Rastreamento de clientes em lojas abre debate sobre privacidade

Redes de varejo usam dados para colocar em prática tecnologias como a que permite que cliente pague sem passar pelo caixa

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Por Patrick Sisson
Atualização:

Jordan Fisher estava preocupado. As latas do energético Red Bull, mesmo que de sabores diferentes, têm embalagens muito semelhantes. Com isso, o sistema de câmeras de sua empresa, que rastreia os produtos que os clientes pegam nas lojas, tinha dificuldades para distingui-los.

Esse foi um obstáculo que a Standard AI enfrentou ao reformar uma loja de conveniência da rede Circle K, no Arizona, com um software de visão de computador que rastreia os itens que os clientes pegam para “escanear” no próprio telefone, evitando a fila do caixa. 

Loja da Amazon Go, em Seattle; varejista americana criou conceito de loja sem caixas e com sensores espalhados pelo espaço Foto: Lindsey Wasson/Reuters

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Uma rede de mais de 100 câmeras identifica qualquer um das milhares de barras de chocolate ou latas de bebida por meio de uma combinação de projeções geométricas e câmeras de alta resolução.

Esse rastreamento da atividade do consumidor dentro da loja é parte de um esforço crescente para usar a coleta de dados para tornar os imóveis comerciais mais eficientes.

“A nossa ferramenta é excelente, mas isso é só a ponta do iceberg”, disse Fisher, o presidente da Standard AI, que aprimora a precisão das câmeras em ambientes de alto volume e densidade.

Embora o e-commerce tenha crescido muito nos últimos anos, as compras presenciais ainda são muito populares. A Amazon investiu US$ 13,4 bilhões na Whole Foods e no desenvolvimento do sistema que permite que os clientes saiam das lojas sem passar pelo caixa, sendo cobrados automaticamente.

As camadas adicionais de tecnologia em lojas e locais de entretenimento – câmeras de rastreamento de multidões, informações obtidas em smartphones ou contagem do tráfego – tentam trazer para o mundo físico a profusão de dados já comum na internet.

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Mas os defensores da privacidade já alertam para perigos. O testemunho no Congresso de Frances Haugen, ex-funcionária do Facebook, intensificou pedidos por novas regulações para controlar os gigantes do Vale do Silício.

Sem uma lei federal de privacidade, os varejistas precisam analisar as inúmeras regras estaduais e municipais, diz Gary Kibel, sócio do escritório de advocacia Davis + Gilbert. O sistema de inteligência artificial da Standard AI não captura rostos, então estes não podem ser analisados com tecnologia de reconhecimento facial.

Serviço

A WaitTime, startup de contagem de multidões apoiada pela Cisco Systems, é usada em locais como o Dodger Stadium e o Melbourne Cricket Ground, na Austrália. Na Arena FTX, onde o Miami Heat joga, as mensagens da WaitTime informam não apenas onde encontrar comida e bebida, mas também a extensão das filas. No mercado atual, “dados eliminam riscos”, disse Ken Martin, diretor executivo de vendas globais da Cisco, acrescentando que a tecnologia de rastreamento de multidão pode garantir um alto retorno sobre o investimento.

Há quem duvide, porém, das promessas de ganhos. “Sou fã da tomada de decisões com base nos fatos, mas há muitos charlatães que prometem coisas que não são razoáveis”, disse Mark A. Cohen, diretor de estudos de varejo da Columbia Business School.

De olho no cliente

Câmeras inteligentes Sistemas de câmeras de alta tecnologia conseguem identificar cada código de barra de todos os itens de lojas de conveniência – assim, o consumidor pode ter o conforto de simplesmente pegar o que deseja e sair

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Controle de multidões Além de redes de varejo, uma série de locais de entretenimento usa ferramentas de contagem de multidão para informar clientes sobre filas e locais de compra de comida

Cuidados Em um momento deescrutínio sobre o poder das gigantes de tecnologia, rastreamento levanta preocupações sobre a privacidade das pessoas

TRADUÇÃO DE ANNA MARIA DALLE LUCHE

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