Os bancos privados brasileiros estão animados com o novo crédito consignado privado, que o governo pretende lançar em breve. O setor vê a possibilidade de que o novo formato expanda a carteira do produto em até quatro vezes nos próximos anos, com um efeito similar ao que o Pix teve no mercado de pagamentos. No entanto, rejeitam a ideia de impor um teto para as taxas, o que, segundo eles, excluiria milhões de potenciais clientes.
“Eu disse ao presidente (Lula) que esse produto pode ser, para o crédito, o que o Pix foi para o mercado de pagamentos”, afirmou o presidente do Santander Brasil, Mario Leão, em entrevista a jornalistas na quarta-feira, 5. Ao lado do Itaú Unibanco, a instituição detém dois terços do atual consignado privado, produto que tem R$ 40 bilhões em carteira, apenas 6% do mercado de consignado.
Os bancos privados e a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) se reuniram na semana passada com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para discutir o produto. O projeto do governo é utilizar a base de dados do eSocial, sistema em que as empresas informam à Receita os dados dos contratos de trabalho dos empregados, para fazer a averbação, que é confirmação de garantia do consignado.
Hoje, no consignado privado, esse processo não é centralizado. Para oferecer o produto, os bancos precisam firmar convênios com as empresas. A pulverização dos trabalhadores formais no País aumenta os custos da empreitada e reduz o alcance, o que o setor e o governo veem como o principal entrave para que o consignado privado cresça mais.

“Eu acho uma superoportunidade, pode vir a ser um programa de crédito para o País muito forte, muito positivo”, disse o presidente do Itaú, Milton Maluhy, na quinta-feira, 6. Sinalizações positivas também foram dadas por Bradesco, Inter e Pan, que veem no produto uma oportunidade de crescer a carteira sem ampliar tanto os riscos.
Operadores do setor ouvidas pelo Estadão/Broadcast afirmam que o novo consignado pode ser um bom negócio para os bancos ao atender públicos que hoje não têm garantias a oferecer e que, por isso, são mais arriscados (e caros). Segundo executivos, um quarto da atual carteira de crédito pessoal, algo em torno de R$ 81 bilhões, foi concedido a trabalhadores com carteira assinada.
“Estamos bem animados com o potencial do consignado privado, obviamente faltam algumas definições”, disse o CEO do Banco Pan, Carlos Eduardo Guimarães, ressaltando que o produto pode fazer o mercado se multiplicar por “três ou quatro vezes”. A expectativa do executivo era de que o novo consignado privado remodelado fosse lançado em 2024, pois o governo já vem discutindo o produto há mais de um ano. Agora a aposta é que venha ainda neste semestre.
Sem teto
Um ponto de discórdia entre os bancos e o governo diz respeito às taxas do novo produto. O Ministério do Trabalho, que ficaria responsável pela gestão do consignado privado, defende a fixação de um teto de juros mensais, aos moldes do que existe no consignado do INSS. Os bancos são contra e afirmam que, com um limite de juro, o efeito esperado de ampliação de crédito pode não acontecer.
O presidente do Bradesco, Marcelo Noronha, disse nesta sexta, 7, que um teto acabaria por penalizar trabalhadores de empresas pequenas ou com pouco tempo de serviço, que apresentam um risco maior de perder o emprego. “(No consignado do) INSS ou servidor, o risco é da União. Quando eu entro em uma empresa, tem de avaliar a empresa, e depois eu avalio o indivíduo”, afirmou.
“O teto inviabiliza a escala do produto”, disse o CEO do Pan, citando que os trabalhadores do setor privado possuem diferentes perfis e riscos, dependendo do cargo e do tipo de empresa, diferentemente do INSS, de perfil mais homogêneo.
“Em nossa visão, a aceleração do produto dependeria da manutenção das taxas atuais (sem a imposição de teto), do desenvolvimento de um sistema adequado e confiável de garantias, e do uso do eSocial como ferramenta de originação e controle”, disse em relatório o analista do Citi, Gustavo Schroden. Pelos cálculos dele, o consignado privado tem hoje taxas de 3% ao mês.
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Os bancos também discordam da ideia de restringir a oferta do crédito ao aplicativo da Carteira de Trabalho Digital, ventilada pelo governo. A Lula, ponderaram que as plataformas de cada banco recebem milhões de acessos todos os dias, e que o Desenrola só decolou quando as renegociações passaram a acontecer também nos canais próprios.