KPMG: fusões e aquisições no setor elétrico sobem 41% em 2024 e batem recorde

De acordo com o levantamento, foram 51 negócios do tipo; sócia da consultoria prevê que 2025 não será diferente

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RIO - As fusões e aquisições no setor elétrico bateram recorde em volume no ano passado, aquecidas pela descarbonização, segurança energética e, principalmente, pela necessidade das empresas se adaptarem à nova realidade de atendimento ao consumidor. De acordo com levantamento inédito da KPMG, as companhias de energia elétrica realizaram, no acumulado de 2024, 72 operações de fusões e aquisições, um aumento de 41% em relação ao mesmo período de 2023, quando foram realizadas 51 operações.

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Esse resultado é o maior dos últimos 30 anos, disse ao Estadão/Broadcast a sócia da KPMG, Franceli Jodas, prevendo que em 2025 não será diferente, já que existe uma tendência de consolidação do setor. “As empresas estão em um momento de renovação de seus portfólios. Então acho que daqui pra frente a tendência será essa”, avalia.

Segundo ela, o ano passado foi marcado por movimentações domésticas no setor de energia. Foram realizadas 50 operações entre empresas brasileiras ao longo de janeiro a dezembro; 12 transações em que empresas estrangeiras compram empresas brasileiras; oito empresas do Brasil comprando empresa brasileira com capital majoritariamente estrangeiro; e duas empresas estrangeiras comprando outras estabelecidas no Brasil.

“Nós temos empresas que estão se posicionando como empresas exclusivamente de energias renováveis, e do outro lado nós temos empresas mais seguras energeticamente, que é o caso da Energisa. Ela tem energia renovável, mas comprou agora uma empresa, a Infra gas, posicionando-se como empresa que dá mais segurança para seus clientes”, explica.

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Principal alavanca foi a inovação e a mudança na estratégia para colocar o consumidor no centro dos negócios, com a aquisição de pequenas empresas de tecnologia  Foto: J. F. Diorio/Estadão

Entre os movimentos para se tornar uma empresa exclusivamente renovável, a executiva destaca Engie, Eletrobras e Copel, que se desfizeram dos seus ativos “sujos” ao longo dos anos, para vender aos seus clientes apenas energia limpa.

“Essa troca mexe muito com o M&A (fusões e aquisições, na sigla em inglês), porque você tenta se alinhar com a sua estratégia. Se a estratégia global ou local é ter uma característica renovável, ela se desfaz do ativo que não é. Em contrapartida, você vê uma J&F adquirindo térmicas a gás, porque eles querem se posicionar como fornecedores de segurança para uma região”, diz.

Inovação

Mas a principal alavanca para o recorde registrado no ano passado, de acordo com Jodas, foi a inovação e a mudança na estratégia para colocar o consumidor no centro dos negócios, com a aquisição de pequenas empresas de tecnologia (startups). Nesse caso, observou a executiva, ou se faz uma grande transformação interna, ou se adquire uma empresa que comece a influenciar a cultura da empresa.

“Se você olhar, todas as grandes empresas compraram pequenas empresas que tem ativos digitais importantes, de tecnologia, que são incorporadas. Todas as empresas tem alguma startaup, ou alguma tecnologia que tem uma carteira de clientes mais extensa, que tem uma plataforma digital que melhora o atendimento ao cliente. As techs de energia estão crescendo muito rapidamente e estão sendo absorvidas por empresas que antigamente eram mais conservadoras, empresas que tiveram mais dificuldade de transformar o seu modelo de negócio”, afirmou.

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A executiva dá como exemplo a Auren, que comprou a AES, uma empresa que estava totalmente descarbonizada, e fez um investimento forte em tecnologia de atendimento ao cliente.

Outro caso é da Eneva, que comprou a Voltta, uma startup de mobilidade elétrica, apesar de ser mais voltada para o gás natural. “Se você olhar, todas elas (empresas do setor) têm um braço de mobilidade elétrica”, disse.

A executiva explica ainda que as empresas do setor elétrico perceberam que ter uma única fonte de energia se tornou muito arriscado, principalmente depois dos casos de “curtailment”, quando o operador do sistema corta temporariamente o fornecimento de energia por não ter como escoar a energia renovável.

“Gerar só solar e eólica é muito perigoso, você precisa ter uma plataforma mais ampla para assegurar o fornecimento de energia no longo prazo. No caso das grandes empresas, elas se comprometem a fornecer energia e podem não ter, porque tem um portfólio muito renovável e pouco despachável. Então tem que garantir essa geração de energia por outro lado”, explicou.

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Para a executiva, daqui para frente as empresas também começam a se preocupar com o atendimento ao cliente, com a competição aumentando à medida que o consumidor final poderá escolher o fornecedor de energia elétrica, um modelo para o qual não estão preparadas.

“Para se preparar, elas estão adquirindo outras empresas, melhorando a área de atendimento ao cliente, investindo muito em tecnologia , comprando outras empresas de energia para melhorar a capacidade de atendimento rápido, ou melhorar para o aumento da demanda que vai ter”, diz. “Estamos passando por uma abertura de mercado e em poucos anos a gente vai poder escolher o provedor de energia, e em algum momento você vai falar para a Enel, não te quero mais e mudar para a Enel do Rio, ou Equatorial, ou outra”, ressaltou.

Para a sócia da KPMG, o posicionamento do presidente norte-americano, Donald Trump, também deve ajudar a alavancar fusões e aquisições no Brasil, principalmente no segmento de energias renováveis.

“O incentivo lá (EUA) era muito forte com Biden (Joe, ex-presidente dos Estados Unidos), e esse fluxo de capitais está aguardando. Estão todos muito chocados com esse movimento americano, a gente entende que a gente vai ter um processo de migração desse investidor, vai olhar a América Latina novamente e dizer, pera aí, eu tenho uma condição de descarbonizar a economia usando ativos no Brasil, que tem um DNA muito verde”, prevê.

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