Inflação mostra pressão difusa e já preocupa há algum tempo, diz HSBC

Para economista-sênior do banco, possibilidade de o BC mexer no juro hoje é mais alta do que a maioria do mercado atribui, mas probabilidade maior é de elevação em janeiro

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Por Nalu Fernandes e da Agência Estado
Atualização:

O ambiente delineado pela inflação é de pressão bastante difusa, o que faz com que a perspectiva para o próximo ano não seja das melhores se nada for feito, avalia Constantin Jancso, economista-sênior do HSBC. Em entrevista ao AE Broadcast Ao Vivo, o analista citou que a possibilidade de o Banco Central mexer no juro hoje é mais alta do que a maioria do mercado atribui, mas acrescentou que é maior a probabilidade de elevação da Selic em janeiro de 2011, por conta de uma certa "liturgia" que tem sido seguida pelo BC.

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A liturgia, como classifica Jancso, é manifestada por sinalização do BC sobre o início do ciclo de aperto para o mercado, com mudança nas palavras do comunicado e também publicação de uma ata "bem mais dura quanto à inflação", compondo uma abordagem voltada para administração de expectativas. "Se esta liturgia for seguida mais uma vez, com base no padrão anterior, seria de se esperar um aumento no mês que vem, em janeiro", avaliou.

O economista-sênior do HSBC salienta, porém, que se os números de inflação fossem olhados "rigorosamente", e comparados ao nível em que estavam no último ciclo de aperto monetário, seria constatado um cenário de inflação "bem mais feio do que no passado". "Eu diria que (a inflação) já preocupa há algum tempo", completou. Hoje, o IPCA de novembro avançou 0,83%, batendo recordes. De acordo com o IBGE, a alta do IPCA de novembro é a maior mensal desde abril de 2005 e também a maior para os meses de novembro desde 2002. "Continuamos vendo bastante pressão sobre a inflação e pressão bastante difusa", citou o analista.

Jancso projeta IPCA em 6,0% neste ano, levando em conta uma elevação em torno de 0,75% na variação mensal do indicador em dezembro, e vê o IPCA em 5,5% em 2011, já incorporando a hipótese de aperto das políticas monetária e fiscal. Segundo a previsão do analista, a taxa Selic deve fechar 2011 em 12,50%, ante o nível corrente de 10,75%. De acordo com este cenário, o ciclo de aperto deve começar em janeiro do próximo ano. Vale observar que a previsão foi revisada recentemente e já contemplava a expectativa do HSBC em relação a medidas adicionais pelo BC, como aumento do compulsório.

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Em comparação ao mercado, continua o analista, o HSBC tem um dos ciclos mais curtos de elevação da Selic. Na revisão recente, a projeção para o início da alta foi trazida mais para o começo do ano, sendo que a expectativa anterior era de aperto em algum momento durante o segundo trimestre. "Mantivemos a ideia de ter um ciclo relativamente curto de só 1,75 pp - de 0,50 pp, depois 0,75 pp e depois 0,50 pp -, pois já era esperado que o governo pudesse avançar em outras áreas como aumento de compulsório, como tivemos recentemente...(dentro das) medidas mais quantitativas para segurar a expansão do crédito", afirmou.

Na reunião do Comitê de Política Monetária de hoje, em período de transição de governo federal e de presidente do BC, Jancso acredita que os membros do Copom "vão trabalhar ao máximo para sair com uma visão consensual" no que diz respeito ao placar de votação. A ata do encontro, estima ele, certamente trará sinalização sobre uma alta do juro que deve vir em janeiro e é possível que o mesmo seja feito também no comunicado que será divulgado após a reunião de hoje.