O saldo comercial da indústria de transformação deverá atingir este ano o pior resultado de sua história, conforme a perspectiva da Confederação Nacional da Indústria (CNI), apresentada há pouco. Pela estimativa da entidade, o saldo será negativo em US$ 51,1 bilhões, superando, portanto, o déficit de US$ 33,5 bilhões visto no ano passado e que já foi recorde negativo.
Nos últimos anos, o saldo comercial passou a ficar no vermelho em 2008, como reflexo da crise financeira internacional. Naquele ano, as compras externas superaram as vendas em US$ 6,2 bilhões e, em 2009, em US$ 7 bilhões. Em 2006 e 2007, porém, a balança comercial do setor manufatureiro ainda era positiva, chegando a US$ 30,4 bilhões e US$ 19,5 bilhões, respectivamente. "O desempenho (que vinha caindo), que era uma tendência que se delineava antes da crise, se intensificou na crise", comparou o gerente-executivo da Unidade de Política Econômica da entidade, Flávio Castelo Branco.
Notadamente as perdas principais da indústria brasileira no comércio exterior se devem aos países asiáticos. "Temos uma competição muito acirrada, muito ferrenha dos produtos da Ásia. Tanto nos mercados internacionais quanto crescentemente no mercado doméstico", comentou.
Segundo o economista, a projeção de déficit está associada, em parte, a mudanças na economia mundial, mas principalmente à variação cambial. "De 2005 para cá, a valorização (do real) foi de mais de 35% e não foi mitigada por mudanças sistêmicas que compensassem, como na burocracia, encargos e uma série de outras variáveis. Não tivemos essa contrapartida", avaliou.
Para ele, é impossível obter essa diferença por ganho de produtividade interna. Por isso, o número de exportadoras brasileiras vem se reduzindo ano a ano, na avaliação do profissional. "A balança ainda é superavitária por conta das commodities, mas o setor manufatureiro é crescentemente negativo", finalizou.