Cálculos da Previ indicam que quase metade da perda de R$ 14 bi em fundo de pensão veio da Vale

Da perda verificada até novembro, R$ 6,2 bi decorrem de derretimento das ações da mineradora, segundo a Previ; TCU determinou auditoria por suspeitas de má gestão

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Foto do author Mariana Carneiro

BRASÍLIA – A queda no valor das ações da Vale no ano passado respondeu por quase metade da perda de R$ 14 bilhões verificada no fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil (Previ), que está na mira do Tribunal de Contas da União (TCU). Cálculos internos da Previ, aos quais o Estadão teve acesso, indicam que o plano 1 do fundo perdeu R$ 6,2 bilhões com a desvalorização das ações da empresa até novembro.

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As ações da Vale representam 45% do total de ativos em renda variável do plano 1, o mais antigo da Previ, com mais de 106 mil participantes.

É por meio dessas ações que o fundo de pensão exerce influência na mineradora – há dois indicados da Previ no conselho de administração da Vale. Em dezembro, dado mais recente, o fundo de pensão era o investidor de referência com maior participação na companhia, com 8,75% do controle da empresa.

As ações da Vale caíram 23% em 2024, em razão de quedas de preços do minério de ferro no mercado internacional e com a tentativa frustrada de interferência do governo Lula no tumultuado processo de sucessão presidencial da companhia.

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Da perda de R$ 14 bilhões verificada até novembro, R$ 6,2 bilhões decorrem desse derretimento das ações da mineradora, segundo fontes do fundo de pensão estatal.

As ações da Vale representam 45% do total de ativos em renda variável do plano 1, o mais antigo da Previ, com mais de 106 mil participantes. Foto: Fabio Motta

Outro ativo em renda variável que deu prejuízo à Previ foi a Neoenergia, que provocou uma perda de R$ 400 milhões ao plano 1. Outros ativos, como BRF e Petrobras, que também integram a carteira de ações do plano, contribuíram positivamente com R$ 1 bi e R$ 800 milhões, respectivamente – o que ajudou a mitigar o efeito negativo da queda da Vale.

O resultado em renda variável do plano, no entanto, ficou negativo em R$ 5,5 bilhões. Para a Previ, resposta da própria volatilidade que dominou o mercado de ações em 2024.

As contas estão sendo feitas para rebater suspeitas de má gestão levantadas pelo TCU, que na última quarta-feira, 6, determinou uma auditoria “urgentíssima” no fundo de pensão.

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O ministro Walton Alencar Rodrigues afirmou que o desempenho do fundo de pensão em 2024 foi “pífio”, ao registrar uma perda de R$ 14 bilhões no plano 1 até novembro. Em novembro de 2023, o plano era superavitário em R$ 14,5 bilhões. Um ano depois, o resultado passou a R$ 529 milhões.

A Previ é comandada por João Fukunaga, egresso do Sindicato dos Bancários de São Paulo e que chegou ao posto de presidente no atual governo Lula. Sua indicação é atribuída ao ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, também originário do movimento sindical dos bancários.

A escolha de Fukunaga para o cargo foi objeto de processo no TCU, que questionou seu preparo para a função. Deste caso, resultou o pedido de auditoria ainda em agosto. Com a decisão desta semana, o tribunal acelera o processo de pente-fino sobre o fundo de pensão.

A alegação de Walton Alencar é que um eventual prejuízo da Previ pode recair sobre o patrocinador do fundo, o Banco do Brasil, como ocorreu no passado com a Petros (dos funcionários da Petrobras) e o Postalis (Correios).

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A Previ questiona as críticas do TCU, argumentando que a perda de R$ 14 bilhões não levou o plano 1 de previdência ao vermelho – ele segue superavitário, ainda que com uma folga bem menor. Isso afasta o risco de necessidade de contribuições adicionais dos participantes para equacionar um resultado negativo que poderia comprometer pagamentos futuros a aposentados e pensionistas.

A alegação é que, ao contrário de outros fundos de pensão estatais, a Previ nunca demandou contribuição extra de seus participantes, nem nos piores anos da Operação Greenfield, que investigou entre 2016 e 2020 perdas bilionárias dos fundos de pensão ocasionadas por investimentos alinhados à política governamental.

Em 2021, o então procurador-geral da República, Augusto Aras, encerrou a Greenfield com a recuperação de R$ 12 bilhões aos cofres da União, cerca de um quinto das perdas estimadas quando a investigação foi iniciada.