A Parmalat Brasil deu hoje seu primeiro calote no País desde que estourou o escândalo financeiro na matriz italiana, que entrou em concordata com um rombo estimado em mais 10 bilhões de euros. A subsidiária brasileira não honrou seu compromisso de pagar uma dívida de R$ 2,3 milhões com um grupo de 11 cooperativas de Itaperuna, no Rio de Janeiro, que fornecem leite para a fábrica da empresa na cidade. A dívida com as cooperativas de Itaperuna deveria ter sido paga no dia 15 de dezembro, mas a empresa negociou o pagamento para o dia 29. Como as cooperativas continuaram fornecendo o leite, a empresa terá de pagar outros R$ 2,3 milhões no dia 5 de janeiro. O secretário de Agricultura do Estado do Rio de Janeiro, Cristiano Áureo da Silva, passou a tarde reunido na Procuradoria do Estado estudando as medidas judiciais cabíveis. "Estamos vendo a melhor solução para aliviar a situação do produtor", afirmou o secretário. "Mais de 90% do leite produzido no Rio é produção familiar. Se esses agricultores não receberem, eles passarão fome." As 11 cooperativas de Itaperuna comercializam o leite de 10 mil produtores, dos quais 80% são pequenos, com renda média de 2 salários mínimos. Eles são quase que exclusivamente dependentes da fábrica da Parmalat em Itaperuna. A fábrica processa 500 mil litros de leite por dia, sendo que 300 mil litros são fornecidos pelas cooperativas. Outros 100 fornecedores da Parmalat - entre empresas de distribuição e fabricantes de embalagem e polpa de fruta, - estão com créditos a receber, num valor total estimado em mais de R$ 30 milhões. No dia 12 de dezembro, a empresa enviou uma carta a esses fornecedores avisando que iria atrasar os pagamentos, mas não estabeleceu prazo para honrá-los. Os únicos fornecedores pagos em dia são os cerca de 10 mil médios e grandes produtores de leite, responsáveis pela maior parte do leite captado pela empresa - segunda maior captadora de leite do País, atrás da Nestlé. As cooperativas de leite tiveram uma negociação em separado com a empresa transferindo as dívidas para um intermediário financeiro. No caso das cooperativas de Itaperuna, porém, não foi possível um acordo. "Estamos perplexos com o descumprimento da palavra pela empresa", afirmou o presidente da Federação da Agricultura do Estado do Rio de Janeiro (Faerj), Rodolfo Tavares. "É absurdo uma empresa que acaba de receber um empréstimo de R$ 25 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) não ter R$ 2,3 milhões para pagar cooperativas." Em meio a rumores - desmentidos pela empresa - de que a subsidiária entraria em concordata, os executivos passaram o dia discutindo a questão do pagamento de fornecedores. À tarde, a empresa divulgou uma nota em que justifica o atraso do pagamento como uma medida para "proteger as operações aqui no País". Na nota, a empresa afirma que o problema do grupo "está restrito à gestão da matriz, porém merece uma atenção especial na forma de gerir as operações locais". "No Brasil", continua a nota, "o obstáculo a ser superado é reconhecido pela gestão local, que busca preparar-se para os eventuais impactos decorrentes dele." Com 9 fábricas e 6 mil funcionários, a Parmalat Brasil é uma das maiores operações do grupo italiano. Representa 20% da produção global.
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