BRASÍLIA E SÃO PAULO - Cercado por desconfianças do mercado financeiro por suas operações consideradas muito agressivas, o Banco Master vinha anunciando movimentos de fortalecimento de sua governança corporativa, como forma de melhorar uma imagem abalada. Um desses movimentos foi a criação, em 2023, de um “comitê consultivo”, formado por figuras relevantes da economia e também do Judiciário brasileiro.
Fazem parte atualmente desse colegiado três nomes de peso que já foram do Banco Central (BC): Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda e ex-presidente da autoridade monetária; Gustavo Loyola, também ex-presidente do BC; e Geraldo Magela, ex-secretário-executivo do banco, entre outros nomes.

Também esteve no colegiado o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowski, que abdicou da função para comandar o Ministério da Justiça, a convite do presidente Lula, em 2024. O banco divulgou ainda ter instituído um Comitê de Auditoria, coordenado por Erich Schumann, CEO da consultoria Global Atlantic Partners, de Boston.
O comitê consultivo, porém, não tem função de conselho de administração e nem ingerência sobre o banco. De acordo com um dos conselheiros, que pediu para não ser identificado, foi feito um contrato de consultoria apenas sobre panoramas econômicos com o Banco Master. Os gestores do banco podem pedir a opinião dos participantes quando julgarem necessário, sem precisar levá-la em conta nas tomadas de decisão.
“Não há nada relacionado a um conselho no contrato, e não acompanho o dia a dia do banco”, disse um dos membros do comitê consultivo. Procurado, o Banco Master disse que não iria se manifestar sobre esse assunto.
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Quadros relevantes do Banco Central no passado, esses integrantes têm dito a interlocutores que confiam na análise técnica que será feita pela autoridade monetária em relação ao acordo anunciado na sexta-feira, 28, entre o Banco Master e o BRB, banco estatal de Brasília. Testes de estresse serão rodados sobre as contas do BRB, para simular possíveis cenários de perdas que poderiam acontecer em caso de baixa performance de ativos do Master.
Pelo acordo anunciado, o BRB compraria 49% das ações ordinárias (com direito a voto) do Master e 100% das preferenciais (sem direito a voto), ficando com 58% do capital total do banco - mas sem o controle oficial. O negócio é estimado em cerca de R$ 2 bilhões, e levantou muitos questionamentos no mercado, pela situação financeira desconfortável do Master, que cresceu muito rapidamente com base em operações agressivas, captando, por exemplo, recursos via CDBs que pagavam muito mais que a média de mercado.
O entendimento entre os membros do comitê consultivo é que o BC está apto para se blindar de eventuais pressões políticas em relação ao negócio que possam se originar no governo federal ou por meio do Partido dos Trabalhadores.
Caciques do partido governista estão incomodados com o fato de a operação ter acontecido sob a gestão de Gabriel Galípolo - indicado do presidente Lula para o cargo -, enquanto o problema do Banco Master teria se formado sob a gestão de Roberto Campos Neto, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.