ArcelorMittal, CSN e Ternium devem ser afetadas por tarifa dos EUA; Gerdau pode ganhar com operações

Presidente dos EUA, Donald Trump disse que vai impor taxa de 25% nas importações de aço do Brasil e outros países; medidas podem ser anunciadas ainda nesta segunda-feira, 10

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Foto do author Ivo Ribeiro
Atualização:

As siderúrgicas com grande potencial de perdas na exportação de aço aos Estados Unidos, caso a intenção do presidente Donald Trump de impor uma tarifa de importação de 25% se concretize, são, de um lado, a ArcelorMittal e a Ternium, fabricantes de aço semi-acabado (placas); de outro, a CSN, que vende produtos laminados de alto valor agregado no mercado americano, com material enviado da sua usina em Volta Redonda (RJ) para seu centro de distribuição local. Já a Gerdau pode se beneficiar com esse cenário, segundo avaliações de analistas.

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Procuradas, as empresas e o Instituto Aço Brasil informaram que preferem não se manifestar sobre a potencial imposição de tarifas pelo governo americano antes de serem oficializadas por Trump.

O aço semi-acabado é matéria-prima de muitas siderúrgicas americanas que só fazem produtos laminados, vendidos a vários setores fabricantes de bens como automóveis, eletrodomésticos e máquinas e equipamentos. Por não terem produção própria, recorrem a fornecimento do exterior. Algumas siderúrgicas locais integradas também buscam material para complementar suas linhas de produção. O mercado dos EUA movimenta cerca de 100 milhões de toneladas ao ano entre aço feito localmente e importado.

Pelo sistema de tarifa que vigora até agora, a Seção 232, de 2018, criada no primeiro governo de Trump, o Brasil tem cota de exportação de 3,5 milhões de toneladas ao ano de placas, isentas de impostos. Somando aços acabados, o total beira 4 milhões de toneladas. A dúvida de especialistas ouvidos pelo Estadão é se essa cota permaneceria e se a tarifa seria aplicada sobre o excedente, o que, em parte, amenizaria a situação.

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Das quase 500 mil toneladas de cotas de produtos acabados, quase metade se refere a material vendido pela CSN — aços zincados e galvanizados, que somam 230 mil toneladas. Para folhas metálicas, a cota é de 14 mil toneladas. Com a provável tarifa de 25% sobre esse tipos de aços, a empresa ficará totalmente fora do mercado dos EUA, segundo avaliação de um especialista do setor.

Brasil tem cotas isentas na exportação de 3,5 milhões de toneladas de material semi-acabado (placas) e quase 500 mil de produtos acabados Foto: Sérgio Roberto Oliveira/Estadão

A ArcelorMittal opera duas usinas de placas no Brasil, com produção livre para exportação de até 6,5 milhões de toneladas ao ano. Desse volume quase 5 milhões vão para os EUA abastecer a usina de laminação de bobinas de Calvert, no Alabama, que é uma joint venture entre a companhia e a Nippon Steel. A diferença vai para outros clientes e para usinas do grupo na Europa.

As duas unidades fabris da companhia estão localizadas em Serra, no Espírito Santo, e no Ceará, no complexo industrial e portuário de Pecém. São duas operações estratégicas do grupo, para atender operações próprias no Brasil, Estados Unidos e Europa, além de alguns clientes.

A Ternium tem uma siderúrgica no Rio de Janeiro, adquirida da Thyssenkrupp. A antiga CSA fabrica placas de aço que atualmente atendem usinas laminadoras do grupo no México e Argentina, e exporta excedente para outros países, como Estados Unidos.

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A produção anual fica próxima de 5 milhões de toneladas, mas a avaliação é que atualmente a maioria dos embarques da unidade brasileira é para plantas mexicanas de laminação da Ternium. Segundo analistas, as exportações diretas para os EUA representam cerca 6% dos volumes produzidos pela companhia no México.

No caso da CSN, a empresa tem uma exportação de produtos acabados considerada relevante. Segundo relatório do BTG Pactual, os volumes representam cerca de 20% dos embarques da empresa — em torno de 15% da receita consolidada total e estimativa de 10% do Ebitda consolidado (lucro operacional). O banco destaca que isso mostra alguma exposição ao mercado americano, onde a CSN opera um centro de distribuição, vendendo volumes dentro do sistema de cotas atual.

A empresa está limitada a uma cota anual entre 200 mil e 250 mil toneladas de material de alto valor agregado (zincado e galvalume) enviado pelo Brasil. “Avaliamos que esses volumes sejam impactados por novas tarifas, mas a empresa deve ser capaz de realocar esses volumes facilmente”, afirmam os analistas do BTG. Porém, com a competição de aço chinês importado pelo Brasil, que continua firme, essa realocação não será tão fácil, avalia um executivo.

A Usiminas, aponta o BTG, faz baixo volume de exportação direta para os EUA. Atualmente, seu maior mercado externo é a Argentina. “Ocasionalmente, há alguns embarques para os EUA, mas isso geralmente é mais oportunista”, dizem os analistas. As exportações de aço da empresa sobre as receitas consolidadas totais representam apenas em torno de 5%, informam.

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Gerdau surfa na contramão

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Já a Gerdau vai na contramão desse cenário nada positivo para siderúrgicas brasileiras diante das ameaças de Trump, segundo avaliações de analistas. A empresa informou que não exporta aço para o mercado americano, onde é uma grande produtora de produtos longos e também aços especiais.

Segundo Daniel Sasson, analista do Itaú BBA, se de fato houver aumento das tarifas nos porcentuais anunciados, será muito positivo para produtores em território americano. A Gerdau, em cada aumento de 5% no preço médio de venda, alcançaria alta no Ebitda consolidado para seu portfólio de produtos de aproximadamente R$ 1,4 bilhão.

As operações de aços longos, para indústria e obras de infraestrutura, nos EUA são o segundo maior negócio do grupo Gerdau, depois da divisão brasileira. A terceira é o segmento de aços especiais, material voltado para o setor automotivo pesado (caminhões e ônibus), que conta com duas plantas americanas.

Comércio é favorável aos EUA

No comércio de bens da cadeia siderúrgica entre Brasil e Estados Unidos, a balança pesa a favor dos americanos, disse uma pessoa da diretoria do instituto. Segundo ela, o “trade” do aço é favorável aos americanos em mais de US$ 3 bilhões. O País envia aço semi-acabado na maioria e importa carvão metalúrgico (cerca de US$ 1 bilhão), máquinas e equipamentos e outros bens de alto valor agregado.

A avaliação é que a siderurgia brasileira, como um todo, será afetada, pois é um grande mercado que se fecha a seus produtos, se as medidas se efetivarem. O País é um dos maiores exportadores de aço do mundo, com 9,6 milhões de toneladas despachadas no ano passado, o que gerou divisas de US$ 7,66 bilhões, conforme dados oficiais do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), compilados pelo Instituto Aço Brasil.