O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, decidiu aplicar tarifas sobre os parceiros comerciais mais próximos de seu país. No sábado, 1º, ele assinou três ordens executivas para que empresas que levarem produtos do Canadá e do México para os Estados Unidos paguem uma tarifa de 25%; os importadores de produtos da China pagarão um adicional de 10% além das taxas existentes.
Trump insiste que essas tarifas não aumentarão os preços para os consumidores americanos e que, se alguém pagar o custo, serão os países estrangeiros.
Uma análise sobre como as tarifas funcionam sugere que não é bem assim. Entenda abaixo como as taxas são aplicadas.

Quem paga as tarifas antecipadamente?
Uma tarifa é uma sobretaxa extra aplicada a uma mercadoria quando ela entra nos Estados Unidos. É o chamado importador de registro (empresas responsáveis pela importação do produto) que paga fisicamente as tarifas ao governo federal.
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A taxa tarifária de 10% ou 25% geralmente é cobrada não sobre o preço total do produto encontrado na loja, mas sobre um preço de importação mais baixo que as empresas pagam para comprar um produto do exterior, antes de aumentar o preço para venda em uma loja.
Muitos importadores registrados estão inscritos no programa de pagamento eletrônico do governo dos EUA e têm as taxas tarifárias automaticamente deduzidas de suas contas bancárias à medida que trazem produtos para o país.
A receita tarifária é coletada pela U.S. Customs and Border Protection (Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA), embora Trump tenha cogitado a ideia de criar uma agência totalmente nova para lidar com o dinheiro ganho com suas tarifas.
Os importadores de registro podem ser de qualquer nacionalidade (empresas americanas ou estrangeiras com ou sem presença nos EUA). Eles também podem ser agentes alfandegários que trabalham em nome de outras empresas para lidar com suas importações e exportações.
Segundo Richard Mojica, advogado aduaneiro da Miller & Chevalier, os importadores de registro são normalmente proprietários ou compradores de mercadorias e “geralmente são empresas dos EUA”.
Muitas empresas americanas expressaram frustração com as frequentes afirmações de Trump de que os países estrangeiros pagam pelas tarifas, dizendo que elas próprias estão pagando esses impostos.
Arnold Kamler, presidente da Kent International, uma empresa sediada em Nova Jersey que fabrica bicicletas na China e na Carolina do Sul, disse que vem pagando tarifas sobre bicicletas e peças que importou desde que Trump impôs sua primeira rodada de tarifas chinesas em 2018.
“O governo Trump tinha muito orgulho de dizer que a China estava pagando as tarifas”, disse ele. “Eu sempre fui muito rápido em dizer que, bem, se alguém na China quiser pagar, eu ficaria feliz, mas nós estamos pagando.”
A maioria dos produtos estrangeiros já está sujeita a algum tipo de tarifa quando entra no país. Os Estados Unidos concordaram em limitar as tarifas de vários produtos em diferentes níveis quando aderiram à Organização Mundial do Comércio (OMC), e o governo dos EUA impõe várias outras tarifas se for constatado que os exportadores estrangeiros estão envolvidos em um comportamento comercial injusto.
Ainda assim, as taxas tarifárias médias dos EUA são baixas, em torno de 2,5%, e inferiores às da maioria dos outros países. As novas tarifas propostas por Trump serão adicionadas a qualquer tarifa existente.
Quem arcará com o custo?
A próxima pergunta é quem arcará com os custos das tarifas de Trump. O importador pode optar por absorver esse custo, mas isso afetaria seus lucros. Alguns importadores dizem que pagar uma tarifa de 25% eliminaria totalmente suas margens de lucro e os levaria à falência.
Se os importadores não quiserem absorver o custo da tarifa por conta própria, eles podem tentar forçar o fornecedor que lhes vendeu as mercadorias a reduzir seus preços para compensar a tarifa. Ou podem repassar o custo para seus clientes, na forma de preços mais altos.

Cada caso é diferente, dependendo do grau de influência que uma empresa pode exercer sobre outras empresas.
Se um importador for um grande e poderoso comprador de um produto, ele poderá forçar seus fornecedores a arcar com o custo da tarifa. Mas se for uma pequena empresa que faz pedidos de pequenos volumes de mercadorias, provavelmente não conseguirá.
Em relação às tarifas que Trump impôs sobre centenas de bilhões de dólares de produtos da China, vários estudos econômicos constataram que a maior parte, se não todo, desse custo foi repassada aos consumidores americanos.
As tarifas que Trump impôs sobre o aço estrangeiro podem ter funcionado de forma um pouco diferente. Um estudo de 2020 sugeriu que, um ano após a entrada em vigor dessas tarifas, apenas cerca de metade do custo foi repassado aos consumidores.
