PARIS - Antes comuns apenas na Grécia, as cenas de violência entre a polícia e grupos de manifestantes contrários à política de austeridade chegaram agora à Espanha. Ontem, em Madri, pelo menos 13 "indignados" ficaram feridos e outros 20 foram presos durante um protesto que resultou no sítio do prédio do parlamento, onde novas medidas de rigor vêm sendo discutidas nessa semana. A multidão pedia a demissão do primeiro-ministro, Mariano Rajoy, que deve anunciar na próxima quinta-feira um novo pacote de aumento de impostos e de cortes de custos e investimentos públicos.
A manifestação, chamada 25-S - em alusão à sua data - vinha sendo convocada desde agosto nas redes sociais. Só no Facebook, mais de 50 mil pessoas teriam deixado mensagens aos vários grupos que participavam do movimento "Ocupe o Congresso". Desde que o apelo à mobilização foi lançando, o governo temia protestos de massa. Ontem, eles aconteceram. Enquanto porta-vozes de Rajoy falavam em 6 mil manifestantes, as imagens veiculadas pela imprensa mostravam uma multidão muito maior concentrada na Praza Neptuno, junto ao parlamento.
Com gritos de ordem, os "indignados" denunciaram os "desmandos" dos mercados financeiros e o "sequestro da soberania do povo pela troica" - o grupo formado por técnicos da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu (BCE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI). Outros grupos pediam "um Congresso mais representativo". No final da tarde, aconteceram os primeiros confrontos, supostamente porque um sindicalista teria escalado a barreira de segurança para afixar uma bandeira do Sindicato Andaluz de Trabalhadores.
As imagens registradas pela agência Reuters mostraram a seguir agentes das Unidades de Intervenção Policial (UIP), as tropas de choque espanholas, dispersando a massa a golpes de cacetetes e prendendo manifestantes de maneira aleatória. Em menor número, os policiais foram encurralados. Os "indignados" reagiram com chutes e socos e jogando objetos nos agentes que haviam feito prisioneiros.
Depois dos primeiros enfrentamentos, os efetivos policiais foram reforçados com mais 1,3 mil homens, mas as manifestações continuaram até depois das 21h30, horário local (16h30 em Brasília).
Delações. Os protestos se intensificaram na Espanha nessa semana, depois de semanas de ameaças dos indignados e do governo. Na semana passada, a polícia chegou a criar um endereço eletrônico para receber denúncias de atos de vandalismo que pudessem estar sendo planejados. Pressionados, os secretários de Estado do Partido Popular (PP) de Mariano Rajoy saíram em defesa do premiê. "A última vez em que o parlamento foi cercado e tomado foi na tentativa de golpe de Estado", comparou Maria de Cospedal, secretária-geral do partido, referindo-se aos eventos de 1981.
Resgate. A mobilização na Espanha vem crescendo na mesma medida em que o governo de Rajoy se aproxima de um pedido de socorro a Bruxelas. Essa perspectiva cresceu quando o presidente do BCE, Mario Draghi, estabeleceu o pedido de socorro ao Mecanismo Europeu de Estabilização (MEE) como uma condição prévia à compra de dívidas públicas de um país em crise pela autoridade monetária. A condição, que surpreendeu Espanha e Itália, ampliou a pressão nos bastidores sobre Rajoy para que ele aceite o socorro - e a intervenção da troica.
No final da semana passada, o comissário europeu de Concorrência, o espanhol Joaquin Almunia, defendeu o pedido de auxílio. "O risco é que a incerteza custe mais caro que as decisões tomadas", afirmou na última reunião do fórum de ministros de Finanças da zona do euro (Eurogrupo). "As autoridades espanholas devem tomar uma decisão sobre o eventual resgate. O mais arriscado é manter a incerteza."
Até o fim da semana, o premiê espanhol ainda brigava contra essa hipótese, anunciando um novo plano de rigor para a quinta-feira. Nessa cruzada, tinha o apoio de Wolfgang Schauble, ministro de Finanças da Alemanha. "A Espanha não precisa de um plano porque ela faz o que precisa e porque vai ser bem sucedida", disse ele. "O que a Espanha precisa é a confiança dos mercados financeiros."