No alto da página principal do site do "Wall Street Journal", durante o início da tarde desta sexta-feira, 12, uma das chamadas dizia: "Roubini: Karl Marx estava certo".
Tratava-se do link para uma entrevista em vídeo com o economista Nouriel Roubini, conhecido como Doutor Apocalipse, por ter previsto a crise de 2008. Atualmente, ele parece mais pessimista do que naquela época. Perguntado sobre o que é possível ser feito para que a economia continue caminhando, ele respondeu: "Provavelmente muito pouco".
Ele sugere que os governos dos países em crise deem estímulos de curto prazo para a economia e estabeleçam medidas de austeridade fiscal apenas no médio prazo, com corte de gastos e aumento de impostos.
Mas os governos estão indo para o lado oposto, segundo Roubini, ao defender austeridade fiscal imediatamente. Essa postura, diz o economista, aumenta a chance de recessão e pode levar a um círculo vicioso.
"As empresas reclamam que não podem contratar [funcionários] porque não há demanda. [...] Mas se não se contratam trabalhadores, não se tem renda suficiente, nem confiança do consumidor, nem consumo e nem demanda. Nos últimos três anos isso piorou porque houve uma migração da renda do trabalho para o capital, dos salários para os lucros e a desigualdade aumentou", analisou Roubini.
Mais adiante, acrescentou: "A desigualdade da distribuição de renda tornou ainda pior o problema da excessiva falta de demanda agregada. Então Karl Marx estava certo de alguma maneira. O capitalismo destrói a si mesmo porque não se pode impedir a migração da renda do trabalho para o capital sem ter um excesso de capacidade [de produção] e uma escassez de demanda. A gente pensava que os mercados funcionavam, mas eles não estão funcionando".
Roubini avalia que a chance de uma recessão nos EUA, na zona do euro, no Reino Unido e no Japão hoje é "maior do que 50%".
Culpado
Questionado sobre quem seria o responsável pela atual crise da dívida americana, Roubini respondeu: "Honestamente, a culpa é de George [W.] Bush".
O economista lembra que as contas públicas dos EUA tinham um superávit de US$ 300 bilhões quando o ex-presidente George W. Bush assumiu o poder. Quando saiu da presidência, deixou um déficit de US$ 1,3 trilhão para seu sucessor, Barack Obama.
"Eles [a administração Bush] cortaram taxas, o que não poderia ser feito, em 2001 e 2003, gastaram US$ 2 trilhões em guerras, dobraram os gastos discricionários e adotaram uma abordagem 'laissez faire' que levou à maior crise econômica e financeira da história. Isso gerou um enorme aumento do déficit. Nós [os EUA] destruímos nossa sustentabilidade fiscal".