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Queda da gasolina alivia a inflação, mas preços de alimentos continuam subindo

Valor do combustível caiu em média 6,5% entre 10 e 16 de julho, mês que deve registrar deflação; alta na alimentação destoa

Por Vinicius Neder , Gabriel Vasconcelos e Denise Luna (Broadcast)
Atualização:

RIO - A redução dos preços da conta de luz, da gasolina e do etanol após a ação do governo para reduzir tributos – tanto federais quanto estaduais – já começou a produzir os primeiros alívios na inflação ao consumidor, mas o encarecimento de outros itens, como alimentos, poderá atrapalhar a sensação positiva.

No caso dos combustíveis, as quedas vêm ocorrendo nas últimas semanas. O preço médio semanal do litro da gasolina no Brasil registrou a quarta queda consecutiva, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O preço do combustível caiu em média 6,5% na semana de 10 a 16 de julho, para R$ 6,07 o litro. Novas reduções deverão vir por aí, já que os governos de São Paulo e Minas Gerais anunciaram nesta segunda-feira, 18, reduções no ICMS sobre o etanol.

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Já no caso da conta de luz, a tarifa de eletricidade residencial recuou 2,29% na segunda semana de julho, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor - Semanal (IPC-S), divulgado na segunda-feira pela Fundação Getulio Vargas (FGV), ajudando o indicador a ficar em 0,24%.

Por outro lado, o preço dos alimentos continua subindo. O grupo Alimentação foi a única das oito classes de despesas que acelerou em julho no Índice Geral de Preços - 10 (IGP-10), também divulgado na segunda-feira, pela FGV.

Na média, os alimentos subiram 1,48%, ante 0,42% em junho. A cadeia do leite foi destaque. O item “laticínios” saltou 8,81%. Apenas o leite longa vida ficou 16,74% mais caro em julho.

Supermercado em São Paulo; preços elevados pressionam o orçamento das famílias, apesar do alívio no combustível. Foto: Daniel Teixeira/Estaadão - 25/3/2022

Redução pontual

Com a queda dos preços de energia e combustíveis, a expectativa dos economistas é de que haja deflação (queda de preços) em julho. Graças às desonerações, economistas do mercado financeiro preveem uma queda de 0,46% no IPCA de julho, conforme o Relatório de Mercado Focus divulgado pelo Banco Central (BC).

André Braz, coordenador dos Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, acha que a queda nos índices de preços ao consumidor poderá chegar a 1%, em julho, “mas será muito concentrado em energia e gasolina”.

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O economista lembra que os combustíveis e a conta de luz, juntos, respondem por cerca de 10% da cesta de compras média. “A ideia é que tanto a queda do diesel quanto da energia segurem um pouco o espalhamento da inflação”, afirmou.

Mesmo assim, há riscos à frente. O principal está associado à perspectiva de alta do dólar com a subida dos juros nos Estados Unidos, o que tende a atrair os fluxos de capital globais para o país, encarecendo a moeda americana no mundo todo. Além disso, no Brasil, a alta do dólar pode ser turbinada por perspectivas de desequilíbrio das contas do governo, lembrou Braz.

O câmbio afeta os preços dos alimentos – milho, soja, trigo e carnes são cotados em dólar, mesmo o Brasil sendo grande produtor. E os preços de alimentos afetam, principalmente, os orçamentos das famílias de menor renda – elas tendem a gastar uma parcela maior de sua renda com esses itens essenciais.

Além disso, o dólar mais caro anularia parte da queda recente dos preços das matérias-primas como minério de ferro, trigo, soja, milho, entre outros, incluindo aí o petróleo, que afeta diretamente os preços de combustíveis.

Conforme Braz, isso poderá fazer com que o alívio nos combustíveis seja mais sentido entre as famílias de maior renda, que possuem carro particular. Já os efeitos indiretos da energia elétrica e do diesel poderão ser pequenos para serem percebidos pela maioria.

As outras pressões vão impedir que o consumidor tenha um otimismo de longo prazo. O consumidor vai continuar vendo o supermercado mais caro”

André Braz, coordenador dos Índices de Preços do Ibre-FGV

“As outras pressões vão impedir que o consumidor tenha um otimismo de longo prazo. O consumidor vai continuar vendo o supermercado mais caro”, disse Braz.

Além de eventual alta do dólar, Maria Andreia Lameiras, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), cita como risco a retomada do setor de serviços no pós-pandemia, na esteira da recuperação da massa salarial. Com negócios como bares e restaurantes voltando a funcionar normalmente, os preços desses serviços poderão voltar a ser reajustados, pressionando os índices de preços ao consumidor nos próximos meses. / COLABORARAM THAÍS BARCELLOS E GUILHERME BIANCHINI

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