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Presidente do BB: ‘Estamos fechando o cerco para que outros bancos não levem nossos clientes’

Fausto Ribeiro afirma que relação com outros bancos é cordial; no segundo semestre, BB superou seus pares privados e teve lucro recorde de R$ 7,8 bilhões

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Por Matheus Piovesana (Broadcast)
Atualização:

Com cerca de 80 milhões de clientes e crescendo, o Banco do Brasil é cioso de sua posição de mercado. Há um ano e quatro meses na presidência da instituição, Fausto Ribeiro acredita que parte da fórmula que levou ao maior resultado trimestral da história do banco veio de uma visão que busca, em resumo, evitar que os clientes vão embora apenas para ganhar taxas mais altas em produtos isolados.

“Ao olhar o retorno ajustado pelo risco (RAR), no passado, deixávamos de fazer algumas operações. Quando você enxerga o RAR do cliente, que é o RAR ampliado, começa a olhar isso sob outra perspectiva.”, disse ele ao Estadão/Broadcast, em entrevista concedida na sede paulista do banco público. “Se eu o deixo (cliente) ser abordado por outro banco, abro uma janela arriscada. Nós tentamos fechar o cerco.”

O presidente do Banco do Brasil, Fausto Ribeiro. Foto: Alan Santos/PR

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Com o lucro crescente, investidores costumam testar o BB sobre possíveis aumentos da distribuição de dividendos. Neste ano, o governo se juntou ao coro. O BB disse não, e Ribeiro nega pressões. “Nunca houve qualquer pressão por parte do governo para pagarmos mais dividendos. Existe total independência.”

O executivo destaca que a relação com os concorrentes é ótima, a despeito da rivalidade de mercado - e de posições por vezes opostas. Isso se estende à Caixa, desde junho presidida por Daniella Marques. “Somos bancos, e naturalmente concorremos. O importante é ter cordialidade e respeito.”

Para o mercado, a principal missão do banco é manter a rentabilidade acima dos 20% mostrados no segundo trimestre. Ribeiro tem dito que isso é possível graças tanto à postura cautelosa do BB quanto pela pujança do agronegócio, em que tem confortável liderança. “O mercado subestima (o banco) há muito tempo. Tenho dito que o Banco do Brasil é um celeiro de craques”, diz ele, funcionário da instituição há 34 anos.

Veja, a seguir, os principais trechos da entrevista.

Você disse que o BB deve buscar mais parceiros no exterior. Já há discussões?

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Para expandirmos o negócio, precisamos ter opções. Tem um número do Banco Central, de que existem US$ 204 bilhões declarados de brasileiros no exterior, em patrimônio. Olha o tamanho desse mercado. Montar uma assessoria qualificada no exterior requer tempo e investimento. Quem tem isso pronto? Grandes players: JPMorgan, Principal, a própria UBS. Como tínhamos uma parceria com a UBS, pedimos para que nos abrissem a porta no mercado americano. Mas a ideia é não ter exclusividade. Primeiro vamos desenhar o processo com a UBS, e com a experiência, abrimos o leque.

Todo mundo está tentando resolver isso via aquisições. O BB não?

Nós já temos o nosso banco, que tem a porta com os empresários brasileiros. Do que os investidores precisam? De um banco, da corretora, que é a BB Securities, e de um advisory.

Como está a busca de um sócio para a BB Asset?

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Temos a estratégia de encontrar um parceiro estratégico, de porte internacional, para termos reações mais rápidas, que possam melhorar a gestão em termos de ferramentas, trazer tecnologia e essa internacionalização. O processo avançou, e (o resultado) deve sair até o final do ano.

Os bancos têm dito que não veem sustos na qualidade de crédito de grandes empresas, mas vemos algumas com dificuldades. O BB se preocupa?

Não tem nada grave. A fase ruim já foi, na época das grandes construtoras, que fizeram com que os bancos recuassem. Nas demais, o banco fez um negócio bem amarrado: temos o fluxo de caixa, fazemos a folha de pagamento. A empresa não abre a porta se você não dá crédito, e nós tentamos, em seguida, trazê-la para o ecossistema. No agro é a mesma coisa, as commodities estão lá em cima. Pressiona a inflação, mas o Brasil gera uma riqueza tremenda, nossa balança comercial está ótima. Isso é um bom sinal, e em algum momento vai servir para atenuar pressões. E por outro lado, capitaliza os agricultores.

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E o banco pode vender mais produtos a ele?

O agricultor capitalizado amplia sua área de produção, investe em equipamentos e pode buscar alternativas de produção. Ele compra casa, carro. Quando começamos a gestão, mudamos alguns conceitos. Ao olhar o retorno ajustado pelo risco (RAR), no passado, deixávamos de fazer algumas operações. Algumas parecem trazer menos rentabilidade, mas o agricultor também compra máquina, revende, paga salário, compra casa, tem cartão. Quando você enxerga o RAR do cliente, que é o RAR ampliado, começa a olhar isso sob outra perspectiva. Quando cheguei, estávamos em sétimo lugar no câmbio. A briga por taxa no câmbio é dura, e o cliente vai buscar a mais baixa. Se eu o deixo ser abordado por outro banco, abro uma janela arriscada. Um bom vendedor, do outro lado, começa a oferecer outras coisas. Nós tentamos fechar o cerco. Admitimos uma rentabilidade um pouco menor, mas voltamos ao primeiro lugar no câmbio.

