Saiu o PIB de 2009. Menos 0,2%. Para o IBGE, não houve, de fato, recuo. Ela estagnou. É um resultado bom, considerando que o mundo afundou numa recessão da ordem de 4%, da qual ainda não saiu. Menos 5% na Alemanha; na zona do euro, menos 4%; Grã-Bretanha, menos 4,8%; Japão, menos 5%. Os Estados Unidos, 2,4%, só agora dão indícios, voláteis, de recuperação, ainda insustentável, mesmo com juros quase zero e mais de US$ 1 trilhão injetado na economia. Só China (8,7%), Índia (6,1%), Peru (0,9%) conseguiram crescer. E o Brasil, com menos 0,2%, saiu-se bem nesse cenário desalentado, em que já se dá o ano como perdido. Mais significativo, a economia brasileira começou crescendo em 2010, num ritmo muito forte, superior a 8% ao ano, lembra Ilan Goldfajn, ex-diretor do Banco Central e economista-chefe do Itaú Unibanco. Está tão bom que vamos ter de desacelerar para estender o ciclo. Ou seja, se melhorar, piora.Alguns gaiatos fizeram brincadeira sobre o PIB da marolinha... Pois foi o PIB da marolinha, sim, porque a equipe econômica se antecipou e levantou barreiras antes que a inundação chegasse. Nos países desenvolvidos, EUA, Europa, Canadá, Japão, todos, enfim, foi um tsunami.Mérito do presidente? Não, de todos, do Banco Central, que operou com brilhantismo; da equipe econômica, que agiu enquanto os outros ouviam os "acadêmicos"; do sistema financeiro, do setor privado; que, mesmo não tendo investido na crise, respondeu logo aos menores estímulos do governo.O cenário, hoje. Mas esta coluna quer mesmo é apresentar uma panorâmica de 2009 e o que pode acontecer este ano. Há muitos dizendo muito, mas não vi ninguém resumindo esse quadro. A pergunta é, e agora? O PIB não desmoronou como na Europa e nos EUA principalmente porque, após o primeiro choque, o governo adotou a política de estimular o consumo para manter a atividade econômica e conter os efeitos sobre o emprego, que chegou a 2 milhões de pessoas.Os consumidores confiaram, receberam bem a redução de impostos, facilidade de financiamento. Voltaram comprar. Mas isso só foi possível porque desde 2003 o governo já vinha adotando a política de dar prioridade ao mercado interno, com aumento de renda, de 3%, 4% ao ano, salário mínimo acima da inflação, salário-família...As vendas no varejo vinham crescendo, até 2008, a uma taxa anual de 10% ! Com a crise, o consumo caiu drasticamente. Mas cresciam muito havia vários anos, e o impacto da recessão foi menor. Apesar da crise, continuou crescendo quase 5%. E em plena recessão! Em 2009, como um todo, o consumo das famílias ainda aumentou 4,1%. Ou seja, não foi pior só porque estava bom demais. O sistema financeiro ajustou-se a essa nova situação, embora demorasse um pouco e tivesse de ser provocado pelos bancos oficiais. Em 2009, o setor de serviço, que inclui o financeiro, cresce 2,6%.Erros e riscos. As famílias vão continuar consumindo, mesmo com a retirada de alguns incentivos oficiais, sustentando o crescimento dos dois últimos trimestres? A resposta é sim, desde que se corrijam algumas falhas graves, que as estatísticas do IBGE revelam, com clareza: o setor privado precisa voltar a investir. Em 2009, houve recuo de 9,9%! Como o consumo interno continuou aumentando, podemos atribuir esse péssimo resultado à queda de 10,3% nas exportações. Ao mesmo tempo, importamos a preços menores , reduzindo pressões na inflação, mas destruindo empregos, também.Aqui, a falha mais flagrante não foi só a acomodação de importantes setores industriais, mas do governo, que, ainda hoje, não vê o mercado exterior como prioritário. Está confiando muito no mercado interno. É um erro. Por que? E aqui fechamos o ciclo que vínhamos seguindo.O mercado interno só poderá seguir nesse ritmo se houver aumento de produção, e só haverá aumento de produção se houver investimento. E não está havendo. Esse é um dos pontos mais frágeis da economia, que os números do IBGE revelam com muita clareza. Já há pressões da demanda sobre a inflação e poucos duvidam de que o Banco Central vai aumentar os juros logo, talvez até este mês, refletindo na demanda e no crescimento.Não adianta a Fiesp dizer que há capacidade ociosa, que há produção para atender ao mercado interno e exportar, ficar só protestando contra o aumento dos juros. Eles são consequência, não causa. Imaginem o que acontecerá se o real se desvalorizar - como a Fiesp tanto pede - e as exportações se tornarem mais rentáveis...Vai sair todo mundo reconquistado mercado. Mas onde está a produção?O governo tem de pensar numa política de investimento com urgência, pois qualquer medida de incentivo tributário, fiscal ou monetário leva tempo para fazer efeito.