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Pesquisa encontra agrotóxicos em alimentos ultraprocessados de origem animal

Análise detectou resíduos de agrotóxicos em 58% das amostras de produtos à base de carne e leite

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Por Redação
Atualização:

O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) divulgou uma pesquisa que aponta a presença de agrotóxicos em alimentos ultraprocessados de origem animal, que são encontrados com frequência na mesa dos brasileiros. Foram analisadas 24 amostras de alimentos ultraprocessados feitos à base de carne e leite e foi constatado que 58% dessas amostras tinham resíduos de agrotóxicos na composição.

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Os alimentos analisados eram de oito categorias: linguiça suína, salsicha, mortadela, hambúrguer bovino, empanado de frango (popularmente chamado de nugget), iogurte ultraprocessado, bebida láctea sabor chocolate e requeijão.

Todas as categorias de produtos à base de carne e duas das três marcas analisadas de requeijão apresentaram resíduos de agrotóxicos, entre eles o glifosato, que o Idec destaca ser o agrotóxico mais utilizado no Brasil - mesmo tendo sido proibido em diversos países e sendo considerado como “provável cancerígeno” pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

O Idec afirma que enviou notificações para todas as empresas responsáveis pelos produtos analisados em que foram encontrados agrotóxicos. O instituto informou também que os dados foram enviados ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e comunicados à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), apesar de a agência ter a política de só monitorar a presença dessas substâncias em alimentos in natura.

Procurada, a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA) afirmou que não teve acesso ao estudo e, portanto, desconhece a metodologia e os resultados das análises, além de apontar que uma resolução da Anvisa determina que alimentos processados devem adotar os mesmos Limites Máximos de Resíduos (LMR) estabelecidos para o alimento in natura, considerados seguros para o consumidor.

“As indústrias brasileiras de alimentos trabalham com alto nível de responsabilidade na utilização de insumos e matérias-primas e devem seguir as diretrizes de boas práticas e normas de qualidade e segurança definidas pelas autoridades sanitárias, assim como de suas próprias áreas de qualidade. O setor atende à legislação brasileira, assim como a de 190 países para os quais exporta, cumprindo um papel essencial na promoção da segurança alimentar global”, afirmou a associação.

A Anvisa informou que o seu Programa de Monitoramento de Resíduos de Agrotóxicos (PARA) já analisa produtos com determinado nível de processamento e que há intenção de incluir gradativamente novos produtos no programa, mas seria necessário realizar um estudo preliminar para decidir se ultraprocessados também devem ser analisados, verificando sua representatividade no consumo da população brasileira.

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Os vestígios acima dos Limites Máximos de Resíduos (LMR), no entanto, não necessariamente representam risco à saúde, diz o órgão. É necessário realizar a avaliação do risco, onde se compara a exposição esperada com os parâmetros de referência toxicológicos agudo e crônico, havendo a identificação de risco à saúde do consumidor caso a exposição exceda esses parâmetros.

Ainda segundo a Anvisa, o estabelecimento do limite máximo para os alimentos sem processamento (in natura) é a abordagem adotada pelas principais referências internacionais e, assim, a avaliação da conformidade deve ser feita nas matérias-primas usadas na fabricação dos ultraprocessados.

O Estadão também procurou o Ministério da Agricultura, que apontou que, por meio do Plano Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes (PNCRC-Animal), monitora resíduos de substâncias em animais encaminhados para abate e em matérias-primas (leite, ovos, mel e pescado). São monitorados 204 agrotóxicos hoje e o escopo tem sido objeto de constante ampliação.

O monitoramento, de acordo com o órgão, indica uma baixa frequência de inconformidades nos Limites Máximos de Resíduos nesses produtos. O PNCRC-Animal considera em suas análises os limites máximos definidos pela Anvisa e por referências internacionais para produtos in natura. O ministério ainda ressalta que a detecção de algum resíduo em um produto não significa que o Limite Máximo de Resíduos foi ultrapassado.

Pulverização de defensivos agrícolas; alimentos processados apresentam resíduos de agrotóxicos, segundo pesquisa divulgada pelo Idec. Foto: Alf Ribeiro/Estadão

Pesquisa

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As oito categorias de alimentos analisadas foram escolhidas pelo Idec com base nos produtos que os brasileiros mais consomem segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As marcas dos produtos foram selecionadas conforme pesquisas de mercado e de preferência dos consumidores.

A análise dos alimentos, segundo o Idec, foi realizada por um laboratório que é referência nacional, acreditado pelo Inmetro, credenciado no Ministério da Agricultura e utilizado pela Anvisa. O instituto aponta que foi usada uma metodologia de testagem capaz de detectar a presença de até 653 resíduos de agrotóxicos.

A pesquisa é o segundo volume do estudo “Tem veneno nesse pacote”, iniciado com a publicação, em 2021, de outra análise que já havia encontrado resíduos de agrotóxicos em bebidas, cereais, salgadinhos, pães, biscoitos e bolachas.

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O objetivo do segundo volume da pesquisa, que analisou os ultraprocessados derivados de carnes e leite, foi disponibilizar informações para auxiliar na avaliação e no monitoramento do risco relacionado à ingestão de agrotóxicos nesses produtos. O Idec aponta que os dados sobre o consumo de agrotóxicos por meio de ultraprocessados de origem animal ainda são escassos.

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