Briefing, aprovação, compra de mídia e remuneração garantida. Os principais grupos de publicidade perceberam que nem todas as empresas vão continuar a trabalhar no tradicional esquema de mercado. É por isso que, especialmente nos projetos digitais, os grandes grupos de comunicação já têm agências que aceitam desenvolver negócios para o cliente e ter boa parte de sua remuneração atrelada aos resultados apresentados por suas inovações.
É um mercado já maduro nos países desenvolvidos e que, nestes tempos de crise, começa a ganhar força no País. No fim de agosto, a agência digital AD.Dialeto foi comprada pela Accenture Digital, que está tentando entrar no segmento (leia mais abaixo). Em setembro foi a vez do grupo WPP adquirir outra empresa que corre risco junto com o cliente, a Jüssi. Agora, o grupo ABC, de Nizan Guanaes, está criando uma nova agência de negócios voltada para soluções digitais, a MuchMore, que será lançada oficialmente nesta semana.
A MuchMore será uma joint venture entre o ABC e a Sodet, empresa de soluções digitais que foi criada dentro do polo de tecnologia Porto Digital, no Recife. A ideia é juntar o conhecimento de publicidade e marketing do grupo de comunicação com a capacidade técnica da Sodet.
A principal meta do novo negócio é criar oportunidades de geração de receita no meio digital. Entre as soluções apresentadas pode estar a melhoria de um projeto de e-commerce ou o uso da internet para levar o cliente a uma loja física. "Vamos ter o formato de parceria, em que vamos correr parte do risco com o cliente", diz Bob Wollheim, diretor de estratégias digitais do grupo ABC, que vai dividir o comando da MuchMore com Teco Sodré, da Sodet.
Participar do negócio do cliente muitas vezes obriga a agência de publicidade a aceitar o risco de operá-lo. É o que faz, por exemplo, a Isobar Brasil para a operadora de TV por assinatura Sky. A Isobar é responsável pelo canal online de captação de clientes da empresa. Isso significa atrair, por meio da publicidade online, potenciais assinantes e repassá-los à operadora. "Somos remunerados, em parte, pelos potenciais clientes que apresentamos e pelos negócios que são efetivamente fechados", conta Abel Reis, presidente da Isobar na América Latina.
Para gerar novas receitas, é preciso que a agência pense "fora da caixa", segundo Marcelo LoBianco, presidente da AG2 Nurun, agência do grupo francês Publicis. Atualmente, a empresa desenvolve para a rede de fast-food Habib's uma ferramenta para aumentar as vendas de quibes e esfihas da empresa com o uso de tecnologias, como a geolocalização.
Na opinião de LoBianco, a criação de um aplicativo de delivery é só o primeiro passo. É necessário que a ferramenta seja capaz também de corrigir deficiências do negócio. No caso do Habib's, explica, uma das ideias é usar a tecnologia para direcionar as promoções mais atrativas para as lojas de menor fluxo no dia. "A tecnologia pode traçar essa jornada do consumidor e ajudar a gerar fluxo para as lojas físicas."
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.