O futuro chegou mais rápido do que poderíamos esperar. E com ele grandes transformações que todos estão destinados a atravessar. Durante muito tempo, o caminho para o sucesso profissional começava com dicas sobre como se vestir e se portar num processo seletivo até uma lista de grandes empresas nas quais seria possível "construir uma carreira" por longos anos. O candidato que desejasse fazer parte de um daqueles times deveria se enquadrar no modelo proposto.
Atualmente, muitas empresas interessadas em atrair jovens talentos abrem mão de exigências, desde os seus códigos de vestimenta tradicionais até os prédios onde operavam, para oferecer um ambiente mais moderno, descontraído e, consequentemente, mais produtivo. É o que já vem acontecendo com empresas do ramo alimentício como Nestlé, McDonald's e até instituições financeiras como o Itaú Unibanco.
Além disso, para atrair esses talentos já não basta apenas que a organização divulgue seus programas de estágio ou trainee no momento da abertura da seleção. É necessário que invista na proposta de valor da oferta de trabalho, mais conhecida como employee value proposition, ou seja, construa uma estratégia para que esses jovens se identifiquem e procurem a colocação dentro destas empresas. Os novos profissionais não buscam mais uma oportunidade ou simplesmente algo rentável, mas uma experiência que proporcione significado de propósito.
Não é à toa que as startups têm atraído a atenção de quase metade dos jovens estudantes. Em 2017, de acordo com o levantamento da Associação Brasileira de Startups, já havia mais de 5.000 empresas neste segmento. Em 2018, o Brasil apresentou seus cinco primeiros unicórnios, jovens empresas digitais que atingiram o valor de US$ 1 bilhão: 99, PagSeguro, Nubank, Stone e iFood.
E, diferentemente do que acontece com as companhias mais tradicionais, onde concorrentes não buscam uma comunicação mais próxima, as startups propõem trocas de experiências entre empreendedores. Outro detalhe interessante é que jovens vêm buscando não só um intercâmbio, mas uma vivência internacional nessas empresas.
Fica claro que a sobrevivência e a expansão dos negócios das companhias deverão ser orientadas para pessoas
Além disso, algumas companhias têm buscado talentos de uma forma bem inusitada: são as chamadas "blind selections" ou seleções às cegas. A Cargill, Votorantim Cimentos, GE Brasil e a Nubank já experimentaram alguns processos como estes. O modelo criado na Europa dita que, mais do que um currículo usual que contenha formação, experiência, idade, estado civil e gênero no início do processo, valem as competências comportamentais e os resultados. Gestores comentam que, ao evitar o pré-julgamento, é possível promover a diversidade e a inclusão, pontos que tornam uma organização muito mais competitiva nos dias atuais.
A tecnologia continua proporcionando um cenário de grandes mudanças. O que hoje é necessário talvez amanhã nem exista mais. De qualquer forma, fica claro que a sobrevivência e a expansão dos negócios das companhias deverão ser orientadas para pessoas. Portanto, quanto mais tecnologia, mais importante será manter o foco nas pessoas.
* Simone Tavit Panossian Vilela é coordenadora do departamento de Gestão de Carreiras da Faculdade Armando Alvares Penteado (FAAP)