O movimento de desaceleração do Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) visto na reta final de 2011 tem potencial para perdurar até, pelo menos, o primeiro semestre de 2012, na avaliação do coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros.
"A trajetória de desaceleração do indicador em 12 meses ainda não foi concluída. Mesmo que não tenhamos nova deflação nos próximos dois ou três meses, a taxa em 12 meses ainda vai desacelerar. É possível que em janeiro já esteja abaixo de 5%", afirmou, em entrevista coletiva nesta manhã para comentar a deflação de 0,12% do IGP-M de dezembro e a alta de 5,10% acumulada em 2011. "Se em janeiro isso não acontecer, fevereiro tem uma chance generosa de ocorrer. Até a metade do ano, o índice deve continuar arrefecendo", completou.
Essa expectativa tem por base a previsão de continuidade do comportamento de baixa dos preços de commodities, que foram os grandes responsáveis pela queda do indicador em dezembro. "O segundo semestre do ano já teve taxas, de maneira geral, menores, embora tenha havido certa pressão do câmbio (na metade do semestre). A queda das matérias primas estava sendo mascarada pela pressão cambial, mas agora não tem mais a barreira do câmbio. O que está predominando é o recuo nos preços das commodities", destacou.
Em boa medida, o movimento do IGP-M acompanha o dos preços no atacado, refletidos no Índice de Preços ao Produtor Amplo - Mercado (IPA-M), que passou de 13,90% em 2010 para 4,34% em 2011, e de 0,52% para -0,48% entre novembro e dezembro deste ano. "Sem a defesa do câmbio, o IPA teve condições de espelhar o cenário de commodities", comentou.
Quadros ressaltou, no movimento recente de virada dos preços no atacado, a participação do minério de ferro, que subiu ao longo do ano, mas agora corrigiu a defasagem em relação às outras commodities. Da elevação de 1,83% em novembro, em dezembro o item teve recuo de quase 7% (-6,96%), liderando as maiores influências negativas do IPA. Quadros explicou que o sistema de negociação dos contratos de minério, de certa forma, descolava a commodity das demais, que são negociadas em bolsa. "Isso está mudando um pouco, com a pressão dos compradores por contratos mais curtos. Mas a mesma coisa que motivou a queda da soja ocorreu agora com o minério", disse.
Quadros afirmou, contudo, ser difícil prever se essa trajetória das commodities vai perdurar ao longo também do segundo semestre de 2012, o que complica também a projeção de inflação para a metade final do próximo ano. "O cenário para o segundo semestre está muito incerto, pois não se sabe em que grau a economia vai desacelerar. Mais para o meio do ano, é uma incógnita", disse. Por sua vez, o desempenho das matérias-primas está atrelado ao próprio comportamento da economia global que, na avaliação do coordenador, não deve sofrer uma ruptura "que mantenha os preços de commodities em baixa por tanto tempo assim".
O IGP-M de 5,10% em 2011 representou menos da metade da variação de 11,32% apurada em 2010. "No ano passado, a expectativa para o final de 2011 era totalmente diferente, era de que a economia mundial fosse se recuperar. A taxa de 2010 não pode ser considerada normal", declarou.