O ministro da Fazenda, Guido Mantega, minimizou nesta terça-feira os dados divulgados na segunda pela Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad), que revelaram que o Investimento Estrangeiro Direto (IED) caiu 17% entre 2004 e 2005, um dos piores desempenhos da América Latina. "Não nos preocupa", afirmou o ministro ressaltando que por alguma razão, que ele não soube explicar, esses recursos diminuíram. "Você tem que perguntar para eles", disse Mantega, ao ser questionado sobre os motivos dessa redução no IED. Segundo Mantega, os fluxos de capitais financeiros têm oscilações em determinados períodos de tempo e não têm uma regularidade. "Ano que vem poderemos ter um fluxo maior de investimentos." Ele lembrou que o que está ocorrendo no Brasil este ano é que as empresas nacionais estão investindo no exterior. "Isso é bom e é favorável", disse Mantega. Segundo ele, pelas condições da economia brasileira o fluxo de IED deveria ser maior. "Eu não me preocupo com esses dados sobre investimentos estrangeiros no País, mesmo porque está sobrando capital estrangeiro, que provém do superávit comercial." "As aplicações de curto prazo em juros (estrangeiras), não fazemos questão que venham. Nós queremos que venham os investidores de longo prazo", afirmou. De acordo com o ministro, os investimentos estrangeiros diretos devem voltar a subir em 2007. Ele afirmou ter conhecimento de vários projetos em carteira que já foram aprovados mas ainda não começaram a ser executados. Citou como exemplo a implantação da usina siderúrgica do Ceará, ainda em fase de projeto, cuja estimativa de investimento é de US$ 750 milhões. Também citou a implantação do pólo siderúrgico no Rio de Janeiro, cuja pedra fundamental foi lançado recentemente na presença do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, com investimentos previstos de US$ 2,5 bilhões. "Não acredito que os investimentos estrangeiros diretos estejam abandonando o Brasil", afirmou o ministro. Ele acredita que a queda do IED registrada pela Unctad entre 2004 e 2005 é "fortuita e momentânea". Mantega afirmou que embora não esteja preocupado com esta queda, é desejável que os investimentos diretos continuem acontecendo. Mas destacou que esses investimentos não são mais imprescindíveis para fechar as contas de transações correntes. Mantega disse que a poupança interna está crescendo, o que, segundo ele, é salutar. De acordo com o ministro, a poupança brasileira é capaz de cobrir todos os investimentos brasileiros e ainda gerar um superávit de 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) nas contas de transação corrente. Ele descartou a idéia de que a queda nos investimentos estrangeiros esteja ocorrendo em função das eleições. "Este ano, que é um ano eleitoral, o nível de investimento está crescendo em relação a 2005. Então, não deve ser por causa das eleições (que está caindo)", afirmou. A previsão, segundo o ministro, é de um crescimento de 7% na taxa de investimento este ano. Privatizações Mantega avaliou que está sendo feita uma comparação indevida entre o volume de IED que ingressou no País nos anos das privatizações feitas - durante o governo Fernando Henrique Cardoso - e o que foi obtido em anos posteriores. "Quando se faziam privatizações no País, havia um fluxo grande, porque estavam comprando empresas", disse Mantega. Depois com o fim das privatizações, o fluxo diminuiu. "E, aí, flutua de ano para ano. Depende das oportunidades", disse Mantega. Varejo O ministro afirmou que os dados divulgados nesta terça pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre as vendas no varejo mostram que o nível de atividade econômica no País está muito aquecido. Segundo ele, a sua previsão é de que a economia continuará aquecida até o final do ano. "A economia está crescendo numa velocidade boa. A economia está aquecida mais do que o esperado e vamos continuar assim até o final do ano", afirmou o ministro, há pouco, em entrevista coletiva. Mantega disse que mantém a sua previsão de crescimento do PIB em 4% este ano. Segundo ele, o governo poderá fazer uma alteração dessa previsão após o resultado do PIB do terceiro trimestre. O ministro criticou as projeções de mercado e citou várias delas em relação ao desempenho das vendas no varejo. Segundo ele, as projeções apontavam um resultado muito menor do que o divulgado pelo IBGE. "Quem projetou errou redondamente. Em geral, o pessoal faz projeção da economia olhando para trás", afirmou, reforçando o que tem repetido após a divulgação do resultado do PIB no segundo trimestre. Mantega tem afirmado que as reduções das projeções de crescimento da economia este ano foram feitas olhando o desempenho do segundo trimestre, que foi abaixo do esperado, e não consideram a retomada da atividade econômica no terceiro trimestre. Redução tributária O ministro voltou a prometer reduções de impostos. Em entrevista para anunciar o início do funcionamento do sistema de execução fiscal virtual da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) para a cobrança na Justiça de dívida de tributos federais, o ministro disse que o governo estuda novas medidas de redução de tributos. "Eu já anunciei aqui que estamos fazendo estudo para a redução de tributos no País. É claro que temos que manter um nível de arrecadação", disse Mantega, ao comentar o novo sistema, que vai permitir o ajuizamento eletrônico das ações de cobrança. "À medida que podemos cobrar uma parte da dívida ativa, poderemos cobrar menos de todos os contribuintes", ressaltou. "Se conseguirmos agilizar a cobrança dos devedores, vamos aumentar a nossa arrecadação. Ao aumentarmos a arrecadação, poderemos fazer uma redução tributária mais rápida", disse o ministro. Dívida Mantega afirmou que a estrutura da dívida pública brasileira caminha para uma situação de país avançado. Segundo ele, a tendência continua sendo o aumento da participação de títulos pré-fixados no total da dívida. "É mais do que uma tendência, é uma programação", afirmou o ministro destacando que a estrutura da dívida já mudou radicalmente nos últimos dois anos, com a redução da participação pós-fixada atrelada à taxa básica de juros, a Selic (atualmente em 14,25% ao ano) e o aumento da pré-fixada. Segundo ele, essa é uma nova composição da dívida mais saudável. Matéria alterada às 17h46 para acréscimo de informações