Novo caça brasileiro começa a alçar voo

Primeiro Gripen NG/E, comprado da SAAB, deu início ao seu período de testes na Suécia

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É o começo do verão em Liköping, sul da Suécia. A temperatura média é a típica do norte da Europa nessa época do ano, não passa dos 21 graus e pode despencar até os 8 graus no mesmo dia – é lá, bem perto da cidade do século 13, que há duas semanas está fazendo voos de teste o primeiro Gripen NG/E 39-8, novo caça de múltiplo emprego comprado do grupo aeroespacial SAAB pela Força Aérea do Brasil. Ainda não é a versão da FAB. Essa, que de certa forma incorpora especificações mais avançadas do que as definidas pelos suecos, só decola em 2019. 

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Nesse mesmo ano, em julho, será recebido pelos militares do Grupo Fox – encarregado da implantação do supersônico no País – o primeiro avião com os requisitos brasileiros. Talvez seja o último jato de combate e tecnologia avançada comprado no exterior para a aviação militar. O programa, segundo analistas internacionais, também abre a possibilidade do Brasil disputar negócios de até US$ 370 bilhões, segundo o Centro de Estudos da Defesa, de Londres. 

A partir da próxima década, esse mercado será dominado por cinco protagonistas – Estados Unidos, Rússia, China, Suécia e Índia –, com a entrada de novos participantes, como Coreia do Sul, Japão e Turquia, de acordo com o analista britânico Alex Stephenson. O contrato atual, de US$ 4,7 bilhões, prevê amplo acesso a informações técnicas, capazes de dar a agências do governo, como o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), e a complexos industriais, como a Embraer, a capacidade de conceber uma aeronave de combate de alto desempenho em dez anos. 

Estudo da consultoria inglesa PwC define que as atividades ligadas ao projeto poderão gerar 2,2 mil empregos diretos no setor aeroespacial, “e mais 14.650 postos de trabalho, incluindo outros setores da economia”, diz o gerente de offset na Comissão Coordenadora Aeronave de Combate (Copac), capitão Gustavo Pascotto. Segundo o oficial, “o valor financeiro de todas as contrapartidas financeiras estabelecidas na transação sueco-brasileira supera os US$ 9 bilhões – mais que o dobro do valor da compra”.

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Todavia, a previsão é de que só por volta de 2050 haja necessidade de trocar a frota que está nesse momento em formação. Até lá, os F-39, como serão chamados os Gripen na FAB, vão passar ao menos por dois ciclos de modernização. O primeiro lote, de 36 unidades, terá sido suplementado por outras encomendas, já então atendidas pela fábrica da Embraer Defesa e Segurança (EDS), em Gavião Peixoto (SP). O número total pode chegar a cerca de 150 aeronaves.

O projeto, executado pela EDS, parceira da sueca SAAB na empreitada, tem viés de faturamento futuro, por meio da capacidade de levar a indústria aeronáutica brasileira a disputar um mercado do tamanho de 4 mil a 5 mil caças que estarão sendo adquiridos no mundo inteiro – fora os Estados Unidos – nos próximos 30 anos. 

Mas não vai ser preciso esperar tanto para tratar dos aspectos comerciais da operação. Segundo o presidente da Copac, brigadeiro Márcio Bruno Bonotto, a Saab quer realizar ações de marketing para novos clientes, demonstrando a configuração com o WAD, painel de tela única de 16 polegadas, exclusivo da variante do Brasil. 

Segundo Bonotto, “as ações bilaterais de cooperação preveem a possibilidade de que empresas nacionais façam parte da cadeia de suprimentos do Gripen NG/E”. Mais que isso. O modelo biposto, de dois lugares, é uma exigência apenas do programa da FAB. Servirá para treinar pilotos, mas também atenderá à demanda em ataques especializados, mais sofisticados. Serão construídos oito, sete deles totalmente montados pela Embraer Defesa e Segurança. Eventualmente, chegarão ao mercado externo como um produto binacional.

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