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Lemann, Telles e Sicupira: Quem são os maiores acionistas da Americanas que viraram alvo dos bancos

Varejista divulgou no começo de janeiro a descoberta de ‘inconsistências financeiras’ estimadas em R$ 20 bilhões e, oito dias depois, entrou em recuperação judicial com uma dívida de R$ 43 bilhões; empresa trava briga com bancos para conseguir sobreviver

Foto do author Lucas Agrela
Por Lucas Agrela
Atualização:

A Americanas passa pela fase mais difícil de sua história. O executivo Sergio Rial, que assumira como CEO da companhia no começo do ano, deixou o cargo dez dias após sua posse depois de encontrar “inconsistências financeiras” na empresa, estimadas naquele momento em R$ 20 bilhões. O rombo anunciado em 11 de janeiro fez as ações da empresa despencarem na Bolsa de Valores nos dias seguintes, sendo cotadas a menos de R$ 1 cada uma. Oito dias depois, em 19 de janeiro, a companhia entrou em recuperação judicial, em meio a suspeitas de fraude e a uma escalada na tensão entre os principais acionistas da empresa e os bancos, que se revoltaram com as explicações dadas por seus maiores investidores, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira.

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Os três são os empresários por trás do sucesso da Anheuser-Busch InBev, criada em 2004 a partir da fusão da belga Interbrew e da brasileira Ambev. Eles lideram o fundo de investimentos 3G Capital, que não tem participação na Americanas. O investimento na varejista foi o primeiro não financeiro do trio, que ficou na empresa por décadas, até deixar seu controle em 2021.

Logo após renunciar, Rial afirmou que o caso pode ter ocorrido ao longo dos últimos anos, ou seja, quando o trio de investidores, chamados de “acionistas de referência” da Americanas, ainda davam as cartas na empresa. Com a inconsistência financeira de cifra bilionária, a companhia precisa agora se capitalizar, e o investimento de Lemann, Telles e Sicupira, que têm um patrimônio estimado em mais de R$ 160 bilhões, juntos, é uma das possibilidades para tirar a empresa desse entrave. Nos últimos dias, eles divulgaram a intenção de colocar R$ 6 bilhões no negócio, valor considerado pelo mercado como insuficiente. A estimativa é que seria necessário um aporte de até R$ 15 bilhões.

Mesmo com o trio de investidores que pode reerguer a Americanas, a recuperação do negócio pode não dar certo, ou levar muito tempo para acontecer. “Eles não salvarão a empresa se não for viável. São pessoas que não gostam de perder dinheiro. Elas teriam interesse em recuperar a rentabilidade. Mas isso prova que não existem pessoas infalíveis. O que aconteceu é fruto de vários erros em sequência. Quantas pessoas deixaram passar o momento de corrigir os problemas? Essa é a questão. Mesmo com o trio de referência, o tempo de recuperação pode ser grande”, diz Felipe Cima, operador de renda variável da Manchester Investimentos.

Rial destacou o compromisso dos acionistas de referência com o negócio durante uma conferência após sua renúncia como CEO da Americanas. No entanto, destacou que não deve ser a situação resolvida com uma simples injeção de capital. “Não pode ser a solução por si só. ‘Me dá um cheque e tá resolvido’, não é assim”, afirmou.

Em 2021, as Lojas Americanas fundiram suas operações com a B2W, que reúne as marcas Americanas.com, Submarino, Shoptime e Sou Barato. Com isso, Lemann, Telles e Sicupira deixaram de deter mais do que 50% do capital votante do negócio.

A hipótese de uma recuperação judicial já era prevista por especialistas consultados pelo Estadão, uma vez que o apetite do investidor brasileiro por ações de varejistas já estava prejudicado devido ao cenário de redução do poder de compra e alta na taxa de juros. Analistas também afirmam que outros negócios do 3G Capital podem ser afetados pela crise de confiança desencadeada pelo caso de Americanas.

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Para Marcello Marin, diretor financeiro da empresa de contabilidade e gestão Spot Finanças, o rombo nas contas de Americanas pode ter um impacto negativo na reputação das varejistas. “Esse é um caso que estará nos livros de história. A governança é um ponto de atenção no mercado. Agora, as pessoas desconfiam que existam os mesmos problemas em empresas de varejo. Será preciso demonstrar que esses problemas não existem, o que é difícil”, afirma.

Joelson Sampaio, professor de economia da FGV, afirma que o caso é sério e tem impacto direto nos negócios. “Não temos precedentes no Brasil com essa magnitude de inconsistência financeira e isso causa a queda de preços na bolsa de valores. O que precisa ser apurado é a raiz do problema. É preciso saber se foi ética ou técnica, postura ou atitude”, diz.

A situação da Americanas se agravou ainda depois que Lemann, Sicupira e Telles divulgaram uma carta pública em 22 de janeiro, em que se manifestam pela primeira vez desde o começo da crise. Um trecho, em particular, incomodou os bancos: o que sugere que as instituições não teriam se atentando ao rombo contábil, ou seja, teriam parte da culpa.

“Ela (auditoria PwC), por sua vez, fez uso regular de cartas de circularização, utilizadas para confirmar as informações contábeis da Americanas com fontes externas, incluindo os bancos que mantinham operações com a empresa. Nem essas instituições financeiras nem a PwC jamais denunciaram qualquer irregularidade”, afirmou o trio.

A Americanas e os bancos têm travado desde então uma batalha na Justiça. A empresa tenta garantir sua sobrevivência com a liberação de recursos congelados pelas instituições financeiras que permitam a sua operação. A varejista obteve decisões favoráveis, mas a liberação desses recursos vem com restrições e, além disso, os bancos continuam brigando nos tribunais para segurar os montantes que conseguiram capturar.

Procurado, o fundo 3G Capital não respondeu ao contato da reportagem.

Jorge Paulo Lemann

Jorge Paulo Lemann é apontado pela revista Forbes como um dos homens mais ricos do Brasil. Em 2022, ele liderava esse ranking ao desbancar Eduardo Saverin (um dos fundadores do Facebook). Sua fortuna é estimada em R$ 72 bilhões.

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Jorge Paulo Lemann é o homem mais rico do Brasil, de acordo com a revista Forbes Foto: Andre Dusek/Estadão

Lemann é acionista controlador da gigante cervejeira AB Inbev e detém participações em conglomerados como Kraft Heinz e Restaurant Brands International (responsável por negócios como Burger King e Tim Hortons). No Brasil, Lemann tem em seu portfólio Lojas Americanas e São Carlos Empreendimentos.

Marcel Telles

Sócio de Lemann no fundo de investimentos 3G Capital, Marcel Telles possui uma fortuna estimada em R$ 48 bilhões, o que o coloca no ranking da Forbes como o terceiro homem mais rico do Brasil.

Marcel Telles é sócio do 3G Capital junto a Lemann e Sicupira Foto: undefined / DIVULGACAO

Mais afastado do dia a dia das empresas, ele possui também participação de 9% na ClearSale, de análise e prevenção de fraudes.

Beto Sicupira

Beto Sicupira completa o trio de investidores do 3G Capital Foto: AE / Janete Longo

Também sócio da 3G Capital, Beto Sicupira integra o conselho de administração das Lojas Americanas, mesa que compartilha com Paulo Alberto Lemann, filho do sócio. Junto com sua família, Sicupira tem fortuna estimada em R$ 39,85 bilhões.

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