O presidente da Petrobrás, Pedro Parente, tentou convencer o mercado financeiro de que tomou uma decisão "tática" ao congelar e reduzir o preço do óleo diesel em 10%, em resposta ao protesto dos caminhoneiros. Mas não conseguiu e as ações da empresa fecharam na quinta-feira, 24, com recuo de 13,71% (PN) e 14,55% (ON). A queda fez a petroleira perder R$ 47,2 bilhões em valor de mercado em apenas um dia, além do posto de empresa mais valiosa da BM&FBovespa, ao ser ultrapassada pela Ambev.
As ações já abriram em forte baixa, o que levou Parente a convocar uma teleconferência com analistas de mercado para tentar conter a queda livre do papel. Em uma hora de conversa, repetiu várias vezes que a medida foi "extraordinária" e que "não irá se repetir". Questionado sobre as garantias de que, num cenário de emergência, não voltará a anunciar o descolamento dos preços dos combustíveis da paridade internacional, o presidente da Petrobrás falou em demissão.
"Se por alguma razão não pudermos ter liberdade de preço, terei de sair (da empresa). O governo teria de encontrar novos gestores alinhados a essa visão", afirmou ele, acrescentando que não vê "o governo fazendo isso (interferindo na gestão e geração de receita da empresa)".
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Desconforto
Na noite de quarta-feira, 23, em coletiva de imprensa, o principal argumento de Parente para justificar a medida foi que não poderia ser insensível aos prejuízos que a greve causava à população. Aos investidores, na quinta, reiterou o discurso: "Ao longo do dia, a crise se intensificou rapidamente e a Petrobrás começou a se sentir desconfortável". Avançou, porém, em justificativas financeiras.
"Estamos hoje numa posição melhor do que a do dia anterior. Claramente, saímos de uma posição defensiva para a dianteira. Oferecemos nossa contribuição e assim pudemos reverter os prejuízos que poderiam ser maiores com a paralisação das nossas atividades. Agimos na defesa dos melhores interesses da companhia", disse. Em sua opinião, qualquer gestor em sua posição teria considerado a mesma medida. "Foi um movimento tático", defendeu.
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Disse ainda que a diretoria teve autonomia e independência ao tomar a decisão. Nem mesmo o conselho de administração, indicado em sua maioria pelo governo federal, interferiu. "Informamos ao conselho. Não submetemos (a medida) ao conselho", afirmou ele. Fontes da companhia contaram que a proposta de redução e congelamento do preço do diesel, apresentada por Parente em nome de toda diretoria, causou surpresa e resistência entre os conselheiros, que já estavam com reunião marcada para quarta-feira, mas não contavam com o anúncio.
Uma das fontes disse entender "o ato de grandeza" de Parente, mas, para esse interlocutor, a estatal não deveria ter tomado partido.
Principalmente os membros empossados no mês passado demonstraram desconforto com o que consideraram a desmoralização da política de preços adotada no ano passado, de reajustes diários. Alegaram que, ao se posicionar, a Petrobrás corre o risco de virar refém das reivindicações de consumidores.
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A repetição do executivo de que a Petrobrás agiu por conta própria também não convenceu os analistas. "A empresa vinha sendo fiel e pragmática na implementação da política de preços. Basta ver o que aconteceu com o preço do diesel nos últimos 30 dias, quando houve uma depreciação do câmbio e alta do petróleo. A empresa repassou ao mercado doméstico. Acho que teve uma pressão política, por mais que o Pedro Parente negue", disse um analista de um grande banco, que pediu para não ser identificado.