O resultado da reunião desta segunda-feira entre as autoridades brasileiras e representantes de 16 bancos correspondeu às expectativas mais moderadas do mercado. Os economistas ouvidos pela Agência Estado concordam que o Brasil recebeu um apoio vago e cauteloso, mas nenhum compromisso efetivo das instituições. ?O resultado pode ter frustrado quem esperava um comprometimento mais explícito?, disse Marcelo Carvalho, economista-chefe do Bank of America, ponderando que a maioria não alimentava mesmo expectativas exageradas da reunião. O tom do comunicado, que expressa a intenção de manter o nível geral de negócios no Brasil, incluindo as linhas de comércio, chegou a surpreender alguns analistas. Para o economista-chefe do ABN Amro Asset, Hugo Penteado, a declaração dos bancos ficou acima do esperado já que o mercado estava muito cético. O comportamento otimista do mercado na manhã de hoje, de acordo com os analistas, não estava atrelado ao encontro em Nova York. O economista-chefe do Lloyd?s TSB, Odair Abate, atribuiu o otimismo mais à atuação do BC na concessão de linhas externas e a falta de notícias negativas no processo eleitoral, do que ao excesso de expectativa sobre o encontro. Desta vez, ao contrário do que faz sempre, Abate acredita que o mercado não exagerou. ?Se fosse isso, a volta teria sido rápida?, afirmou, referindo-se ao comportamento do câmbio que, embora tenha caído mais até a divulgação do comunicado, fechou em baixa de 0,58% em relação à sexta-feira, negociado a R$ 3,095. A partir deste comunicado, o mercado começa a alimentar expectativa sobre o comportamento da oferta de linhas nas próximas semanas. "A reunião de hoje pode ajudar a acalmar o mercado marginalmente. Mas é preciso ver o resultado", disse o estrategista- chefe do HSBC Bank, Dawber Gontijo, referindo-se aos possíveis desdobramentos. As duas próximas duas ou três semanas já poderão sinalizar se efetivamente as linhas serão mantidas no patamar mais recente. Nenhum dos analistas espera mudanças estrondosas, mas, como disse o presidente do BC, Armínio Fraga, uma retomada gradual de oferta das linhas. "Seria surpreeendente se houvesse uma expansão de linhas para o Brasil", afirmou o economista-chefe do Bank of America, Marcelo Carvalho. Neste momento, em que a conjuntura internacional alimenta a aversão ao risco e as incertezas atreladas ao processo eleitoral ainda não foram dissipadas, o comprometimento em manter o volume de linhas existentes já é "boa notícia", como disse Carvalho. Penteado está um pouco mais otimista sobre a volta de linhas em volumes mais substanciosos. Os indicadores da área externa são, de acordo com ele, uma fonte de otimismo sobre o desempenho futuro do País. Ao rever a previsão para o saldo comercial de US$ 6 bi para US$ 8 bi neste ano, reduzindo o déficit em conta corrente de US$ 17 bi para US$ 15 bi, Penteado baixou também as necessidades de financiamento externo para US$ 43 bi em 2002, contra US$ 58,4 bi do ano passado. Os números serão uma demonstração de um ajuste em curso no balanço de pagamentos, reduzindo a vulnerabilidade externa.
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