Remédio ruim não se toma porque seja bom de gosto, mas porque é preciso. Ninguém gosta de pagar juros altos.Não há certeza de que o Banco Central recomeçará o processo de aperto monetário nesta quarta-feira, na próxima reunião do Copom. Talvez ainda deixe para abril. Mas quanto mais tempo deixar escorrer, mais terá de reapertar os juros às vésperas das eleições. Do ponto de vista do governo, isso não parece recomendável.Os únicos argumentos contra essa nova temporada de alta dos juros são os dos representantes dos empresários, especialmente da Fiesp, que simplesmente não-querem-porque-não-querem os juros altos. E não são capazes de sustentar seu ponto de vista sem atropelar as atuais regras do jogo determinadas pelo sistema de metas de inflação. Insistir em que os juros básicos (Selic) estão em níveis altos demais e que novo aperto os deixará ainda mais fora do padrão internacional não muda em nada a natureza do problema. Todos os sensores do comportamento dos preços mostram que a inflação já está embicando para fora dos trilhos (meta de 4,5% em 2010). O consumo avança muito à frente da capacidade de produção conjugada com o nível adequado das importações. Mais cedo ou mais tarde o Banco Central terá de agir, a menos que se declare temporariamente suspensa ou, então, se declare flexibilizada a aplicação das disposições do sistema de metas.Pode-se argumentar que o atual avanço da inflação tem mais a ver com fatores fiscais, que são gerados pelas excessivas despesas correntes do governo federal, do que com fatores monetários, que correspondem ao volume adequado de dinheiro e crédito no mercado. Isso posto, a contenção monetária é a resposta errada dada com o instrumento errado.Desse ponto de vista, o melhor contra-ataque à inflação não é o aperto dos juros, mas a formação de um superávit fiscal (sobra de arrecadação para pagamento da dívida pública) maior do que o atual, cuja meta em 2010 é de 3,3% do PIB, ou cerca de R$ 115 bilhões.Se o governo tivesse anunciado lá atrás que, em coisa de três anos, o déficit nominal (que inclui as despesas com os juros da dívida pública) cairia a zero, os juros e a inflação despencariam naturalmente. Como a política é outra, o combate à inflação sobra para o BC, que vai usar as armas que tem. Há ainda quem observe que o principal inimigo não é a inflação, mas o risco do retorno à estagnação, como aconteceu no primeiro semestre de 2009. De acordo com esse ponto de vista, neste momento em que a economia convalesce dos efeitos da maior crise desde os anos 30, uma puxada dos juros abortaria o crescimento econômico e a retomada do emprego. Assim, diante do objetivo mais importante, tirar o pé do acelerador seria um erro técnica e politicamente inadmissível. A essa objeção, pode-se responder que não há fator que derrube mais o crescimento e o emprego do que o descarrilamento dos preços. Inflação a 6% puxa logo para 7% e daí para o que Deus quiser. Algumas vezes, o presidente Lula deu mostras de que compreendeu o alcance político dessas verdades.E são essas razões que estarão sobre a mesa do Copom nesta quarta-feira.