A Organização Mundial do Comércio (OMC) estipula uma data para que as negociações da Rodada Doha finalmente voltem a serem tratadas por todos os 150 países da entidade. Nesta quarta, dia 4, em Genebra, o diretor da entidade máxima do comércio, Pascal Lamy, reunirá os principais embaixadores na OMC para anunciar que um texto com propostas será colocado sobre a mesa no próximo dia 23, o que dará início a fase final dos debates. As negociações foram suspensas em julho de 2006, depois que os principais atores da Rodada Doha não conseguiram chegar a um acordo sobre como deveria ocorrer a liberalização agrícola. Desde então, os negociadores de Brasil, Índia, Estados Unidos e União Européia vêm realizando encontros sigilosos para tentar aproximar as posições. Mas como não conseguem apresentar avanços, os demais países dentro da OMC começam a se irritar e exigir que o debate volte a incluir todos. Na semana passada, o Estado antecipou a estratégia de Lamy que será confirmada nesta quarta a todos os governos e que representará a "multilateralização do processo". A idéia é de que o novo documento seja enviado aos países depois da reunião entre os ministros do Brasil, Índia, Estados Unidos e Europa, em Nova Deli nos dias 12 e 13 deste mês. Para preparar esse encontro, os negociadores dos quatro governos estão desde segunda-feira em Paris. O problema é que os europeus apenas aceitariam um maior corte de suas tarifas para a importação agrícola se os americanos aceitarem uma redução de seus subsídios. Subsídios Para tentar destravar o impasse, o Brasil agora sugere que seja estabelecido um teto para o volume de subsídios que cada país poderia dar para cada produto agrícola. Para chegar a esse cálculo, uma série de critérios estão debatidos nas reuniões desta semana. Um dos principais seria o cálculo de quanto poderia ser dado em ajuda doméstica a um produtor americano ou europeu sem afetar os preços internacionais do produto.Dessa forma, cada produto - soja, milho, algodão, açúcar, trigo ou leite - teria tetos diferentes. Os Estados Unidos já deram indicações ao Brasil de que estão dispostos a debater o assunto, mas ainda resistem a um acordo sobre como seriam os critérios para o estabelecimento do teto máximo dos subsídios. Já a União Européia vê a proposta brasileira como desconfiança diante da proximidade política entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e George W. Bush. Para Bruxelas, a sugestão brasileira acabará favorecendo os Estados Unidos e quer medidas mais claras para reduzir os subsídios. Outro ponto de discussão nesta semana em Paris foi como cada país estabelecerá o volume de cotas de importação de bens agrícolas. A Europa ainda quer saber do Itamaraty o que o País está disposto a abrir em termos de áreas industriais. Para os países ricos, não haverá qualquer possibilidade de acordo no setor agrícola se não houver uma contrapartida no acesso aos mercados emergentes para os produtos industrializados.
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