Análise | Pacote fiscal: empresário bate, banqueiro assopra e dólar segue em R$ 6

Após apresentação do plano de corte de gastos, preocupação que ficou são os problemas de preços, liquidez e inadimplência que devem ocorrer caso os juros precisem subir ao patamar de 14%

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Depois de dias... semanas... meses de discussões, achismos, estudos, projeções, o pacote fiscal que pretende salvar o arcabouço fiscal foi anunciado, prometendo cortes de R$ 70 bilhões entre 2025 e 2026. Tudo acertado com o Congresso, que precisa aprovar as medidas e, portanto, é sócio do governo nesse negócio.

O cenário estava bem preparado para que a apresentação fosse um sucesso. Mas uma personagem inesperada roubou a cena: junto com as medidas de ajuste nas contas públicas, foi anunciada a mudança no imposto de renda. Segundo as primeiras contas de economistas de mercado, o aumento da faixa de isenção tem potencial para reduzir a arrecadação em mais da metade da economia feita pelo pacote, colocando boa parte do trabalho a perder.

Ministro Fernando Haddad na apresentação do pacote de corte de gastos Foto: Wilton Junior/Estadão

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Assim, ao final do espetáculo, não houve aplausos. Exceção feita aos parlamentares do PT, que formaram claque para Haddad pouco antes de o ministro comunicar as medidas por meio de pronunciamento ao País, na noite da última quarta-feira, 27.

O mercado deu seu recado negociando o dólar acima de R$ 6, as taxas de juros em níveis superiores a 14% e o Ibovespa com perdas maiores que 3 mil pontos sobre o fechamento anterior ao pacote.

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Na noite de quinta-feira, 28, durante evento que reuniu boa parte dos grandes empresários do País, em São Paulo, as críticas ao comando do País eram constantes e pesadas. A estrela do evento foi o futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo. Diante da má impressão que deixou o pacote, mais do que nunca, o economista sofreu para convencer que atuará no comando da política monetária sem intervenções políticas. Ele conseguiu. Os empresários bateram no governo e no pacote, mas elogiaram “o menino de ouro” do presidente Lula.

Já o almoço de sexta-feira, 29, foi servido pelos banqueiros e teve o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, como convidado especial. Haddad disse que “o alinhamento dos líderes com a presidência não podia ser melhor”. Também afirmou que as propostas são para reforçar o arcabouço e que, se preciso, a rota será revisada.

A ministra do Planejamento, Simone Tebet, fez coro e afirmou que todos os esforços serão feitos no controle das contas públicas e na eficiência dos gastos, para impedir que a inflação volte à vida dos brasileiros. “A revisão de gastos é diária e não terminou”. Para completar, garantiu aos banqueiros que não estaria no governo se o presidente Lula não tivesse compromisso com o ajuste fiscal.

Com isso e com as declarações de Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, e Arthur Lira, presidente da Câmara, dando conta e que irão segurar a votação do aumento da isenção do Imposto de Renda - e mais, de que isso apenas reproduz um compromisso que já havia sido firmado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva - os banqueiros assopraram sobre as críticas.

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Ainda assim, uma preocupação junta empresários e banqueiros. Ambos os grupos alertaram para problemas de preços, liquidez e inadimplência que devem ocorrer caso os juros precisem subir ao patamar de 14%.

Depois de tudo isso, e apesar das palavras bem recebidas de Galípolo, Haddad, Tebet, Lira e Pacheco, a semana do pacote fiscal chegou ao fim com dólar em exatos R$ 6 e o contrato mais líquido de juros em 14,04%. O Ibovespa saiu-se menos pior e encerrou na casa dos 125 mil pontos com perda de cerca de 2 mil pontos sobre o fechamento de quarta-feira.

Análise por Cristina Canas

Editora executiva do Broadcast

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