Menos ovos de Páscoa, mais bombons: qual a estratégia dos fabricantes para driblar a alta do cacau

Disparada do preço do cacau turbinou custos e a indústria tenta atenuar o impacto; expectativa é que produtos estarão, pelo menos, 10% mais caros

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Foto do author Márcia De Chiara

O brasileiro terá de desembolsar mais neste ano se quiser levar para casa o tradicional ovo de Páscoa. Com o aumento do preço do cacau nos últimos meses, os fabricantes reduziram a produção de ovo e criaram novas opções, como barras de chocolate, biscoitos e bombons, para o gasto se adequar ao bolso do consumidor. O tamanho dos produtos também ganhou versões menores para reduzir o desembolso.

A expectativa é que os preços dos ovos subam, em média, 10% em relação ao ano passado. O avanço é reflexo, sobretudo, da elevação de mais de 200% em dólar da cotação do cacau em relação a meados de 2023, quando os preços da commodity começaram a disparar e atingiram a maior cotação em 50 anos no mercado internacional. Por causa dessa escalada, a indústria de chocolates mudou o mix de produtos para atenuar o impacto do principal insumo no preço final do chocolate.

Ovos de Páscoa ficarão mais caros neste ano Foto: Tiago Queiroz/Estadão

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A saída foi reduzir a produção de ovos e ampliar o leque de outros itens que também levam chocolate, como bombons e barras de chocolate, por exemplo. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab), foram produzidos para a Páscoa deste ano 45 milhões de ovos, volume 22,5% menor do que no ano anterior, quando foram fabricadas 58 milhões de unidades.

Em contrapartida, a variedade de outros produtos que também levam chocolate na sua composição aumentou de 611 tipos em 2024 para 803 neste ano, alta de 31,5%.

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Desafio

Jaime Recena, presidente da Abicab, admite que é um desafio para a indústria fazer uma Páscoa em meio à disparada do preço do cacau. Mas evita confirmar que o ovo de Páscoa estará mais caro. “Isso (aumento de preço) só saberemos no dia a dia da Páscoa”, diz ele, ponderando que depende das estratégias comerciais do varejo.

Recena lembra que no ano passado ficou surpreso com uma pesquisa da Fundação Procon de São Paulo que apontou que na véspera de Páscoa havia uma redução de 17% do preço do ovo em relação ao ano anterior.

O presidente da Abicab diz que a indústria como um todo está absorvendo a alta de custos do cacau e também do transporte, outro item de pressão. Além disso, têm tentado comprar melhor os insumos e usado receitas novas para atenuar o impacto na inflação do chocolate. Mas pondera que cada fabricante tem a sua estratégia.

A estratégia de cada um

A Ferrero Rocher, por exemplo, adaptou a oferta. A companhia está apostando em ovos embalados em caixa, que têm um tamanho menor (137 gramas) em relação aos maiores, de 200 e 300 gramas, nas embalagens tradicionais. “O desafio é como levar a marca para mais consumidores”, diz Fabio Pessoa, diretor de marketing. Ele observa que neste ano os ovos menores estão ganhando mais espaço na produção em relação à Páscoa do ano passado.

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Além disso, conta que a marca está apostando neste ano no tablete de chocolate, que não fabricava no ano passado. “É a primeira Páscoa dos tabletes”, afirma. A intenção é ficar mais acessível ao bolso, apresentando o chocolate em outros formatos.

“Estamos sendo bastante criativos para não punir o consumidor”, afirma Renata Vieira, vice-presidente de marketing da Mondelez, dona da marca Lacta. Ela explica que a companhia optou por formatos menores tanto nos tabletes como nos ovos, inclusive trazendo inovações, antes restritas aos ovos maiores.

Neste ano, o menor tablete da marca Lacta tem 20 gramas. Na Páscoa do ano passado, o menor tablete tinha 80 gramas. Nos ovos, a companhia fez vários lançamentos nos formatos menores, como Bis de chocolate branco e o ovo Trakinas.

“Estamos bastante otimistas e em linha com (o desempenho) do ano passado”, diz Renata, sem revelar números. Na Páscoa de 2024, a fabricante ampliou em 20% as vendas sobre o evento do ano anterior.

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Já a Cacau Show projeta crescimento de 30% a 35% em relação ao faturamento do ano passado, segundo a gerente de produto da Cacau Show, Iris Ferraz. “Estamos bem confiantes: temos 78 produtos no total e 43 são novos.”

A alta de preço do cacau não é um obstáculo para ampliar as vendas, segundo Iris. Ela argumenta que a empresa buscou inovações para se reinventar em termos de processos industriais, reavaliou embalagens para manter a qualidade e minimizar o repasse de alta de custos para os preços ao consumidor.

A fabricante não reduziu tamanho dos ovos de chocolate, mas alterou o mix de produtos e trouxe os biscoitos e itens de panificação para dentro da campanha de Páscoa.

“Estamos focados na pauta de inovação”, afirma Camila Hadaya, gerente de marketing de Páscoa da Nestlé, argumentando que esse é um dos pilares do crescimento esperado pela empresa para Páscoa deste ano.

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Entre as inovações da companhia, ela cita o ovo Caribe que leva banana como ingrediente, ovo Charge, que tem amendoim e caramelo na composição, e o ovo Choco Trio, que, além do chocolate, leva biscoito e um recheio, repetindo a fórmula do tablete do mesmo nome.

Empreendedorismo

A alta de preço do cacau também impacta os empreendedores que usam a Páscoa para obter uma renda extra com a produção de ovos artesanais. A Harald, fabricante de insumos para a produção de chocolates, também reduziu o tamanho das embalagens para ficar mais acessível aos empreendedores.

Jonatas Pereira, gerente de comunicação da Harald, conta que o carro-chefe da marca sempre foi as barras de chocolate para derreter com um e dois quilos. Neste ano, a companhia aumentou a produção de barras menores, com 400 e 500 gramas.

O motivo da mudança foi aliviar o impacto da alta do cacau nas vendas do insumo. Aliás, a fabricante de itens para produção artesanal registrou até agora crescimento de dois dígitos no faturamento da Páscoa deste ano em relação a de 2024. Foi o melhor desempenho da companhia dos últimos tempos.

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