*Por Juliana Nobre Gomes, gerente de Cidadania Corporativa da IBM
A juventude brasileira tem o enorme desafio de liderar o progresso do nosso país no século 21 e precisa de apoio para ser bem-sucedida nessa missão. Não há como negar que as novas tecnologias estão acelerando os processos de transformação da nossa sociedade e precisamos nos preparar para o futuro. Isso não significa que seremos uma legião de programadores, mas que todos nós precisaremos saber navegar pela tecnologia com propriedade, até mesmo questionar o que é colocado à nossa frente. A melhor forma de fazermos isso é focarmos no desenvolvimento de habilidades que nos permitam responder rapidamente às mudanças e continuar aprendendo.
Competências
Em março de 2018, o Banco Mundial publicou um novo relatório sobre "Competências e Empregos: Uma agenda para a Juventude". O estudo aponta a urgência de um olhar pragmático para solucionar a seguinte equação: de um lado o envelhecimento da população somado à modificação das competências necessárias no mercado de trabalho devido à adoção de novas tecnologias digitais por todos os setores. Do outro, alguns jovens desinteressados por aquilo que aprendem na escola e com alto risco de desengajamento econômico, pois não estudam nem trabalham ou, se estudam ou trabalham, dificilmente adquirem competências que os tornem produtivos a ponto de influenciar positivamente o crescimento do País.
A maneira como trabalharmos essas variáveis será responsável por determinar perspectivas de crescimento econômico e inclusão social do nosso país. Não acredito que haja uma reposta única para solucionar os complexos desafios da educação brasileira. Defendo a importância de avançar com inovações que ajudem questões críticas da educação, sejam elas de agora ou do futuro.
Oportunidades
E se tem algo que tem poder de provocar transformações estruturais é a colaboração. O setor privado pode e deve ser um aliado importante para ampliar oportunidades, principalmente quando falamos das novas habilidades conectadas ao impacto da tecnologia.Um modelo que vem ganhando relevância integra o ensino médio, o ensino superior e experiências trazidas por indústrias.
Trata-se do P-TECH, um programa dentro da escola, liderado por professores, e que oferece um itinerário formativo integrado com o ensino superior e com vivências motivadoras para o jovem, a partir da visão de diversos atores da sociedade, de forma organizada.
Conteúdo
Com isso, é possível alcançar o desenvolvimento de competências necessárias ao aluno para o mercado atual e futuro. Outras características importantes do P-TECH são o foco em estudantes historicamente desassistidos e as experiências no mundo do trabalho que garantam oportunidades de aplicar e também ampliar o conteúdo que é ensinado dentro da sala de aula.
A primeira escola P-TECH foi lançada em 2011 no bairro do Brooklyn, uma parceria entre a IBM, a Secretaria de Educação de Nova York e a CUNY (City University of New York). Após a primeira turma ter completado os 6 anos do programa no final de 2017, 99% dos alunos completaram o ensino médio e 55% conseguiram seus diplomas de associate degree, 4 vezes a média nacional das taxas de formação dos community colleges. Hoje, já são quase 100 escolas nos Estados Unidos, com dezenas de outras empresas parceiras, além da expansão para outros países como Austrália, Taiwan e Marrocos.
Ação
Tudo isso está muito distante da realidade brasileira? Particularmente, acredito que não. Criar um caminho favorável para formação do jovem, de forma que ele consiga de fato uma mudança social, deve ser o foco de todos que tenham interesse em ver o Brasil avançar. Um currículo mais atraente que combine as competências cognitivas, técnicas e socioemocionais, além de trazer oportunidades de experiências aplicadas ao mundo do trabalho, pode atuar diretamente em uma das principais causas da evasão escolar no ensino médio que o desinteresse pela escola.
O P-TECH não é uma fórmula mágica, mas uma alternativa que orquestra esforços em uma única direção. No Brasil, temos um legado de muitas décadas de ensino vocacional que trouxeram resultados importantes para o processo de desenvolvimento do País. Por que não aproveitar este conhecimento e expandir as perspectivas de crescimento econômico e inclusão na era digital? Estamos escrevendo nosso futuro hoje. Precisamos definir e trabalhar pelo desfecho da história que queremos contar.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.