O vice-presidente da Câmara Argentino-Brasileira de Comércio de São Paulo, Alberto Alzueta, bate palmas para o corte de gastos imposto pelo pacote fiscal anunciado ontem pelo governo argentino. Ele diz que a redução dos gastos do Estado, dos benefícios e salários excessivos é positivo. E se tudo for implementado, o país vai cumprir as metas com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Mas não será fácil. Alzueta explica que se a economia da Argentina estivesse aquecida e com o desemprego estável, o cenário seria de maior facilidade para sair da crise atual. Como o quadro é recessivo e há um grave problema de desemprego no setor privado, a tendência é de uma piora na recessão. Além disso, a alta dos juros nos EUA é mais um complicador deste quadro. Efeito ruim para Brasil O empresário avalia que o Brasil vai sentir os efeitos da crise no vizinho. Com a piora das expectativas, uma sondagem feita informalmente pela Câmara mostra que a maioria dos empresários vai rever os pedidos de importação de produtos brasileiros. Isso não é nada favorável num momento que o Brasil precisa ampliar suas exportações para diminuir a dependência por capitais externos. Além disso, quando há uma crise econômica em algum país da América Latina, o mercado internacional não a vê como um problema isolado de um país apenas, mas amplia o temor para todo o continente, o que é negativo para o Brasil. Os dois efeitos - sobre exportações e sobre a imagem do País - pesam negativamente contra o Brasil, que também tem sofrido as conseqüências das oscilações no mercado internacional, com alta do dólar e dos juros e queda do valor das ações. O que se espera é que o ajuste na Argentina seja bem recebido pelo investidor internacional, evitando um agravamento da crise lá, e seus reflexos aqui. Incerteza de sucesso O economista do BNDES, Fábio Giambagi, alerta ainda para as pressões internas que a Argentina irá sofrer nos próximos meses. Há que se levar em conta a reação da opinião pública às medidas tomadas pelo governo. Certamente, segundo Giambiagi, vai haver resistência, já que os servidores públicos terão o salário reduzido. Resta esperar e, segundo os analistas, conferir se realmente todas as medidas anunciadas e o corte de gastos de US$ 938 milhões vai ser implantado na sua totalidade e qual o tamanho da recessão que irá causar.