Kamler, da Kent International, disse que as tarifas impostas por Trump aos produtos da China o forçaram a aumentar seus preços. “E eles dizem que isso não é inflacionário”, disse ele. ”Isso simplesmente não é verdade.”
O repasse do custo de uma tarifa para os consumidores pode parecer algo ruim. Mas Wendy Edelberg, membro sênior da Brookings Institution, disse que isso é, na verdade, fundamental para toda a ideia de uma tarifa.
“O objetivo das tarifas é aumentar os preços domésticos”, disse Edelberg. O argumento típico para a imposição de tarifas é que os fabricantes dos EUA não podem competir com o preço mais barato das importações e só podem ser saudáveis e lucrativos se o preço de um bem for mais alto, disse ela.
A ideia de aumentar os preços está “embutida no motivo pelo qual você está impondo uma tarifa”, disse ela.
Algumas autoridades da equipe de Trump argumentaram que o aumento do custo para os consumidores será compensado pelas mudanças no valor da moeda. Os economistas acreditam que a imposição de tarifas tende a fortalecer o valor do dólar. A China também pode desvalorizar sua moeda em resposta às tarifas. Qualquer uma dessas mudanças permitiria que os americanos comprassem mais produtos estrangeiros com um único dólar, expandindo seu poder de compra e compensando o impacto da tarifa.
Porém, se isso ocorrer, significa que os produtos estrangeiros não são mais caros, em termos práticos, para os americanos do que os produtos nacionais, disse Maurice Obstfeld, membro sênior do Peterson Institute for International Economics e ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional.
O governo obteria receita com as tarifas, mas elas não teriam impacto sobre as compras dos consumidores. Enquanto isso, um dólar mais forte tornaria as exportações dos EUA relativamente mais caras em outros mercados e prejudicaria os exportadores.
“Se você acredita que a tarifa é completamente anulada pela valorização da moeda, então você não está realmente tornando as importações mais caras e, portanto, não está realmente afetando a balança comercial ou a produção”, disse ele. “Na verdade, você está prejudicando a balança comercial porque não está obtendo nenhum aumento nos preços das importações e tornando suas exportações menos competitivas.”
Quanto isso pode custar às famílias e à economia?
Os economistas dizem que as empresas provavelmente repassarão pelo menos parte do custo das novas tarifas para os consumidores americanos, a fim de tentar preservar suas margens de lucro.
As estimativas da Tax Foundation, um think tank favorável à redução de impostos, estimam que o custo extra para os consumidores americanos decorrente das tarifas sobre o Canadá e o México será de mais de US$ 830 (cerca de R$ 4.870) por família em 2025. A medida representaria um ônus adicional de US$ 958 bilhões (R$ 5,6 trilhões) para os americanos entre 2025 e 2034, segundo o grupo.
Essas estimativas não incluem o custo extra de outra mudança do governo Trump — a remoção da chamada “isenção de minimis”, que permite que remessas inferiores a US$ 800 (cerca de R$ 4.694) entrem nos Estados Unidos sem tarifas. Essa mudança será particularmente impactante para os produtos provenientes da China que entram nos Estados Unidos, pois significa que as remessas abaixo de US$ 800 estarão, pela primeira vez, sujeitas às tarifas que Trump impôs à China em seu primeiro mandato.
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Mike Short, presidente de encaminhamento global da C.H. Robinson, uma empresa de transporte rodoviário que envia produtos para todo o país, disse que o efeito das tarifas sobre o setor não seria como ligar um interruptor na economia.
Mesmo com as novas tarifas, disse ele, “o frete ainda precisa ser movimentado, as linhas de produção ainda precisam funcionar e os consumidores ainda esperam prateleiras cheias”.
No entanto, a longo prazo, os economistas esperam que as tarifas afetem a economia, uma vez que os consumidores e as empresas são forçados a reduzir suas compras de itens estrangeiros com preços mais altos. Os analistas do Goldman Sachs estimaram que as tarifas gerais sobre o Canadá e o México resultariam em um aumento de 0,7% nos preços básicos e uma redução de 0,4% no Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA.
Pesquisadores do Peterson Institute for International Economics, em Washington, estimam que uma tarifa de 25% atingiria mais fortemente o Canadá e o México, mas desaceleraria o crescimento econômico e aceleraria a inflação na América do Norte. Acrescentando as tarifas da China, o PIB dos EUA cairia em cerca de um terço de um ponto percentual até 2027, segundo a estimativa dos pesquisadores.
Trump permaneceu firme em sua opinião. “Haverá alguma dor?”, escreveu ele nas mídias sociais no domingo. “Sim, talvez (e talvez não!). Mas faremos a América grande novamente, e tudo valerá o preço a ser pago.”
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