RIO, BRASÍLIA E SÃO PAULO - A economia cresceu 1,1% em 2018, o mesmo ritmo de 2017, frustrando expectativas que apontavam, no início do ano passado, para um avanço médio de 2,8%. Após o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmar nesta quinta-feira, 28, o modesto avanço no Produto Interno Bruto (PIB, a soma de todo o valor gerado na economia) do ano passado, analistas cortaram as projeções para 2019. Agora, na média, as apostas apontam para um crescimento de 2,05% este ano, ante 2,4% duas semanas atrás, como mostraram as pesquisas do Estadão/Broadcast.
Dois anos após o fim da recessão, a atividade econômica ainda está 5,1% abaixo do pico do início de 2014, configurando a mais lenta recuperação em 40 anos, nas contas da LCA Consultores. Para Mônica de Bolle, pesquisadora do Instituto Peterson de Economia Internacional, em Washington (EUA), o Brasil poderá experimentar uma nova década perdida, recuperando as perdas apenas em 2021 ou depois.

Segundo a economista, a “destruição de capacidade produtiva” causada pela política econômica do governo Dilma Rousseff (PT) e pelos efeitos das investigações sobre corrupção nos setores de petróleo e construção ajudam a explicar a lentidão. “Não tem como a recuperação ser rápida”, disse, citando ainda a crise política iniciada nas eleições de 2014.
Previdência
O secretário de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, afirmou que o crescimento pode chegar a 2,9% se a reforma da Previdência for aprovada, mas diversos analistas demonstraram ceticismo.
Para a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, a economia tem problemas estruturais. Ela defende a reforma da Previdência como “primordial” e frisa que juros mais baixos, como sugerem alguns economistas, poderiam ajudar, mas as duas medidas não impulsionariam a atividade. “Fica uma coisa de que basta melhorar a confiança para o empresário sair investindo. Não é bem assim.”
A frustração em 2018 foi forjada, mês a mês, com o agravamento da crise econômica na Argentina, a greve dos caminhoneiros, em maio, as incertezas do período eleitoral e a persistência do desemprego. No ano passado, o crescimento foi menos concentrado na agropecuária do que em 2017. O PIB industrial teve a primeira alta desde 2013, mas o avanço de apenas 0,6% foi minado por uma freada no segundo semestre. O crescimento de 4,1% nos investimentos foi inflado por uma questão contábil. A alta de 1,9% do consumo das famílias foi o motor do crescimento, porém os dados de emprego e renda não animam.
Em relação a 2018, economistas também ressaltam a diferença entre a expectativa de crescimento no início do ano, quando o Relatório de Mercado Focus, que reúne previsões semanais do mercado financeiro para a economia, chegou estimar um avanço de 2,92% e o crescimento de 1,1% divulgado nesta quinta-feira, 28.
O resultado anual ficou no piso das expectativas coletadas por 48 instituições consultadas pelo Projeções Broadcast. As casas previam um crescimento que variava de 1,1% a 1,35%, com mediana de 1,20%.
No quarto trimestre do ano passado, ainda que alguma desaceleração do PIB fosse esperada depois de um terceiro trimestre atípico, com a reversão dos danos da greve dos caminhoneiros e efeitos da liberação do PIS/Pasep, o desempenho efetivo da atividade no fim do ano ficou aquém do previsto pelos economistas, principalmente diante do avanço dos indicadores de confiança. Essa fraqueza do quarto trimestre acende um alerta para o ritmo de crescimento no começo de 2019, segundo economistas.
O avanço de 0,1% no último trimestre do ano ficou dentro das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast, que previam um recuo de 0,20% a um avanço de 0,36%, com mediana positiva de 0,1%.
Desempenho dos setores
O IBGE registrou desempenho positivo em 2018 nas atividades da agropecuária (0,1%), da indústria (0,6%) e dos serviços (1,3%).
No primeiro setor, que teve resultado recorde em 2017, os números foram puxados pela agricultura, com destaque para café (29,4%), algodão (28,4%), trigo (25,1%) e soja (2,5%). Houve quedas nas lavouras de milho (-18,3%), laranja (-10,7%), arroz (-5,8%) e cana (-2,0%).
Na indústria, o destaque foi o segmento de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos, que cresceu 2,3%ante 2017. Por outro lado, a construção teve retração de 2,5% em 2018 - foi o quinto ano seguido de queda.
Segundo Rebeca, o segmento de infraestrutura, diretamente atingido pelos cortes no investimento público, é o principal responsável pelo desempenho negativo do Produto Interno Bruto (PIB) da construção civil. "Quando (os governos) têm que cortar, o investimento é o primeiro a ser cortado porque não é despesa obrigatória". Ela ainda apontou que a queda da construção foi a menos intensa dos últimos 5 anos.
