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Produção industrial cai 0,4% em junho ante maio

Dificuldade na obtenção de matérias-primas e consumo familiar afetado pela inflação pesam no índice

Por Vinicius Neder , Guilherme Bianchini e Marianna Gualter (Broadcast)
Atualização:

RIO E SÃO PAULO - Depois de quatro meses de crescimento em ritmo modesto, a produção industrial recuou 0,4% em junho ante maio, informou nesta terça-feira, 2, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A queda evidencia as dificuldades que o setor enfrenta, com restrições na oferta de matérias-primas e a perspectiva de moderação na demanda, principalmente neste segundo semestre.

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“Mesmo no período de quatro meses de crescimento, a indústria seguiu cercada de fatores que traziam dificuldades”, afirmou André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE.

As dificuldades aparecem nos números. Embora o segundo trimestre tenha fechado com crescimento de 0,9%, na comparação com os três primeiros meses do ano, a produção industrial acumulou crescimento de 1,8% nos quatro meses de alta encerrados em maio. Mesmo assim, lembrou Macedo, foi insuficiente para anular a queda de 1,9% registrada em janeiro. O nível da produção está 18% abaixo do máximo já registrado, em maio de 2011.

Entre os fatores que trazem dificuldades, Macedo incluiu tanto restrições de oferta quanto de demanda. No lado da oferta, o pesquisador do IBGE citou a dificuldade na obtenção de matérias-primas. No lado da demanda doméstica, Macedo lembrou que a inflação elevada restringe o consumo das famílias, enquanto a elevação das taxas de juros encarece o crédito.

Alta de juros

O economista-chefe do Banco BV, Roberto Padovani, lembra ainda que a demanda doméstica ainda deverá ser afetada pela desaceleração do crescimento da economia global, provocada pela elevação generalizada de juros, empreendida pelos bancos centrais para conter a inflação que se espalha mundo afora.

“Esse movimento de alta de juros e desaceleração global deve comprometer ainda mais a velocidade de retomada da indústria no segundo semestre - o terceiro pode até ser favorável. O que nos preocupa mais é a partir de outubro”, disse Padovani.

A produção industrial caiu 0,4% em junho ante maio, na série com ajuste sazonal, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística  Foto: Werther Santana/Estadão

João Savignon, economista da gestora Kínitro Capital, ressaltou que “o processo de recuperação do segmento industrial vem de forma bastante heterogênea”. Conforme os dados do IBGE, na passagem de maio para junho, o desempenho negativo foi verificado em 15 dos 26 ramos industriais pesquisados. O pior desempenho ficou com os produtos farmoquímicos e farmacêuticos, com tombo de 14,1%.

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“Do lado mais positivo, o destaque é justamente a parte de veículos, que subiu um pouco mais de 6%, intensificando o crescimento do mês anterior, de quase 4%”, disse Savignon.

Veículos e bens duráveis

A produção de veículos saltou 6,1% em junho ante maio, puxando o avanço de 6,4% na fabricação de bens de consumo duráveis, segundo Macedo, do IBGE. Só que mesmo os desempenhos positivos dão pouca margem para comemorações. Para o pesquisador do IBGE, a indústria automotiva, uma das mais atingidas pela escassez de insumos provocada pelo travamento das cadeias de produção, parece estar passando apenas por ajustes, nos últimos meses, após longo período de desempenhos negativos.

A categoria dos bens de consumo duráveis segue com o pior desempenho entre as atividades industriais, chegando a junho 15,6% abaixo do nível de atividade de fevereiro de 2020, antes da pandemia de covid-19. Antes das altas de maio e junho, essa distância estava em 23,8%.

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Macedo não vê as altas recentes na produção de duráveis e de veículos em particular como uma mudança na trajetória. “A leitura de duráveis ter crescido não garante trajetória sustentada de crescimento”, afirmou o pesquisador do IBGE.

Além disso, lembrou Macedo, a demanda pelos bens de consumo duráveis, como os carros, é mais sensível à elevação das taxas de juros, que deverá ser sentida com mais força neste segundo semestre. Como os duráveis são mais caros, é muito comum que sejam pagos a prazo. Com isso, a decisão de compra por parte dos consumidores é muito atrelada ao valor final das prestações, afetado diretamente pelas taxas de juros.

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