Ensino virtual cresce em universidades corporativas

Método de ensino à distância (EAD) chega a quase 90% das empresas que têm universidade, diz pesquisa; empresas apostam na modalidade para economizar custos e alcançar mais funcionários

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Por Sandy Oliveira

Especial para o Estado

Universidades corporativas, criadas em geral em grandes empresas para aprimorar conhecimentos técnicos dos colaboradores, têm adotado nos últimos anos o ensino à distância (EAD) para alcançar mais funcionários. Se em 2012, o EAD (que é virtual) estava presente em 33% das empresas com universidade corporativa, em 2018 a modalidade chegou a 89% das companhias.

Dados da 4ª Pesquisa Nacional sobre Práticas e Resultados da Educação Corporativa, realizada pela Fundação Instituto de Administração (FIA), mostram que, além de ter aumentado a proporção das organizações que possuem práticas de educação à distância, houve redução da proporção dos programas totalmente presenciais.

O perfil das 93 organizações entrevistadas é bem variado. No que diz respeito aos setores de atuação destacam-se: serviços em geral (18%) e energia (8%). Em relação a sua natureza e origem do capital, prevalecem as organizações privadas (74%) e de capital nacional (66%).

Ilustração: William Mur/Estadão 

A pesquisa, encabeçada pela especialista em educação corporativa e professora da FIA Marisa Eboli, mostra que um dos principais motivos para a adoção do ensino à distância é aumentar a base de funcionários atendidos, já que o conteúdo disponibilizado está online.

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No conteúdo virtual, os programas técnicos equivalem a 63%, enquanto os comportamentais são 37%. Outro ponto abordado pelo levantamento para justificar o crescimento do EAD nas corporações é a escala de aplicação e a redução de custos, já que a empresa economiza com as despesas de viagem e hospedagem dos funcionários.

Educação corporativa em empresas menores

Além de constatar o crescimento do ensino à distância em grandes corporações, onde as universidades são comuns, a pesquisa aponta para um incremento da educação corporativa em empresas de menor porte.

É o caso de companhias como a Mandic Cloud Solutions, especializada em serviços em cloud, e a fabricante de piscinas iGUi, que lançaram suas universidades corporativas já totalmente focadas no EAD.

A Mandic Universidade Corporativa (MUC) foi lançada em 2017 e remodelada em formato gamificado (inspirada em jogos) em abril deste ano. A plataforma de treinamento virtual, inspirada no judô, atende os cerca de 250 funcionários da empresa.

A diretora de Pessoas da Mandic Cloud, Vanessa Haba, conta que a plataforma obteve aceitação entre os colaboradores. "Para a nossa surpresa, até os que não são de áreas técnicas estão empolgados com a iniciativa. Por conta do formato didático e lúdico, eles conseguem absorver os conteúdos sem nenhuma restrição", explica.

No caso da UniGUi, universidade corporativa da iGUi, a plataforma foi lançada neste mês totalmente online e foca na formação de colaboradores que vão trabalhar não só na matriz da empresa, mas também em alguma das 800 unidades franqueadas pelo País.

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A plataforma online disponibiliza aos funcionários cursos técnicos de diferentes áreas, em formato "on demand" - o colaborador pode fazer as aulas de acordo com a disponibilidade.

De acordo com a iGUi, estão sendo oferecidos 20 cursos técnicos, entre eles química, elétrica, hidráulica, financeiro e gestão de pessoas, em cinco módulos. Os colaboradores podem acessar a plataforma livremente, conta a idealizadora da UniGUi, Lilian Marques.

O objetivo do ensino nas empresas

Segundo Mary Murashima, diretora de Gestão Acadêmica do Instituto de Desenvolvimento Educacional da Fundação Getúlio Vargas (IDE-FGV), existe um vácuo criado no mercado entre o que é dado nos cursos tradicionais de ensino superior e aquilo que é preciso saber para fazer a diferença no mercado de trabalho. É nesse espaço que entram as universidades corporativas.

"As nossas universidades hoje são extremamente burocráticas. É muito difícil acompanhar todas as pontas de novas pesquisas, todas as necessidades de mercado. É uma espiral muito difícil de acompanhar o tempo todo. Por isso, a universidade corporativa é muito útil nesse processo", explica.

Presentes em grandes empresas, de bancos (como Santander) a grupos farmacêuticos (Sabin), as universidades corporativas têm como diferencial desenvolver nos colaboradores competências que vão dar sustentação para as aptidões estratégicas das organizações.

A especialista Marisa Eboli, colaboradora do Estado, explica que o sistema de desenvolvimento nessas universidades deve ser pautado pelo conceito de competência. "São observadas as competências estratégicas que as empresas têm que ter, e isso é transformado em capacidades que determinados públicos têm que ter. Só então são desenhadas as soluções de aprendizagem que serão aplicadas nas universidades corporativas", conta.

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No Santander, que tem departamento voltado ao ensino corporativo desde 2016, a Academia tem formatos e metodologias online, como vídeos e podcasts de curta duração, além das tradicionais aulas presenciais. Segundo a empresa, a plataforma de ensino teve mais de 1,5 milhão de acessos desde que foi lançada, pelos pouco mais de 45 mil colaboradores em todo o País.

Ainda que levem o nome "universidade", os cursos não têm grade curricular aprovada pelo Ministério da Educação (MEC) nem têm cursos que duram necessariamente quatro ou cinco anos. De acordo com Marisa, o termo universidade corporativa é uma alusão aos três pilares de uma universidade tradicional, só que no âmbito corporativo: pesquisa, ensino e extensão.

"Como não há nenhum compromisso com as formalidades do MEC, a não ser para cursos tipo MBA In Company, não há um padrão definido em termos de carga horária. Pode variar de empresa para empresa, e conforme o público e o tipo de programa", explica Marisa. O mesmo vale para o horário em que os funcionários irão estudar. "Flexibilidade é a tônica das UCs", conclui.