No exterior, fintechs conquistam mercado e ditam tendências para o futuro

Iniciativas nos Estados Unidos e em países da Europa e Ásia têm ao menos uma coisa em comum: vontade de resolver as dores dos clientes

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Por Redação
5 min de leitura

Não é nenhuma novidade que o setor financeiro tem sido alvo de ecossistemas que buscam inovação para automatizar e facilitar serviços. As famosas fintechs, que unem finanças e tecnologia, têm ganhado cada vez mais destaque no mercado brasileiro e atraído investidores. Segundo dados da Distrito, em 93 rodadas de captação realizadas até julho deste ano, empresas do setor levantaram US$ 2,6 bilhões, cifra que representa três vezes mais do que a das startups do setor imobiliário, as segundas colocadas da lista.

Mas não é só no Brasil que o setor de fintechs e bancos digitais está aquecido. Empresas ao redor do mundo têm apresentado bons resultados e vêm transformando o mercado financeiro. Segundo Adrian Kemmer Cernev, professor da FGV Eaesp, as iniciativas nos Estados Unidos ou em países da Europa e Ásia têm ao menos uma coisa em comum: vontade de resolver as dores dos clientes. 

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"É algo muito usado no ecossistema de startups que significa não só alcançar as expectativas e necessidades dos clientes, mas realmente resolver alguns problemas que eles não conseguem resolver nos sistemas e instituições tradicionais", diz. Isso quer dizer que o que vai diferenciar essas empresas das brasileiras são as dificuldades das pessoas, que podem variar em cada localidade. 

Nos Estados Unidos, a presença de polos tecnológicos, como o Vale do Silício, contribui para avanços no setor com o uso de tecnologias que não necessariamente são utilizadas por empresas e instituições financeiras. "Existe uma forte aproximação do mundo das startups com as instituições de ensino estaduais, como a Universidade da Califórnia em Berkeley e outras tantas que ficam próximas à região de São Francisco."

Outro ponto importante para o país é a presença forte de profissionais qualificados, além da disposição de recursos financeiros e humanos. "Existe uma cultura empreendedora e não é raro encontrar um grupo pioneiro trabalhando em conjunto com universidades, seja em laboratórios de pesquisa, seja porque os donos são alunos egressos ou seja porque querem captar talentos dessas instituições." 

Analisando o mercado, uma das empresas que ganharam destaque nos EUA é a Square, que produziu um dispositivo que se acopla ao aparelho celular e permite a realização de pagamentos com leitura magnética do cartão de crédito. "É uma tecnologia muito disponível nos Estados Unidos e que, no Brasil, não costumamos usar em função do excesso de fraudes." Essa iniciativa mirou em estabelecimentos pequenos, principalmente por conta dos altos preços dos aluguéis das máquinas de cartão. No Brasil, isso também é um problema, mas, por questões de segurança, fintechs como Stone e PagSeguro acabaram investindo em outras soluções.

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No mercado da Ásia, mesmo a Índia tendo um mercado forte, a China ganha destaque pela grandeza dos serviços. "O Banco Central Chinês estava preocupado com o fato de que boa parte das transações era realizada em dinheiro e isso precisava ser digitalizado por questões de eficiência econômica e redução de custo social da moeda em papel", explica o professor da FGV. Para o país, a problemática em relação ao uso de cartões era a evasão de recursos para o exterior com o pagamento de royalties para as operadoras. 

"O Banco Central Chinês muito claramente incentivou a emergência de modelos de pagamento digitais, mais especifi-camente o modelo de mobile payment, ou seja, sai o dinheiro e entra o pagamento via celular." Com a disponibilidade tecnológica e a cultura chinesa do uso do celular, o incentivo foi bem-sucedido, mas acabou tendo um efeito colateral: a criação de um oligopólio de pagamentos. 

"Sabemos que o setor bancário é concentrado no mundo todo. Isso não é novidade e na China também não é diferente. Mas o país, buscando evitar os pagamentos com cartão de crédito, incentivou a criação de serviços que não são interoperáveis." Na prática, não há como outras empresas trabalharem em conjunto, pois há uma disputa direta pelos serviços. Atualmente, os dois grandes players no mercado chinês são o Alipay, do grupo Alibaba, e o WeChat Pay.

Essa dificuldade de interação entre os serviços financeiros na China serviu de alerta e inspiração para o Banco Central do Brasil promover e operar o Pix. Segundo Adrian, o Pix permite a plena interoperabilidade de todo o sistema bancário de pagamentos e, dessa forma, se uma gigante da tecnologia chegar ao mercado brasileiro, ela se torna apenas mais uma em um sistema que já está enraizado.

Na Europa, o mercado acaba sendo um pouco fragmentado, explica João Zecchin, cofundador da Fuse, gestora carioca de venture capital. "Como temos várias jurisdições diferentes no continente, as soluções são bastante distintas das soluções brasileiras e norte-americanas. Temos ali países diferentes, com regulações diferentes. Existe o mercado comum europeu, claro, mas cada país tem certa independência de regulação. Agora, temos ainda o Reino Unido, que está fora da zona comum, o que traz ainda mais particularidades."

Segundo o especialista, por conta dessa característica do mercado europeu, as fintechs que mais cresceram foram aquelas que focaram em internacionalizar o cliente. Dois grandes nomes são a Wise (antiga TransferWise) e a Revolut, ambas sediadas em Londres. "As duas começaram com câmbio e, então, migraram para serem bancos digitais com muito foco na internacionalização do cliente, com uma conta que o serve globalmente."

Pagamentos internacionais

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Facilitar pagamentos e transações financeiras é uma das principais preocupações das fintechs e bancos digitais. Ao redor do mundo, essas empresas criam soluções de acordo com as particularidades de cada país. Chips e aparelhos que permitem pagar com aproximação causam receios, especialmente em locais com alta taxa de criminalidade. Para aumentar a segurança dos pagamentos sem contato na Ásia, a Mastercard, em parceria com a Idemia e a MatchMove, criou um cartão biométrico piloto, que usa a impressão digital para autorizar transações em terminais de pagamento.

A única diferença desse cartão é a inclusão de um sensor. O cliente realiza o cadastramento biométrico e as informações ficam armazenadas no cartão. Para funcionar, o cartão utiliza a energia da máquina de pagamentos e a autenticação é feita encostando o dedo no sensor. E a tendência, segundo estudo feito pela Mastercard, é de que os consumidores optem por transações sem toque e queiram utilizar menos cédulas, mesmo com o fim da pandemia. Outra tecnologia que visa facilitar essas transações sem contato é o pagamento por reconhecimento facial, que é capaz de autenticar a identidade de uma pessoa escaneando o rosto dela com uma simples câmera USB. Essa inovação vai permitir que os consumidores façam compras mesmo sem ter em mãos cartões, dinheiro ou celular. Na China, já existem lojas que, em parceria com a Alipay, oferecem esse serviço chamado de Smile-to-pay (sorria para pagar, em inglês). O cliente entra na loja, pega o produto e, no caixa, tira uma foto sorrindo para concretizar com sucesso o pagamento.