O presidente dos EUA, Barack Obama, fez ontem, 24, no Congresso o tradicional Discurso do Estado da União, e demonstrou sua preocupação com o desemprego (em torno de 8,5%), cobrou uma reforma tributária e mais investimentos em energia limpa. Para o presidente, cujo discurso serviu também como parte de sua campanha visando às eleições de 6 de novembro, essas medidas são fundamentais para que o país diminua sua desigualdade econômica e reconquiste os "valores americanos".
"Nenhum desafio é mais urgente e nenhum debate é mais importante neste momento que manter vivo o sonho americano", disse Obama, lembrando que seus avós conquistaram seus bens por meio do trabalho. O presidente afirmou que o governo vai se empenhar para que os trabalhadores se especializem em suas funções a fim de serem assimilados pelo mercado, cada vez mais sedento de inovações tecnológicas.
Obama também insistiu que os mais ricos devem pagar mais impostos. Ele citou como exemplo de injustiça econômica a declaração do magnata Warren Buffett feita em 2011. Na época, Buffett disse que sua secretária, Debbie Bosanek, pagava mais impostos do que ele. Logo após Buffett ter feito a declaração, Obama propôs a "Norma Buffett", que prevê que os americanos que ganham mais de US$ 1 milhão por ano paguem pelo menos 30% em impostos federais, o equivalente ao que paga a classe média americana.
Em seu Discurso do Estado da União, que é anual, Obama afirmou também que as famílias que têm maiores ganhos não devem ter permissão para deduzirem de seus impostos os gastos com hipotecas, saúde, aposentadoria ou custos com crianças. "Washington não pode continuar favorecendo os mais ricos, em detrimento da maioria da população norte-americana", frisou o presidente.
Ele exortou o Congresso americano a ampliar o corte no imposto sobre folha de pagamento para praticamente todos os trabalhadores americanos e disse estar disposto a negociar mudanças substanciais em programas como os de seguridade social e de assistência médica, desde que os legisladores republicanos se mostrem favoráveis a aumentar os impostos para os mais ricos.
O presidente também disse que vai fazer com que os Estados se empenhem para manter suas crianças e jovens estudando, uma vez que o governo deverá dar apoio aos bons professores nesta tarefa.
Obama anunciou ainda a criação de uma força tarefa para investigar as hipotecas de alto risco que levaram à crise imobiliária de 2008 e também para analisar as práticas comerciais de outros países, inclusive da China.
Com o intuito de estimular o emprego no país, o presidente disse ainda que reduzirá impostos sobre a produção, sobretudo das companhias que investirem em alta tecnologia. Ainda para criar mais empregos, ele afirmou que as empresas que fecharem suas unidades no exterior e se instalarem em solo americano terão incentivos. Ainda sobre esse tema, Obama afirmou que as companhias com operações no exterior deverão pagar um mínimo de imposto sobre seus ganhos em outros países.
O presidente delineou metas para abrir 75% dos potenciais poços marítimos de petróleo e gás natural dos EUA, além de estabelecer novas regras para a perfuração de poços de gás natural. Obama destacou ainda o comprometimento do país na obtenção de energias sustentáveis. Ele instou o Congresso a renovar os créditos fiscais para os setores de energias renováveis com o intuito de impulsionar a produção dessas energias sustentáveis no país, com a consequente geração de empregos.
Obama lembrou ainda em seu discurso, o fim da guerra do Iraque e a morte do líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden. "Pela primeira vez em 9 anos não há americanos no Iraque. Pela primeira vez em duas décadas bin Laden não é mais ameaça a este país", destacou o presidente.
Ele também fez referências à "Primavera Árabe" e, com relação ao Irã, disse que "A América está determinada a prevenir Teerã de conseguir uma bomba nuclear, não descartando nenhuma alternativa para alcançar esse objetivo". Apesar disso, o presidente afirmou que acredita "numa saída pacífica para o impasse nuclear com o Irã".
Republicanos
Os republicanos rejeitaram as afirmações do presidente democrata Barack Obama, em seu discurso do "Estado da União", de que suas políticas ajudaram a recuperar a economia dos EUA. Ao contrário, argumentaram que a Casa Branca só "piorou as coisas" durante os últimos três anos.
O governador de Indiana, Mitch Daniels, que foi visto como um potencial rival para Obama nas eleições de novembro, disse, em resposta oficial do Partido Republicano, que o porcentual de pessoas trabalhando é o menor em décadas, enquanto os gastos federais estão fora de controle.
"O grandioso experimento do presidente em três anos de governo tem retido em vez de acelerar a recuperação econômica", disse Daniels. "Ele parece sinceramente acreditar que nós podemos construir uma classe média a partir de empregos públicos pagos com dólares emprestados. Na verdade, isso funciona de outra maneira: um governo tão grande e autoritário como este é mantido sobre as costas da classe média, e por aqueles que esperam entrar nela."
Para o presidente da Câmara, John Boehner, estava claro desde o início do discurso que o presidente Obama decidiu fazer uma campanha divisionista. "O presidente lamentavelmente virou a culpa para a divisão, quando o que é necessário é um esforço conjunto para promover a criação de empregos nas pequenas empresas", afirmouBoehner.
Representantes republicanos no Senado disseram que, apesar da longa lista de propostas políticas detalhadas no discurso de Obama, houve poucas novidades. "É a mesma velha lista de desejos, mas uma coisa ele não falou: sobre como vai criar empregos para as pessoas sem aumentar os impostos", comentou o senador do Texas JohnCornyn.