RIO - As estimativas mais recentes seguem apontando para mais uma safra de grãos recorde em 2021, repetindo o feito de 2020, mas a instabilidade do clima já entrou no radar de produtores e pesquisadores. Por causa de problemas climáticos na Região Sul, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) reduziu em 1,1% sua projeção para a safra 2020/2021, no terceiro levantamento de intenção de plantio, divulgado nesta quinta-feira, 10.
Alfredo Guedes, gerente do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), alertou que o clima instável, com menos chuvas do que o normal, traz apreensão. Conforme o pesquisador, as chuvas não só demoraram a chegar, na temporada úmida que começa em outubro em grande parte do País, como ainda estão mal distribuídas.
Tanto a Conab, com projeção de 265,88 milhões de toneladas de grãos, quanto o IBGE, com prognóstico de 256,8 milhões de toneladas, ainda esperam crescimento em relação a 2020, renovando o recorde. A produção de soja puxará o crescimento, consolidando o País como maior produtor mundial da oleaginosa, à frente dos Estados Unidos.
O clima instável já atrasou o plantio da soja, que normalmente ocorre no início da temporada úmida, no fim de cada ano. Isso há havia ocorrido na safra 2019/2020 e se repetiu, com maior intensidade, na safra 2020/2021, disse Guedes, do IBGE. O problema foi parcialmente contornado, até aqui, porque os produtores recorreram ao maquinário para semear a soja e conseguiram recuperar o tempo perdido.
“Os produtores conseguiram plantar numa época boa ainda. A grande questão é se as chuvas vão normalizar”, afirmou Guedes, ressaltando que não basta o período chuvoso começar. “No Mato Grosso, as chuvas não estão bem distribuídas. Chove nuns locais, noutros não. Isso tem prejudicado um pouco o desenvolvimento da soja”, completou o pesquisador.
Mesmo assim, como os produtores recuperaram o tempo perdido no plantio e aumentaram a área dedicada à cultura em Mato Grosso, as projeções ainda são de recorde na soja. O IBGE estima 127,097 milhões de toneladas, 4,6% acima de 2020. A Conab projeta 134,5 milhões de toneladas, alta de 7,7%. Além disso, as projeções de crescimento se sustentam na perspectiva de uma safra mais normal no Rio Grande do Sul - a seca no verão passado provocou uma quebra na safra gaúcha.
Segundo Guedes, para as projeções se confirmarem, é importante que chova de forma regular no plantio e nos meses de desenvolvimento da lavoura. Chuvas em excesso no momento da colheita, que no caso da soja começa em fevereiro, também podem atrapalhar a produção.
A instabilidade do clima leva a apreensão também para a produção de milho, especialmente em sua segunda safra, que é plantada nas áreas que foram ocupadas pela soja até os primeiros meses de cada ano. Entre a colheita da soja e o plantio do milho, há uma “janela” de tempo, explicou Guedes, já que, principalmente no Centro-Oeste, o cereal precisa estar suficientemente desenvolvido para enfrentar o período seco, que começa a partir de abril. Como o plantio da soja nesta safra 2020/2021 atrasou, postergando também a colheita, a “janela” de plantio da segunda safra de milho será menor.
Idealmente, disse Guedes, a soja da safra 2020/2021 precisaria ser colhida o mais rapidamente possível, para dar lugar ao milho. Pata tudo dar certo, as chuvas precisam regularizar ao longo do desenvolvimento da soja, mas não podem ocorrer em excesso na colheita, o que poderá prejudicar tanto a lavoura da oleaginosa quanto o plantio do milho.
“O clima está instável em relação a outros anos. Temos que aguardar um pouco para ver como será o desenvolvimento ao longo dos próximos meses, mas o pessoal está apreensivo”, afirmou Guedes.