‘Teremos de repassar a inflação nas vendas novas’, diz CEO da Embraer

Para Francisco Gomes Neto, se guerra seguir, Embraer terá ainda de renegociar contratos de vendas já realizadas

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Por Juliana Estigarríbia
3 min de leitura

A expectativa de continuidade acelerada de recuperação da Embraer, prejudicada pelo surgimento no fim de 2021 da variante Ômicron, lida agora com os impactos da guerra na Ucrânia

Segundo o CEO da empresa, Francisco Gomes Neto, um dos grandes problemas seria uma hiperinflação global – um dos possíveis efeitos colaterais do conflito –, que pode levar à necessidade de renegociação dos contratos com clientes para repasse de aumento de custos. 

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Francisco Gomes Neto, presidente da Embraer; segundo Gomes Neto, alta de combustíveis afetará mais os voos longos. Foto: Embraer - 21/10/2020

O executivo, no entanto, ainda acha cedo para estimar a extensão dos efeitos da guerra. Leia a seguir os principais trechos da entrevista. 

O senhor espera um adiamento da renovação da frota pelas aéreas em um cenário de guerra, com aumento do combustível?

O aumento do combustível e as restrições de tráfego aéreo devem afetar mais os voos de longa distância e menos os domésticos, e é nesse segmento que estamos. Apesar do risco, temos o avião mais eficiente da categoria. Já no mercado de cargas, com o aumento do e-commerce, o foco tem sido o avião menor, que transporta mercadorias dentro do País. Estamos pagando com nossos recursos o desenvolvimento do jato cargueiro neste ano.

A Embraer suspendeu os serviços na Rússia. As perdas são significativas?

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Não são significativas. (Os serviços) são de aviões de empresas de leasing, há um pouco de jatos executivos na região, mas já dimensionamos isso tudo, não é relevante.

Existe uma certa apreensão no mercado de que as empresas que não seguirem as sanções impostas por EUA e Europa à Rússia poderão sofrer do lado do investidor por não se posicionarem?

Tem esse lado, mas tem outro mais importante no nosso caso que é o controle de exportação (export control), cláusula nos contratos de fornecimento de peças que obriga o fabricante de aeronaves a cumprir as regras estabelecidas pelo país de origem desses componentes, e isso inclui as sanções dos EUA e União Europeia contra a Rússia. A imagem da empresa perante o investidor é importante, mas o controle de exportações é uma questão de conformidade com as normas internacionais.

Os países têm mostrado certa disposição em investir mais em defesa. Essa traz impacto positivo para a Embraer? 

Nossa expectativa é de que em um cenário de guerra os países resolvam acelerar os investimentos em defesa, e nosso avião cargueiro multimissão é moderno, temos apresentando esse produto nos mercados europeu, asiático, do Oriente Médio. Acreditamos que possa haver algum impacto positivo para a companhia.

As projeções para este ano contemplam um possível cenário de hiperinflação global em 2022?

A hiperinflação não está prevista ali, então temos dois caminhos: neutralizar esse aumento ou parte dele através de redução interna de custos, ou repassar no preço. Por enquanto temos uma situação bem controlada.

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Até que ponto é possível repassar esse aumento de custos aos clientes?

Nossos aviões para este ano estão todos vendidos, e mexer nos contratos nunca é fácil, por isso temos um movimento inicial de tentar compensar (a inflação) com redução de custos. Mas, se esse aumento fugir do razoável, vamos ter de abrir negociação com os clientes, o que não é fácil. Nas vendas novas, teremos de levar em consideração o custo novo.

Em relação ao Brasil, como o senhor enxerga uma possível mudança de governo neste ano de eleições?

Acredito que a companhia sabe e vai lidar com as mudanças que vierem à frente. Em um ano de guerra, não é fácil ser otimista, mas o Brasil tem um grande potencial e vai encontrar seu caminho. 

Parte da retomada da empresa na pandemia vem da expectativa do mercado em relação à Eve. Quais são as expectativas em relação ao IPO?

A inovação faz parte do DNA da companhia, nunca paramos de investir mesmo na crise. Boa parte do nosso faturamento vem de produtos desenvolvidos nos últimos 5 anos. Criamos a Eve (de carros voadores) no meio da pandemia, avançamos em sua estruturação para trazer fundos para acelerar o desenvolvimento do produto, estamos indo bem, queremos listar a empresa no segundo trimestre deste ano.

Como está a situação da dívida da companhia?

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Nossa estrutura de dívida está bem equacionada, conseguimos comprar alguns bonds de 2022 e 2023 com nossos recursos gerados no ano passado. Estendemos o perfil da dívida, o que reduziu seu custo. Estamos tranquilos acerca desse aspecto.  

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