Na última reunião do governo Lula e de Henrique Meirelles na presidência do Banco Central, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve nesta quarta-feira, 8, o juro básico da economia em 10,75% ao ano. Mesmo com a crescente pressão inflacionária, a taxa Selic terminará o ano no mesmo patamar visto desde julho. Por enquanto, o BC entende que é preciso esperar o efeito das recentes medidas de aperto do crédito para avaliar eventual mudança na política de juros. Comunicado divulgado após a reunião mantém aberta a possibilidade de que o governo de Dilma Rousseff pode começar a subir o juro logo no início de 2011."Prevaleceu o entendimento entre os membros do Comitê de que será necessário tempo adicional para melhor aferir os efeitos dessas iniciativas sobre as condições monetárias", cita o texto divulgado após o encontro, ao se referir às medidas anunciadas na última sexta-feira. "Nesse sentido, o Comitê entendeu não ser oportuno reavaliar a estratégia de política monetária nesta reunião", explica o BC.Existiam motivos para a alta do juro, mas o BC optou por esperar mais algumas semanas para iniciar o processo de aperto monetário em 2011, no início do governo Dilma Rousseff. Um dos principais argumentos para manter a Selic é que os alimentos, que têm exercido papel importante nos aumentos, sobem por fatores sazonais como safra e clima. Essa alta, argumenta o BC, não pode ser combatida com juros.Apesar desse discurso tranquilizador, há movimentos mais preocupantes que têm entrado no radar do Copom, como a elevação do chamado núcleo da inflação - preços que têm maior peso no cálculo dos índices - e os reajustes nos serviços. Isso, inclusive, foi um dos motivos para as medidas prudenciais no crédito na semana passada. Nos últimos 12 meses, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumula alta de 5,63%. O patamar está caminhando para próximo do limite máximo do regime de metas, que é 6,5%."Havia fortes argumentos para subir o juro, mas o BC ganhou tempo com a decisão anunciada na semana passada que restringe a oferta de crédito e aumenta o recolhimento compulsório dos bancos, o que vai no mesmo sentido de um aumento de juro", diz o economista-sênior do Espírito Santo Investment Bank, Flávio Serrano.O economista aposta em aumento da Selic já na primeira reunião de Alexandre Tombini na direção do BC, em janeiro. "Vai ser positivo para o novo presidente Tombini que vai reforçar sua credibilidade ao fazer, logo no início de sua gestão, o que precisa ser feito para segurar a inflação". Serrano concorda com a aposta predominante do mercado, que prevê aumento da Selic de 1,50 ponto porcentual no primeiro ano do governo Dilma. Assim, a taxa subiria para 12,25%. Seriam três altas de 0,50 ponto nas reuniões de janeiro, março e abril.A reunião encerrada hoje foi presidida por Henrique Meirelles, mas Tombini participou ainda como diretor de Normas do BC. A partir de janeiro, com a saída do atual presidente do cargo, o economista gaúcho passará a comandar as reuniões do Copom.