Marca de US$ 300 bi das reservas reacende debate sobre compra de dólar

Política ajuda a reduzir o risco externo do País e é usada pelo governo para conter a valorização do real, mas tem custo elevado devido à diferença entre os juros praticados no Brasil e no exterior

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Por Fabio Graner e da Agência Estado
Atualização:

As reservas internacionais brasileiras encostaram hoje na marca histórica de US$ 300 bilhões, reavivando o debate sobre os limites da política agressiva de compra de dólares que vem sendo implementada pelo Banco Central. A estratégia de aumento constante das reservas, embora tenha como consequência evidente uma redução no risco externo do País, de fato obedece ao objetivo do governo de conter a tendência de valorização do real.

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Mas essa política também tem um custo, dado pela diferença entre os juros praticados no Brasil e no exterior. É que, ao comprar dólares, o BC se endivida em reais, cuja taxa de juros é hoje de 11,25% e ainda vai subir. Ao mesmo tempo, aplica os dólares na sua maior parte em títulos do governo americano, cuja taxa é um pouco superior a 3%. Os cálculos diferem entre os economistas, já que os custos internos e externos variam ao longo do tempo e também pesa o fator câmbio. De qualquer forma, uma estimativa simples colocaria o custo na casa dos US$ 20 bilhões por ano, além da elevação do estoque da dívida pública.

O governo argumenta que a discussão do custo não pode ser desvinculada dos benefícios que a atual política traz. Afinal, o desempenho do País na crise, com redução da dívida líquida do setor público no momento em que o dólar disparou e rápida recuperação da atividade econômica, mostram que vale a pena ter este seguro. Mas este argumento pode fortalecer a tese dos que não veem mais sentido em seguir reforçando o colchão de dólares do governo. Afinal, se usando apenas pequena parte do montante de cerca de US$ 200 bilhões que estavam guardados em 2008, o Brasil pode sair da maior crise em 80 anos, qual a necessidade de se ter mais reservas e impor um custo fiscal? O governo não dá essa resposta.

O ex-diretor do BC Carlos Thadeu de Freitas entende que continuar comprando dólares e aumentar as reservas a partir do atual nível é uma política de "enxugar gelo". "Quanto mais aumenta as reservas, menor a percepção de risco e maior o incentivo à entrada de dólares,exatamente em um contexto em que se quer evitar o ingresso de moeda estrangeira", disse Freitas.

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Ele entende que apesar de todo o esforço do governo, não se pode mudar a tendência de valorização do real. Por isso, a alternativa seria deixar a moeda americana cair ante o real, o que, por sua vez, ajudaria o Banco Central na tarefa de recolocar a inflação na meta. Freitas reconhece que a valorização do real teria impacto negativo nos exportadores, que poderiam ser compensados por medidas de natureza tributária. Na visão do economista, a atual política econômica trabalha com meta de inflação e de câmbio, o que pode ser problemático. "Quem olha para várias coisas, acaba não acertando nada", disse.

O estrategista-chefe do banco WestLB, Roberto Padovani, afirma que a alternativa que o governo tem para a atual política de acumulação de reservas é o tão falado e já praticamente consensual controle fiscal de qualidade, além de promover políticas regulatórias favoráveis, que elevem a capacidade de crescimento econômico.

O economista entende que o Brasil hoje precisa buscar poupança externa para dar conta de sua expansão, o que gera ingressos de capitais externos e valorizam o real. "A saída é aumentar a poupança doméstica. E quem tem condição de fazer isso é o governo, já que as empresas já poupam e as famílias, como em média têm renda baixa no Brasil, não têm como fazê-lo", afirmou. Padovani acrescenta que um ajuste fiscal ajudaria a reduzir os juros. 

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