RIO E SÃO PAULO - O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro avançou 0,2% no segundo trimestre do ano, refletindo a fraca atividade econômica no País. Os dados foram divulgados nesta sexta-feira, 31, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Já o PIB do 1º trimestre do ano foi revisado de 0,4% para 0,1%.
Analistas do mercado apontam que a paralisação dos caminhoneiros, no fim de maio, foi determinante para o tímido resultado, ainda que, para uma parcela dos especialistas, a avaliação seja de que outros fatores já indicavam um resfriamento do ritmo de expansão.
"Não foi por causa da greve, foi um conjunto de fatores. (A greve de caminhoneiros) Afetou o trimestre, mas não podemos olhar só para a greve, tem que olhar o conjunto", afirmou Claudia Dionísio, gerente da Coordenação de Contas Nacionais do IBGE. Para ela, desvalorização cambial, repique da inflação e a greve contribuíram para mudar a trajetória do PIB.
Na comparação com o segundo trimestre de 2017, o PIB avançou 1,0% no segundo trimestre deste ano, mantendo a tendência de perda de fôlego no ritmo de crescimento da economia desde o quarto trimestre de 2017, quando a atividade econômica avançou 2,1%. No primeiro trimestre de 2018, o aumento foi de 1,2% Ainda segundo o IBGE, o PIB do segundo trimestre do ano totalizou R$ R$ 1,693 trilhão.
O resultado ficou dentro do estimado pela pesquisa realizada pelo Projeções Broadcast com 49 instituições. As estimativas variavam entre retração de 0,62% a alta de 0,50%, com mediana de crescimento de 0,10% em relação ao primeiro trimestre do ano.
Setores
O PIB da indústria caiu 0,6% no segundo trimestre ante o primeiro trimestre de 2018. Na comparação com o segundo trimestre de 2017, o PIB da indústria mostrou alta de 1,2%. Já os serviços puxaram o resultado para cima e avançaram 0,3% no segundo trimestre ante o primeiro trimestre de 2018. Na comparação com o segundo trimestre de 2017, o PIB de serviços mostrou alta de 1,2%.
Dentro do setor de serviços, a atividade de comércio teve queda de 0,3%, a maior desde o quarto trimestre de 2016 (-0,7%), enquanto atividade de transportes recuou 1,4%, pior desempenho desde o terceiro trimestre de 2016 (-2,1%). Segundo a gerente do IBGE Claudia Dionisio, tanto o comércio atacadista quanto o transporte de cargas, que são justamente a parcela dessas atividades mais demandadas pela indústria, puxaram o desempenho para baixo. "Dentro dos serviços, transporte e comércio foram afetados pelo desempenho da indústria", afirmou.
O consumo das famílias ficou praticamente estável no segundo trimestre ante o primeiro trimestre de 2018. Na comparação com o segundo trimestre de 2017, o consumo das famílias mostrou alta de 1,7%.
O consumo do governo, por sua vez, subiu 0,5% no segundo trimestre ante o primeiro trimestre de 2018. Na comparação com o segundo trimestre de 2017, o consumo do governo mostrou alta de 0,1%.
A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que mede os investimentos, caiu 1,8% no segundo trimestre ante o primeiro trimestre de 2018. Na comparação com o segundo trimestre de 2017, a FBCF mostrou alta de 3,7%.
Repercussão
Para o governo, os números do PIB que mostram a economia estagnada foram influenciados pela greve dos caminhoneiros e incertezas eleitorais. De acordo com assessores do Palácio do Planalto, o presidente Michel Temer já aguardava o resultado. O ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, disse que a atividade "mostrou-se capaz de absorver o tranco". "Veja os dados do mês", afirmou ao Estadão/Broadcast.
O ministro da Secretaria de Governo da Presidência, Carlos Marun, por outro lado, considerou o resultado como uma "vitória". "Em um momento em que não conseguimos aprovar a Reforma da Previdência, em que Lula [ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)] e Bolsonaro [Jair Bolsonaro (PSL)] lideram as pesquisas [de intenção de voto] e com uma greve de caminhoneiros pelo meio, penso que não termos uma variação negativa do PIB é uma vitória", disse Marun à reportagem.
Já para o economista-chefe da Mapfre Investimentos, Luis Afonso Lima, o desempenho não pode ser considerado positivo. "O PIB foi ruim quantitativamente e pior ainda qualitativamente", disse. "Pelo aspecto quantitativo, estamos vendo uma desaceleração do PIB em relação a trimestres anteriores, ou seja, aquela hipótese de que haveria uma recuperação neste ano está se frustrando", afirmou.
O economista lembrou da greve dos caminhoneiros. "Pelos dados de exportação e importação, a redução de maio não foi recuperada em junho. Além disso, os dados de julho que já saíram da balança comercial não estão sendo bons", disse Lima.
Segundo o economista-chefe do Banco Safra, Carlos Kawall, ex-secretário do Tesouro Nacional, a paralisação deve tirar algo como 0,2 ponto porcentual do PIB deste ano. "Se não fosse a greve, o PIB do segundo trimestre poderia ser o dobro. Mas evidentemente que a recuperação é muito lenta e se soma às incertezas eleitorais, que têm segurado o investimento. O mercado de trabalho (desaquecido) tem limitado a expansão do consumo."
Por enquanto, o Safra projeta alta de 0,7% para o PIB do terceiro trimestre. Para o fim do ano, a projeção é de expansão de 1,5%, mas com possibilidade de ser reduzida para baixo. "As condições financeiras passaram a ficar mais apertadas e apontando claramente para menos expansão da economia. Pode ter efeitos importantes. Há riscos para o PIB do terceiro trimestre e para o do ano", explica.
Para sócio-diretor da Macrosector Associados, Fábio Silveira, o resultado foi uma grata surpresa porque mostrou crescimento da economia mesmo depois do forte impacto exercido pela greve dos caminhoneiros sobre a atividade no mês de junho. Para Silveira, a alta de 0,2% no período em análise mostra que a economia está crescendo em linha com a projeção de expansão feita pela Macrosector, apontando para uma expansão de 1,8% este ano.
"O próximo presidente da República não vai pegar um País tão ruim. Em meio a tantas notícias ruins, o PIB mostra que tem coisas boas acontecendo na economia brasileira", disse Silveira.
Revisão
O IBGE revisou o PIB do primeiro trimestre de 2018 ante o quarto trimestre de 2017, que passou de alta de 0,4 % para aumento de 0,1%. O órgão também revisou a taxa do PIB do quarto trimestre de 2017 ante o terceiro trimestre de 2017, de 0,2% para estabilidade (0,0%).
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