Blusa Balmain com blazer Paulo Camargo. Calça Mixed e sandália por Alexandre Birman. Bolsa Chanel. O “look do dia” que a médica carioca Andreia Frota, dona de uma clínica especializada em injeções faciais frequentada por famosos e endinheirados na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, usa para trabalhar não raramente custa mais de R$ 10 mil. Ela faz parte de um grupo de brasileiros que, impedidos de viajar para o exterior por causa da pandemia de covid-19, passaram a gastar bem mais com produtos de luxo por aqui.
É uma tendência que se reflete nos números. A Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) calcula que as vendas nos centros comerciais em geral estavam 16% menores na semana de 12 a 18 de julho, em relação ao mesmo período de 2019, antes da pandemia – o que evidencia que o varejo como um todo ainda luta para se recuperar do baque sofrido no ano passado. Enquanto isso, os shoppings de luxo comemoram dados bem diferentes e colocam planos de expansão em marcha.
A JHSF, empresa do shopping Cidade Jardim, do Catarina Fashion Outlet e de outros empreendimentos voltados para a altíssima renda, apurou vendas 50% maiores com lojistas nos meses de maio, junho e julho, em relação ao mesmo período de 2019. Entre as marcas internacionais, o crescimento chega a superar 100% em relação ao período pré-pandemia.
Robert Harley Bruce, diretor-presidente da JHSF Malls, diz que o consumidor de alta renda é ansioso por tendências e novidades. “Inegavelmente, o segmento descolou do restante da economia”, avalia.
A concorrência vive cenário parecido. No maior grupo de consumo “premium” do setor no País, o Iguatemi, as vendas tiveram “ritmo de Natal” a partir de maio, após a segunda onda da pandemia, conta Cristina Anne Betts, diretora financeira e de relações com investidores da empresa. Na primeira reabertura do setor, no ano passado, os consumidores retornaram aos shoppings ainda reticentes – passavam pouco tempo nos centros comerciais, que operavam em horário restrito.
Nesta reabertura de 2021, porém, o cenário foi diferente. “Os consumidores estão mais acostumados com os protocolos de segurança. Além disso, retornaram para a vida cotidiana: não estão mais na casa de praia ou de campo, estão nas próprias casas, com os filhos frequentando a escola presencialmente. É um quadro de mais normalidade que contribui para o consumo de artigos de luxo”, diz Cristina, que a partir de janeiro se tornará CEO do Iguatemi, substituindo Carlos Jereissati.
Segundo fontes do setor ouvidas pelo Estadão, a vantagem para os shoppings se configura porque esse público não está gastando apenas perto de casa o dinheiro que deixaria nos outlets ou lojas de luxo lá fora, mas também parte do que seria destinado a outros itens ligados ao turismo, como restaurantes e passeios.
A médica carioca Andreia diz que, com o real desvalorizado, passou a ser desnecessário esperar uma viagem para comprar o item de luxo que pode ser consumido hoje. “O dólar e o euro mais altos reduziram a vantagem de comprar as marcas diretamente no exterior. Não faz mais tanta diferença”, afirma a médica, frequentadora do shopping Village Mall, o principal de marcas de luxo no Rio e vizinho a seu consultório. “É melhor ir na Chanel aqui do lado do que consumir numa viagem.”
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