na gestão de Armínio Fraga - e um dos formuladores da política de metas de inflação que continua em vigor - considera que os índices inflacionários ainda são motivo de redobrada atenção por parte da equipe econômica. Por isso, desaconselha qualquer queda na atual taxa Selic (26,5% ao ano). Entrevistado no programa Conta Corrente, da Globo News, o atual diretor executivo do Banco Itaú, também disse não ter prevenção contra os capitais de curto prazo que estão entrando no País e aconselhou o Banco Central a aproveitar a apreciação do real para reduzir a dívida interna atrelada ao dólar. Índices preocupam "Nós não estamos sequer próximos da meta de inflação fixada para este ano, de 8,5%. De fato a inflação está cedendo, de fato já tivemos uma queda no nível de atividade (econômica) já em março, mas a inflação ainda está muito resistente. A pergunta que temos de fazer é a seguinte: nós queremos um País em que a inflação rode na casa de 10% a 12%, talvez um pouco mais, ao ano, ou não? Minha resposta é não. Por isso ainda não está na hora de baixar a taxa de juros." Efeitos na produção "Você controla a inflação de duas formas, mas em geral com um controle da demanda total da economia. O controle feito através da taxa de juros acaba implicando, mais cedo ou mais tarde, num menor crescimento da economia, que contrabalança as outras pressões que fazem com que os preços subam. Os juros subiram fortemente em outubro do ano passado e só agora em março nós estamos vendo uma reversão na atividade econômica. Este impacto na economia leva tempo. Há outras formas de se combater a inflação, como fazendo corte adicionais nos gastos do governo. Mas este governo já está fazendo um esforço fiscal substancial, muito além do número em si de 4,25% do PIB, que representa o superávit primário deste ano. O esforço é muito grande porque há muitas receitas extraordinárias que contaram para o superávit do ano passado. Então, o esforço adicional este ano está sendo relativamente grande em relação ao ano passado." A política do BC "Seria possível um esforço fiscal ainda maior, com cortes maiores. Isso de fato faria com que a taxa de juros pudesse cair mais rapidamente, sem impacto inflacionário. Mas não parece ter sido essa a escolha do governo, que resolveu cruzar um pouco de política fiscal apertada a uma política monetária relativamente apertada. Ainda assim vamos ter uma inflação bastante elevada este ano, muito acima da meta. Não é uma questão de engessar, ou não. A questão é saber se nós queremos viver num País com uma inflação mais elevada, ou menos elevada." Meta de inflação em país emergente "Eu discordo do ponto de vista de que a política de meta de inflação não dá certo em país emergente. Essa não é a evidência empírica. Nós temos casos de metas de inflação extremamente bem sucedidos em países emergentes, como o caso de Israel, do Chile e do México. Apenas para citar três exemplos de economias que tiveram taxas inflacionárias muito elevadas, que em prazo mais recente tiveram taxas muito acima das que estamos vendo hoje no Brasil. As metas de inflação podem ser aplicadas em países emergentes, ou não. O que se tem que ver é que, em primeiro lugar, nós temos de ter uma política fiscal suficientemente austera para que a política monetária possa ser aplicada com toda a sua eficácia. Este governo parece que está levando bastante a sério a austeridade fiscal, contribuindo para a eficácia das metas de inflação. Acho apenas que as metas deveriam ser um pouco mais realistas. Acho que 8,5% para este ano, parece realmente uma meta audaciosa. Mas, com certeza, o sistema de metas torna o combate a inflação muito menos doloroso do que se não houvesse ele." Centro da meta "O mais importante é que o centro da meta seja escolhido com alguma antecedência e de uma forma que o Banco Central possa realmente atingi-lo com política monetárias que não joguem o País numa enorme depressão. Ou seja, têm de ser números que sejam factíveis de serem alcançados para que, aos poucos, o Banco Central vá ganhando credibilidade e, aos poucos, você consiga fazer sua política monetária eficazmente." Capitais voláteis "Os problemas com fluxos de capitais excessivos aconteceriam da seguinte forma: se por acaso o mundo inteiro resolvesse colocar dinheiro num país, e este país fosse muito pequeno para absorver todos esses investimentos. Nós estamos longe desta situação. Ao contrário, a expectativa de investimentos diretos no Brasil este ano é de uma baixa considerável em relação ao ano passado. Caso houvesse esta enxurrada financeira (de capitais de curto prazo), você teria problemas de apreciação exagerada do câmbio, coisa que não aconteceu. O câmbio está na faixa de 3 (reais por dólar), um número razoável. Outra coisa que não se aplica ao caso brasileiro: o dinheiro que entrou de fato no início foi de curto prazo, mas esse prazo se alongou e você já sente este impacto numa queda considerável da taxa de juros em dólares que se vê aqui no Brasil e nos títulos da dívida externa, mesmo para títulos que vencem a mais longo prazo. De modo que não há que se ter essa preocupação de jeito nenhum. Isso não se aplica ao caso brasileiro. Mas houve economias, como por exemplo a chilena, que adotaram imposto para a entrada de capitais. Se o capital ficasse menos que um certo tempo tinha de pagar o equivalente a um imposto, uma espécie de IOF para a entrada de capitais. Foi um exemplo bem sucedido, o chileno." Estoque da dívida "A meu ver, o Banco Central deveria aproveitar essa oportunidade que nós temos com o real um pouco mais valorizado para diminuir a rolagem dos swaps cambias e dos títulos domésticos em dólares. Nós hoje temos um estoque total de proteção cambial muito grande, que foi vendida pelo Banco Central ao setor privado. Seria uma boa oportunidade de paulatinamente diminuir (esse estoque). O governo já está fazendo isso, porque já está diminuindo. Os swaps cambiais têm sido rolados em 94% quando vencem, mas (o BC) poderia rolar um pouco menos, digamos 85%, 90%, sendo mais rápido nisso. Por quê? Porque uma das fontes da instabilidade que o Brasil ainda tem é que boa parte da sua dívida interna ainda é indexada ao dólar. Portanto, quando o dólar valoriza ou quando o ambiente externo fica mais desfavorável ao Brasil, a sua dívida aumenta, tornando mais cara a conta de juros que você tem de pagar no futuro. É importante diminuir a médio e a longo prazos essa vulnerabilidade. E eu aproveitaria esta oportunidade para deixar o câmbio um pouquinho mais desvalorizado, mas ao mesmo tempo diminuindo essa exposição cambial da dívida interna."

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