O Brasil vem aumentando a produtividade de sua economia em um ritmo quase duas vezes mais lento que os países que são referência no assunto. O desempenho brasileiro é considerado bom, mas insuficiente para garantir uma vaga no seleto grupo das dez nações mais desenvolvidas.Um estudo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), obtido pelo Estado, mostra que a produtividade da economia brasileira cresceu, em média, 1,3% ao ano entre 1950 e 2009, colocando o País no 11.º lugar entre 100 economias analisadas. No topo, ficaram Japão (2,5%), China (2,3%), Estados Unidos (1,9%), Espanha (1,7%) e Coreia do Sul (1,7%).A produtividade é um importante conceito para medir a competitividade das nações. Quanto mais riqueza é obtida com a mesma quantidade de capital ou o mesmo número de trabalhadores, maior é a produtividade da economia e mais competitivo se torna o país.A evolução do Brasil foi bastante irregular. Segundo o estudo do Iedi, boa parte do avanço da produtividade brasileira está concentrado nas primeiras décadas analisadas, sobretudo nos anos 70, quando o País viveu o "milagre econômico" e a produtividade cresceu 2,1%. O pior resultado foi nos anos 80 - batizada de década perdida - com um aumento pífio, de 0,4%.Mais recentemente, sobretudo no início dos anos 2000, o Brasil voltou a esboçar uma reação com avanço de 1,3% na produtividade. "Nos anos 90, houve um ganho, mas foi tímido. Agora é que o Brasil vem se recuperando e acompanhando o avanço de produtividade dos países do Brics", diz Rogério César de Souza, consultor do Iedi.Na avaliação do economista, o Brasil precisa acelerar o passo e crescer sua produtividade acima de 2%, se quiser melhorar sua posição internacional e se tornar uma economia desenvolvida. "O Brasil não está mal na fita, mas tem muito a trilhar. O País precisa se mirar um pouco na Coreia." O Brasil não seguiu nenhum modelo de produtividade considerado "vencedor". Estados Unidos e países europeus - que já tinham uma industrialização avançada antes da segunda guerra mundial - consolidaram-se como economias ricas nos anos 50 e 60 com fortes avanços de produtividade. Noruega, Finlândia e Canadá tiveram ganhos menos expressivos de produtividade, mas seu desempenho foi constante durante todo o período. Países asiáticos conseguiram "explosões" de produtividade. Na década de 60, a produtividade do Japão cresceu 5,8% ao ano, na década de 80, foi a vez da Coreia do Sul avançar 2,9% anualmente, e, na década de 90, a produtividade da China aumentou 4,7% ao ano. Para o Iedi, uma alta de 1,5% de produtividade é suficiente para um país maduro manter a capacidade de expansão, mas, para uma nação emergente migrar para o clube dos ricos, o avanço teria que atingir mais de 2% ao ano por duas décadas.Heterogêneo. Para o economista David Kupfer, coordenador do grupo de indústria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), um dos maiores desafios do Brasil é reduzir a heterogeneidade da economia em relação a produtividade. "Temos uma elite industrial com padrão internacional e outras atividades precárias, particularmente alguns serviços pessoais", diz.A fabricante de aviões Embraer é um exemplo dessa "elite industrial". A empresa exporta a maior parte do que produz e, por isso, teve que investir em produtividade para concorrer internacionalmente. "Estamos no pelotão de frente em produtividade e lucratividade no setor. Nossa vida é produtividade e inovação", diz Frederico Curado, presidente da Embraer.Um dos desafios da empresa é compensar, através da produtividade, o chamado "custo Brasil". De acordo com Curado, o custo de produzir no País, excluindo os impostos, é duas vezes maior que no Canadá, onde está sediada a Bombardier, arquirrival da Embraer. Está envolvido nesse cálculo custos administrativos, burocráticos e gastos extras por falta de infraestrutura no País.Outros setores encontram mais dificuldade para compensar o custo Brasil via produtividade. Segundo Mário Bernadini, diretor da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (Abimaq), o Brasil era o quinto maior produtor de máquinas e equipamentos do mundo na década de 70. Hoje está na décima posição. "Não é que de repente ficamos incompetentes. O problema é a carga tributária, o câmbio, o custo da mão de obra", disse. Fernando Bueno, presidente da fabricante de compressores Bitzer na América do Sul, diz que a filial brasileira é entre 5% e 10% mais produtiva que a matriz alemã no chão de fábrica, mas mesmo assim tem dificuldades para concorrer internacionalmente. Em 2004, exportava 32% de sua produção. Hoje esse porcentual caiu para 8%. "Nossos insumos, como o alumínio e a energia, estão 40% a 50% mais caros que na Alemanha", diz.