O volume das operações é o resultado de o banco abrir mão de margem para manter o cliente?

Abriu mão de um pedacinho da margem para ter todo o negócio. É uma visão ampliada. Talvez isso seja um segredo para termos conseguido fazer bons negócios.

Quem está atacando no agro?

Hoje, são 22 instituições. Na outra safra, o banco tinha R$ 205 bilhões de carteira - hoje, está com R$ 262 bilhões. Tínhamos o Banco do Brasil com uma larga vantagem, em segundo o Bradesco, em terceiro o Itaú, em quarto, o Santander, e aí vinham as cooperativas. Depois, a Caixa. Vejo com muito bons olhos a concorrência. O mercado agro não é fácil. Nosso histórico é muito antigo, nossas primeiras operações datam do primeiro ciclo do café. Em 1954 nasceu o primeiro manual de crédito agrícola, dentro do Banco do Brasil. Tivemos ciclos bons e ciclos ruins. Os agricultores já quebraram várias vezes, e o banco tem experiência para ajudá-los. Temos uma esteira muito rápida. Chegamos a processar 7 mil transações em um dia. Fizemos 625 mil transações na última safra.

Como tem sido o diálogo com a Caixa?

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Ribeiro - Sempre mantive um diálogo respeitoso e cordial com a Caixa. Tenho procurado auxiliar a Daniella (Marques), porque ela chegou agora. E ela abraçou uma campanha muito bonita. Criamos o BB pra Elas enquanto ela era secretária do Ministério da Economia, e estava conosco no projeto. O movimento deu tão certo que ela se inspirou, e vai fazer um projeto muito bonito na Caixa.

Vocês já discutiram negócio?

Não deu tempo. Primeiro, ela precisa conhecer a casa, entender a dinâmica de funcionamento, e apaziguar algumas situações. Mas é uma relação positiva. Somos bancos, e naturalmente concorremos. O importante é ter cordialidade e respeito.

E com os privados, como tem sido a relação?

Muito boa. (Octavio de) Lazari (do Bradesco), somos sócios em vários negócios, o Milton (Maluhy, do Itaú) também. Não tenho o menor problema com eles. Concorremos, mas nos respeitamos.

BB e Bradesco levaram nomes para a Cielo, para o posto de CEO?

Foi contratada uma empresa de headhunters. Estamos analisando os nomes, e em breve vamos bater o martelo.

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O BB discute fechar o capital da Cielo?

Não passa pela nossa cabeça, temos outras coisas para resolver. O que queremos na Cielo e nas empresas que temos com o Bradesco é que sejam protagonistas.

Alguma delas está abaixo do potencial?

Com a Cielo, estávamos preocupados. Mas o banco e o Bradesco fizeram sua lição de casa.

Na Cielo, há uma dicotomia entre participação de mercado e rentabilidade?

Não. Hoje, o ciclo virou.

Dentro da Cielo, há a Cateno, que tem uma operação do BB. Vocês planejam trazê-la de volta ao banco?

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Não surgiu nenhum tipo de discussão, mesmo porque a Cateno é redonda, está gerando bons dividendos para a Cielo. Está todo mundo feliz.

O BB vinha discutindo a venda de ações de empresas como Elo e BV, mas o mercado fechou. O projeto continua?

A ideia continua a mesma. Se tivéssemos um problema de capital, aproveitaríamos as pequenas oportunidades de mercado, mas não temos. Nossa Basileia está boa, vamos pagar 40% do lucro e reter 60%, preservando o capital necessário para crescer. Se não tivermos o preço que julgamos adequado, não temos pressa. Não precisamos vender a qualquer preço, até porque são ativos muito bons. O BV é uma joia, líder do mercado de veículos.

O BV continua sendo um projeto de desinvestimento?

Continua, mas não faz sentido vender sem uma janela boa. Só vamos nos desfazer de qualquer ativo que eventualmente não seja core (principal) por oportunidades boas de mercado.

A discussão com o governo sobre dividendos se deu em quais termos?

Veio por um ofício para as estatais. Nós recebemos a carta e respondemos via carta. Nunca houve qualquer pressão por parte do governo para pagarmos mais dividendos. Existe total independência. Respondemos dizendo que por várias razões e para fazer frente ao guidance, precisamos preservar capital. Não é um desejo só do governo: todos os acionistas querem mais dividendos. Seria maravilhoso se eu pudesse distribuir 100%, mas como guardião do banco, para mantermos a estratégia, preciso preservar esse capital.

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Como viu a reação aos resultados?

Fiquei muito impressionado. Colocamos o banco para focar naquilo em que sempre foi protagonista.

O banco tem surpreendido o mercado nos últimos trimestres. O mercado subestima o Banco do Brasil?

O mercado subestima há muito tempo. Tenho dito que o Banco do Brasil é um celeiro de craques. Olha o recado que o Brasil nos passou: fizemos um concurso para 2.240 vagas que teve 1,6 milhão de inscritos. Qual vestibular tem essa concorrência? O banco faz um concurso e investe, fazendo com que a mão de obra fique melhor ainda. Temos ineficiências? Claro, mas são poucas.

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