Com o bom resultado nos segmentos de veículos automotores, papel e celulose, farmacêutica, metalurgia e máquinas e equipamentos, as indústrias de transformação cresceram 1,3% no ano.
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Em serviços, todas as atividades tiveram variação positiva, com destaque para atividades imobiliárias (3,1%), comércio (2,3%) e transporte, armazenagem e correio (2,2%).
Entre os componentes da demanda interna, o consumo das famílias cresceu 1,9% e os investimentos, 4,1%, depois de quatro anos no negativo. O consumo do governo se manteve estável (0,0%).
As exportações de bens e serviços cresceram 4,1%, enquanto as importações subiram 8,5%.
Setor externo contribuiu negativamente para o PIB
O setor externo contribuiu negativamente para o PIB brasileiro em 2018, ressaltou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE. As importações cresceram 8,5% em 2018, enquanto as exportações aumentaram 4,5%.
"A importação está crescendo mais que a exportação. Aqui tem a ver, por exemplo, com a agropecuária, que diante da safra recorde no ano 2017, exportou bem menos em 2018 do que em 2017. E além disso a crise da Argentina afetou muito as exportações, porque é um dos principais parceiros comerciais do Brasil", justificou a pesquisadora.
Segundo Rebeca, o PIB poderia ter crescido mais em 2018, não fosse a contribuição negativa do setor externo, que ocorreu a despeito da desvalorização do real ante o dólar.
Pela ótica da demanda, o avanço de 1,9% no Consumo das Famílias foi o que puxou o PIB no ano passado. "O mercado de trabalho está melhorando, mas realmente a renda não cresce tanto. A renda está crescendo em ritmo muito lento. Então essa melhora, mesmo que seja pequena, já ajuda o consumo das famílias", explicou Palis.
Para a pesquisadora, se todo trabalhador que está entrando no mercado de trabalho tivesse carteira assinada, a renda estaria crescendo mais. Ela lembra que, por enquanto, nem a economia nem o consumo das famílias cresce no mesmo ritmo que cresciam antes da crise.
Revisões
O IBGE revisou o PIB do terceiro trimestre de 2018 ante o segundo trimestre do ano, de 0,8% para 0,5%. O órgão também revisou a taxa do PIB do segundo trimestre de 2018 ante o primeiro, de 0,2% para 0,0%.
A taxa do primeiro trimestre de 2018 ante o quarto trimestre de 2017 saiu de 0,2% para 0,4%. Já o resultado do quarto trimestre de 2017 ante o terceiro trimestre de 2017 passou de 0,2% para 0,3%.
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Ranking
O Brasil ficou na 40ª posição em um ranking de crescimento econômico de 2018 com 42 países, informou na quinta-feira a consultoria Austin Asis. O crescimento de 1,1% do Produto Interno Bruto (PIB) consolidado de 2018 colocou o País abaixo da média global de 3,7%.
A distância para os países emergentes do grupo Brics, que, além do Brasil, reúne China, Rússia, Índia, África do Sul, foi ainda maior. A média de crescimento no grupo foi de 5,1%. A Índia lidera o ranking, com alta estimada de 7,5% no ano, seguida pela China, cujos dados, já divulgados, mostram alta de 6,6% em 2018.
“O resultado da Índia advém da política voltada para os investimentos. A Índia investe cerca de 30% a 40% do PIB, tendo em vista sua necessidade a absorver toda a mão de obra entrante no mercado, contribuindo para o forte crescimento do PIB”, afirma o economista da Austin Asis, Wellington Ramos, frisando que os EUA também já colhem os resultados das medidas de estímulo ao emprego e de queda da carga tributária, tomadas no fim de 2017.
A exemplo do que aconteceu com o Brasil, no último trimestre de 2018, o ritmo de crescimento nos países pesquisados diminuiu. Na comparação com o terceiro trimestre, a média de crescimento do grupo de 42 países ficou em 2,7% - o PIB brasileiro avançou 0,1% no quarto trimestre ante o terceiro: “O destaque do ranking é a recuperação dos países europeus que passaram por crise (em 2011), como Espanha e Portugal. Em uma década, já conseguiram se recuperar e já crescem mais do que o Brasil”. /VINICIUS NEDER, DANIELA AMORIM, RENATA BATISTA, ADRIANA FERNANDES, IDIANA TOMAZELLI, RENATA PEDINI e FRANCISCO CARLOS DE ASSIS