BRASÍLIA - Na contramão do governo, que comemora repetidamente a deflação pontual registrada em julho, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta terça-feira, 23, não celebrar o recuo nos índices de inflação registrados recentemente. “Ainda há muito trabalho a fazer”, afirmou. “Maior parte do trabalho do BC ainda não impactou preços.”
Segundo ele, o histórico inflacionário brasileiro fez com que a autoridade monetária evitasse “fazer pouco” no combate à alta de preços para não correr o risco de o País cair em recessão.
“Todo banco central tenta evitar dois erros: fazer demais ou não fazer o suficiente. Bancos Centrais de países com histórico de inflação menor, como o Chile, podem arriscar mais. No caso do Brasil, temos uma memória muito vívida de inflação alta e estamos sempre tentando evitar o risco fazer pouco e pagar com uma recessão”, afirmou.
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Em participação no 18º International Investment Seminar, promovido pelo Moneda Asset Management, em Santiago, Chile, Campos Neto previu três meses de deflação decorrentes das medidas adotadas pelo governo para baixar o preço dos combustíveis. Mas ressaltou outras variáveis, como questões sobre taxa de equilíbrio de desemprego no Brasil. “Ainda vemos inflação de serviços subindo, com moderação em núcleos”, acrescentou.
O presidente da autoridade monetária defendeu ainda que o ganho de tração da economia também decorre de reformas aprovadas e disse que o emprego tem sido a “grande surpresa positiva” no Brasil.
Para ele, há incertezas fiscais adiante com as eleições, sobre qual será o arcabouço fiscal a ser adotado no próximo governo. Ele ressaltou que parte da melhora fiscal registrada pelo atual governo, com a arrecadação em alta, decorreu da inflação e da mudança de consumo que, com a pandemia, foi direcionado para bens, que pagam mais impostos, em detrimento de serviços, menos tributados.
Energia
O presidente do BC afirmou que a queda nos preços de energia poderá levar a inflação a cair de 9% para 5% ou 4% ao ano. “Já o trabalho de reduzir inflação de 4% para 2% é diferente. Precisamos estar preparados”.
No evento, Campos Neto ressaltou que os preços das commodities começam desacelerar. Ele também ponderou que “está dado” que a economia dos Estados Unidos irá desacelerar e que isso não é questionado pelo mercado. “Devemos nos preocupar se desaceleração dos EUA vier com inflação ainda alta”, completou.
O presidente da autoridade monetária acrescentou que muitos países ainda não estão com a política monetária em “território restritivo”, o que é necessário para controlar a inflação, e que o Brasil começou a subir juros mais rápido. “Os mercados dizem que maior parte do trabalho no Brasil está feito”, afirmou. “As condições financeiras ficaram apertadas muito rápido. Temos que fazer nosso trabalho, condições financeiras são muito voláteis”.
PIB
Campos Neto disse que os países da OCDE estão revisando as previsões de crescimento de suas economias para baixo, enquanto, no Brasil, as projeções estão sendo mudadas para cima. “Boa parte das revisões de PIB para cima no Brasil decorre de medidas do governo”, afirmou.